Por que correr à noite parece mais difícil?

Por Alex Hutchinson da Outside USA

Foto: shutterstock

Sinto que corro mais rápido enquanto corro pela trilha sob a luz fraca da lua, nas horas tranquilas antes do amanhecer. Meu relógio, no entanto, conta uma história diferente. Os tempos que eu levo para completar o percurso geralmente são mais lentos com base no meu esforço. E não é só porque eu acordo mais cedo do que o normal, ou estou correndo com o estômago vazio. Correr no escuro ou à noite, ao que parece, é realmente mais difícil.

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Pelo menos, é isso que confirma um novo estudo interessante realizado por pesquisadores do KTH Royal Institute of Technology, da Suécia, que analisou militares suecos e colegas na Eslovênia.

Durante a pesquisa, eles notaram que, nas marchas noturnas, os soldados pareciam queimar mais energia do que seria esperado pelas demandas físicas da missão, especialmente quando usavam óculos de visão noturna – que restringem a visão periférica.

Diante da descoberta, eles se perguntaram se a falta de visão forçava os soldados a alterar seus passos, de forma a sacrificar a eficiência pela estabilidade. Então decidiram testar essa teoria.

O novo estudo, publicado no European Journal of Applied Physiology , contou com 15 voluntários que fizeram, em quatro condições, uma série de caminhadas de dez minutos em esteira: com e sem um peso de 25 kg e com e sem venda.

Vale ressaltar que a esteira foi ajustada em um ritmo confortável e tinha um sistema de alerta a laser para sinalizar se os voluntários estivessem prestes a cair.

Como seria de se esperar, os resultados mostraram que o consumo de oxigênio, a respiração e a frequência cardíaca aumentaram substancialmente ao usar a mochila pesada. No entanto, a surpresa foi que eles aumentaram quase a mesma quantidade ao adicionar uma venda nos olhos.

Aqui estão os gráficos desses três parâmetros, com (círculos) ou sem (quadrados) a venda:

Gráfico: European Journal of Applied Physiology

Se você comparar os círculos à esquerda (ou seja, com os olhos vendados sem mochila) com os quadrados à direita (ou seja, sem os olhos vendados com uma mochila), você verá que eles são quase iguais.

Em outras palavras, andar com uma venda nos olhos exige tanto esforço extra quanto andar com uma mochila de 25 kg. Para ser preciso, a mochila aumentou o consumo de oxigênio em 20%, enquanto a venda nos olhos aumentou o consumo de oxigênio em 19%.

Acredita-se que esse efeito acontece porque os voluntários ajustaram seus passos quando vendados: seus passos ficaram 11% mais curtos e 6% mais largos, e eles também levantaram os pés 18% mais alto.

Vale lembrar que estamos falando de uma esteira perfeitamente plana, então não há obstáculos ou buracos a serem evitados. Então, trata-se apenas de uma resposta instintiva.

Outro ponto importante a mencionar é que o resultado provavelmente não se dá por conta da falta de familiaridade com o desafio de andar com os olhos vendados. A prova vem de um teste semelhante com indivíduos cegos que descobriu que, enquanto caminhavam, eles queimavam cerca de 25% mais energia do que pessoas que enxergavam.

Obviamente, estar com os olhos vendados é significativamente mais perturbador do que usar óculos noturnos ou simplesmente sair à noite em condições de pouca luz. Isso significa que o tamanho do efeito é provavelmente exagerado, se compararmos com correr de noite.

E claro que caminhar também é diferente de correr. No entanto, ainda sim, parece razoável supor que mecanismos semelhantes funcionam quando você está correndo no escuro – junto com outros mecanismos mais sutis, como o fluxo óptico, que é o padrão de objetos fluindo através de sua visão enquanto você se move pelo espaço.

Quando você está correndo ou andando de bicicleta no escuro, você só pode ver objetos que estão relativamente próximos de você. Isso significa que eles aparecem em seu campo de visão apenas brevemente antes de desaparecer atrás de você, o que corresponde a um fluxo óptico mais rápido do que você experimentaria à luz do dia.

Alguns estudos anteriores , principalmente os de Dave Parry e Dominic Micklewright, da Universidade de Essex, tentaram manipular o fluxo óptico em configurações de realidade virtual, fazendo o cenário passar mais rápido ou mais devagar do que a velocidade da esteira ou bicicleta ergométrica.

Com certeza, quando o fluxo óptico é mais rápido – como você experimenta em condições escuras – você sente que está se movendo mais rápido. Logo, qualquer ritmo parece mais difícil.

Há um correlação interessante para essas descobertas sobre o fluxo óptico, como Parry explicou a Scott Douglas, da Runner’s World, em 2012. “Correndo em um ambiente onde a maioria dos pontos de referência visual que você pode ver estão próximos, você experimenta uma sensação maior de velocidade do que quando em um ambiente onde seus pontos de referência estão distantes”, disse ele.

Isso significa que correr por uma floresta ou pelas ruas da cidade provavelmente trará a sensação de que você está mais rápido do que quando corre em um campo aberto, por exemplo.

Desde que li sobre esses resultados de fluxo óptico, percebi a peculiaridade de como o cérebro estima o esforço e passei a ignorar a diferença entre meu ritmo real e a sensação. Durante a maioria das minhas corridas, de fato, essa ‘pegadinha’ não importa, mas se estou tentando fazer um tempo run ou um treino intenso antes do nascer do sol, a sensação de ritmo mais lento pode ser uma chatice.

Então, vou considerar os novos resultados suecos como garantia de que a corrida noturna pode ser fisiologicamente mais difícil, não apenas um erro cerebral – e se isso for necessário para evitar tropeçar no escuro, aceitarei a troca.







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