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Acatenango: como é o trekking neste vulcão ativo da Guatemala

Por Luciana Guilliod

Acatenango, Fuego e Água: os três vulcões dominam a paisagem de Antígua, a linda cidade colonial da Guatemala. Você pode apreciar a vista degustando o excelente café guatemalteco no terraço de uma construção histórica. E também pode chegar mais perto de um dos vulcões mais ativos do mundo e amanhecer na cratera de um vulcão extinto. Eu fui e te conto como é como é o trekking ao vulcão Acatenango, na Guatemala.

É fácil confundir: o vulcão que de fato adentramos está inativo e se chama Acatenango. Dormimos num acampamento a uma hora e meia de caminhada da cratera. Fuego é um dos vulcões mais ativos do mundo (e estava especialmente ativo, jorrando lava a cada 10-20 minutos), do qual a vista a partir do Acatenango é esplendorosa. Deu pra entender?

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Os números do trekking não assustam tanto: a caminhada até o acampamento base tem menos de 7 km, uma ascensão de menos de 1.500m feita num tempo líquido de 2h36 minutos (ou seja, sem contar o tempo descansando, lanchando e esperando o restante do grupo). O que pega é a falta de oxigênio na altitude e a quantidade de casacos a serem carregados, que torna tudo três vezes mais cansativo. A cratera do Acatenango está 3.976m acima do nível do mar.

O que levar e quanto custa
Foto: Arquivo Pessoal.

Fiz o trekking com a Wicho & Charlie’s. O preço foi 69 dólares (cerca de R$ 360) pela jornada de 28 horas, incluindo transporte, guias, pernoite em cabana (e não em barraca), refeições de verdade, garrafas de água e headlamp. Com o aluguel de itens extras, a conta chegou em 90 dólares para essa experiência inesquecível. Há agências cobrando alguns dólares a menos, mas a Wilco & Charlie’s valeu cada centavo.

O valor não inclui a entrada no parque regional do Vulcão Acatenango, de 16 dólares. Há uma trilha opcional por 25 dólares para chegar mais perto do Fuego, que é decidida no acampamento base – porque nem sempre é seguro seguir e você não sabe qual será seu ânimo antes de chegar.

Levei montanha acima meu equipamento próprio: roupas, comida, água (inclusive para cozinhar) e a empresa se responsabiliza por cobertores, sacos de dormir, parte de alimentação e de todo o resto. É possível fazer a trilha sem agência: a rigor, para ir à cratera do Acatenango, basta pagar a entrada no parque regional

Como é o trekking no vulcão Acatenango
Foto: Arquivo Pessoal.

Encontrei o grupo às 8h30 e recebemos informações detalhadas (que já haviam sido enviadas por e-mail), escolhemos roupas e equipamentos, enchemos garrafas de água e tomamos café da manhã. Às 9h30 saímos para a vila de Soledad e às 11h, começamos o trekking.

A trilha passa por quatro diferentes ecossistemas, começando com plantações de milho, ervilha e flores. Essa é a pior parte, com sol na moleira e todo o peso da água e comida ainda nas costas – e a paisagem não é tão bonita assim. Ainda não entramos no Parque Regional Volcán Acatenango propriamente dito.

Após pagarmos a entrada no parque, o visual muda para uma floresta tropical com mais sombra e, em seguida, uma floresta alpina com coníferas onde dá pra avistar outros seis vulcões de brinde. Há uma pausa para o almoço (almôndegas com molho e purê de batatas) e a partir daí o caminho fica menos inclinado – até prazeroso – e adentramos o quarto microclima, com solo vulcânico.

Chegamos por volta das 15h no acampamento base, a 3.750m, que já oferece uma vista matadora para o Fuego. O lugar é agradável, com refeitório, tomadas e venda de barrinhas de cereal e até de cerveja. A agência tem cabanas para o pernoite, mais quentes e confortáveis que barracas. O banheiro é a mãe natureza, então leve um saco de lixo para trazer seus dejetos de volta. Às 16h soubemos que a aproximação ao Fuego estava liberada e metade do grupo seguiu.

Não contava com a quantidade de explosões do Fuego. As palavras eram interrompidas por urros saídos das entranhas da terra, seguidos de uma chuva de lava incandescente que iluminava a noite. Apenas admirávamos, maravilhados. Valeu cada molécula de oxigênio não respirada na altitude.

Não é que tenha visto um vulcão em erupção. Eu acordava de madrugada com a terra tremendo e com o ruído das incessantes erupções. Foi bruto, primal e lindo.

A conquista do cume do Acatenango
Foto: Arquivo Pessoal.

O alarme do celular tocou às 4h: vamos ver o amanhecer no cume do vulcão Acatenango. As lanternas na cabeça ajudam a vencer a noite escura. São cerca de 2km e apenas 300m de ascensão, mas é a parte mais difícil de toda a trilha: o solo vulcânico é escorregadio e os pés afundam na terra pedregosa a cada passo. É difícil progredir.

O dia clareia revelando vilas, florestas de pinheiros, lagos e vulcões. Após uma hora e meia de caminhada, chegamos ao cume (e também à cratera do Acatenango) de onde se avistam Fuego, Àgua, Lago Atitlan e, num bom dia, até o oceano e a fronteira com o México.

Nem fazia tanto frio assim – ou eu estava muito bem agasalhada – e, após uma hora de muitas fotos no cume tão lotado quanto a 25 de março, é hora de começar a descida. Há um café da manhã com burritos no acampamento e um clima de missão cumprida no ar. O dia está lindo, as pessoas estão felizes, realizadas e monotemáticas.

A subida árdua do dia anterior agora é uma descida agradável de duas horas, na qual fomos conversando, brincando e vendo a cara de cansaço dos grupos que estavam subindo. Ao meio dia, a van esperava para levar-nos de volta à Antígua.

Chegamos na agência por volta das 13h. Corriam os últimos dias de novembro e uma feirinha de natal tomava conta da praça central de Antígua, deixando aquela gracinha de cidade ainda mais alegre. Comprei uma barra de chocolate artesanal e deixei-me cair num banco da praça por um bom tempo, observando o movimento da rua, saboreando cada mordida e cada lembrança da conquista do Acatenango.

Para acompanhar as aventuras de Luciana Guilliod, siga o perfil @lucianaguilliod no Instagram ou site Chicken or Pasta.







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