A ultracorredora mineira Fernanda Maciel fez história mais uma vez, seguindo sua série de recordes nos últimos anos. A atleta concluiu a subida e descida do Monte Vinson, maior montanha da Antártida, no menor tempo já registrado no mundo. A brasileira precisou de apenas 9h41m para subir e descer a montanha a quase 5 mil metros acima do nível do mar, que, geralmente, leva de cinco a sete dias para ser concluída – e conquistou o recorde mundial pela Sky Running e o Fastest Known Time.
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O Monte Vinson faz parte dos almejados Sete Cumes e tem temperaturas abaixo de -30ºC. Além disso, por estar próximo ao Polo Sul, o ar no local é mais rarefeito, o que traz mais dificuldade na corrida. “Subir uma montanha de 5.000 metros de altitude já é difícil e, por estarmos mais próximos da troposfera, a porcentagem de oxigênio é menor. As nuvens ficam mais próximas. Quanto mais longe a montanha está do Equador, mais difícil ela é”, explica Fernanda.
O feito da ultracorredora foi inédito no local: os visitantes só podem caminhar e escalar o Monte Vinson. Devido às subidas superíngremes e condições climáticas extremas, a corrida não é permitida na montanha. Fernanda precisou lidar com uma série de burocracias para obter permissão para correr o Monte junto a um guia local.
Treinamento e desafios
Antes de enfrentar o desafio no Polo Sul, Maciel realizou uma série de treinamentos na França. A brasileira cirou um método próprio de treino: “um dia eu corria duas horas no plano com muita velocidade. No outro, eu colocava uma mochila de 8 kg e subia uma montanha bem íngreme, de no mínimo de 1.000 metros de desnível”, conta. A combinação gerava uma capacidade aeróbica, além de ajudar na aclimatação.
Avalanche durante treinos, subidas superíngremes e equipamentos congelados fizeram parte da conquista de Fernanda. Em uma das mais remotas regiões do planeta, a brasileira venceu todos os desafios.
“Estava super feliz por estar naquele lugar selvagem e remoto e também assustada com as temperaturas frias, pois não queria sofrer congelamentos nos dedos das mãos ou pés. Tive que confiar no meu material e também saber que não poderia parar nenhum minuto durante minha corrida no percurso ao topo do Monte Vinson. Sei que é uma experiência de corrida bem louca e difícil, mas adoro a ideia de poder realizar essa tentativa brutal de correr esta alta montanha”, diz.
Na Antártida pela primeira vez, a ultramaratonista teve de encarar temperaturas extremamente baixas, e ainda teve seus óculos congelados e crampons (espécie de grampos de metal) da bota quebrados. “Coloquei minhas luvas e óculos para proteger meus olhos. Meus óculos congelaram, mas de alguma forma consegui ver o caminho para o topo”, diz a mineira, que ainda correu sem nenhum suporte de oxigênio extra.
Para a mineira, a sua longa experiência é o que faz com que ela consiga enfrentar as adversidades na montanha. “Eu foco no problema e tento solucioná-lo o mais rápido possível. Os treinos também ajudam a prever alguns problemas”, conta.
Recordes e homenagem
No Monte Vinson, Fernanda Maciel quebrou dois recordes, sendo um na subida, ao completar a rota clássica em 6h40m, e outro englobando tanto a ida quanto a volta, ao fechar toda a corrida em 9h41m. Seguindo as regras de segurança locais, a ultramaratonista correu conectada por uma corda ao guia de montanha e corredor Sam Hennessey, e ainda aproveitou o grande feito para homenagear Hilaree Nelson, colega alpinista que faleceu após sofrer uma queda durante expedição na montanha Manaslu (Himalaia), em setembro de 2022. Hilaree morreu durante uma avalanche no local, na qual Fernanda também estava e conseguiu escapar.
“Ela tem me inspirado muito e me dado forças nos projetos em altas montanhas. Estou feliz por viver emoções e sensações incríveis que experiências como esta me oferecem. Eu amo a sensação de conquista e contemplação que só as montanhas tão altas me oferecem”, completa.
O percurso
Fernanda Maciel iniciou a corrida às 11h30 (horário local), em um acampamento na base do Monte Vinson, a 2.100m acima do nível do mar. No momento, os termômetros indicavam -25ºC e ela carregava comida, água e algumas jaquetas às costas. Vale lembrar que nenhuma parte do corpo poderia ficar em contato direto com o vento, pois poderia congelar.
A primeira etapa do percurso contou com 9km e 650m de desnível positivo em direção ao ‘Acampamento Baixo’. Na sequência, trocou o tênis de corrida pela bota de alpinismo com crampons, pegou o material de escalada e partiu para a parte mais íngreme do projeto, por mais de 1.200m. Depois, em trecho de angulação menor, mas tão complicado quanto o anterior, foi sprint final ao cume da montanha.
Fernanda Maciel conquistou os recordes mundiais pela Sky Running e o Fastest Known Time na subida e na subida e descida combinados.
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