Quando encontra uma porta fechada, o empresário e atleta outdoor Bernardo Fonseca, 44 anos, dá um jeito de entrar pela janela.
Foi assim em 2005, quando ainda não se falava em trail run no Brasil, que ele decidiu trazer para o país o XTERRA, o maior circuito de esportes off-road do mundo.
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Mas seu sucesso não se restringe apenas ao mundo dos negócios. Ao longo dos anos, Bernardo também construiu uma imagem de perseverança no universo da aventura. Ultramaratonista, ele já completou provas duríssimas, como a Maratona da Antártica, do Everest e de Sables, no deserto do Saara.
Além disso, é figura carimbada em outros esportes extremos como escalada em rocha, paraquedismo, MTB e alpinismo, subindo montanhas como Manaslu, Island Peak, Elbrus e Kilimanjaro.
“Quando comecei não tinha CNPJ, nem nada”, relembra o carioca, que hoje comanda a empresa de marketing e entretenimento X3M, referência no segmento de esportes de aventura, sobre a organização do primeiro XTERRA no país. “Naquela época não existia corrida em trilha no Brasil, foi uma super novidade.”
Triatleta desde os 17 anos, quando completou o primeiro Ironman, seu interesse pelas provas de aventura cresceu ainda mais durante uma viagem para o Havaí, em 2004. Na época, ele vislumbrou o impacto que o XTERRA poderia gerar no Brasil.
“Não entendia como ainda não havia uma edição do XTERRA no Brasil. Fui costurando com os gringos e pedi para alguns amigos produzirem uma apresentação. Vi que tinha um espaço no mercado aqui pra gente expandir e construir”, conta Bernardo, que conseguiu um patrocínio na raça e tornou-se o CEO da principal prova off-road do país.
Mas, antes de realizar a primeira edição do evento, o empresário precisou largar uma carreira estável na mesa de operações do Union Bank of Swiss (UBS) para se dedicar totalmente ao projeto.
“Hoje se fala muito em ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança), mas esse sempre foi o pilar do XTERRA. O Brasil, se não for o maior circuito a nível internacional, é o segundo, comparando só com os EUA. Nós estamos super sólidos e continuamos a construir tendências”, explica.
Bernardo também acredita que o esporte vai muito além da prática. Ele constrói caráter, traz resiliência, e é isso que o move.
“Acho que meu principal propósito é fazer com que as pessoas pratiquem mais esportes. Todo mundo que estiver com esse pensamento, de movimentar a população para produzir qualquer coisa que alavanque as pessoas a praticarem mais esportes, eu estou junto”, avalia o empresário, que equilibra seu tempo entre expedições e a carreira como CEO, investidor, palestrante e empreendedor.
Corrida no DNA
Sob o comando de Fonseca, a X3M promove todos os anos dezenas de experiências esportivas pelo país, com centenas de colaboradores por evento e milhares clientes envolvidos. Quem vê Bernardo na correria do trabalho pode até não imaginar que ali está um superatleta instigado por desafios desde a infância.
Quando tinha apenas 12 anos, a distância de uma maratona separava a porta da fazenda onde estava até a cidade de Abaeté, no interior de Minas Gerais. Inquieto como sempre, Bernardo decidiu lançar uma aposta para o tio. “Duvida eu correr sozinho até lá?”.
Avaliando os mais de 42 km da jornada, a dureza do terreno e a inexperiência do “competidor”, o tio provocou: “Vou te deixar um copo cheio d’água na metade do caminho”. Só que Bernardo estava falando sério. Ele partiu sozinho, varou estradas de terra, encarou o calor, se perdeu, buscou comida e, mesmo exausto, não desistiu.
Quilômetros à frente, nem mesmo uma tentativa de ser barrado por conhecidos da família ou uma posterior busca policial (da qual ele só soube depois) o impediram de completar seu primeiro grande desafio.
“Quando alguns buracos aparecem pelo caminho, eles acabam virando um estímulo. Gosto de dizer que, quanto mais difícil pareça o desafio, mais empolgado estou para fazer”, ressalta.
Já em 2008, quando treinava para a ultramaratona na Antártica, onde enfrentaria temperaturas entre -18ºC e -20ºC, Bernardo passou a acordar às 3:30 horas da manhã para correr a distância de uma maratona antes de bater o ponto no trabalho. Após o expediente, à noite, ele ainda acrescentava mais 25 km na bagagem.
“Parecia cansativo, mas depois você colhe todo o sucesso, reconhecimento. Nesta época tinha um volume de treino muito grande, corria 300 km por semana. Obviamente paguei um preço com lesões futuras no joelho, articulações, mas faria tudo de novo”, relembra o agora pai de três filhos.
Em 2012, ele completou a Marathon Des Sables, uma jornada de 256 km em pleno Deserto do Saara, com temperaturas que ultrapassavam os 50ºC. Depois disso, em 2014, foi o lugar mais alto do planeta: 60K na Extreme Ultra Everest Marathon e alcançou o melhor resultado de um atleta internacional.
“Tenho um mix de tudo: salto de paraquedas, gosto de nadar, do triatlo, vim do mountain bike, que na verdade é o meu primeiro esporte. Mas correr pra mim é um ótimo meio para você conhecer não só cidades novas, mas lugares sensacionais. Adoro correr no mundo outdoor, o trail run me fascina… Correr, subir montanha, passar por cachoeira, então sou bem pluralizado”, destaca.
À la Shackleton
Bernardo não apenas atua como empresário na área de esportes outdoor, mas também consome esse conteúdo. Essa paixão por viagens, novas culturas e desafios faz muitas vezes com que ele fique à frente de tendências e passe a enxergar novas oportunidades no mercado.
Com o circuito XTERRA consolidado no Brasil, movimentando o universo da aventura, mas também o lado socioeconômico e cultural das cidades por onde passa, Bernardo decidiu ir em busca de uma nova empreitada, e o chamado surgiu novamente do Continente Gelado: o empresário vai atravessar a Antártica em um carro elétrico.
“Vou buscar um pouquinho do que o Shackleton (grande explorador da Antártica) fez no passado, mas em um aspecto mais contemporâneo”, pontua Fonseca.
“Acredito muito na eletrificação dos carros, no nosso futuro, diminuindo a questão dos carros a combustível e da poluição. Queria desafiar aqui a energia limpa, que é um caminho sem volta. E aí, quando você fala em desafio pra energia limpa, você remete ao frio, que é o pior lugar para energia limpa, para os carros movidos a bateria elétrica”, acrescenta.
“E aí obviamente, como eu amo a Antártica, me conectei com ela e com o mundo dos exploradores, fizemos uma parceria com algumas marcas para fazer uma travessia de 6 mil quilômetros pela primeira vez na história com um carro elétrico, que vai carregar baterias e mostrar que a gente pode confiar nesse tipo de energia em qualquer situação”, finaliza Bernardo.
O projeto ainda está em fase final de planejamento, mas se Bernardo completar o trajeto será mais uma ótima notícia para o Planeta trazida por este incentivador da aventura.
Para acompanhar as aventuras de Bernardo Fonseca, siga o perfil @bernardofonseca77 no Instagram.