A norte-americana Simone Biles desistiu de mais uma prova nas Olimpíadas de Tóquio para cuidar de sua saúde mental. Após ter abandonado a final por equipes no decorrer da disputa, a atleta de 24 anos, que é uma das maiores ginastas de todos os tempos, não vai participar da decisão do individual geral, prova na qual era favorita absoluta.
E não foi só pela atitude de Biles que as Olimpíadas de Tóquio estão sendo marcadas pela discussão da saúde mental.
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Os australianos Ryan Broekhoff e Liz Cambage, representantes do basquete masculino e feminino, abriram mão da competição para cuidarem do psicológico.
O atual campeão olímpico de arremesso de peso, o americano Ryan Crouser, revelou que investiu muito no trabalho de preparação psicológica para conseguir repetir o ouro olímpico. Segundo o atleta, a ansiedade afetava negativamente o seu desempenho nas competições.
De acordo com a Dra Livia Castelo Branco, psiquiatra, Coordenadora do Núcleo de Sexualidade da Holiste Psiquiatria, as questões psicológicas afetam diretamente o rendimento dos atletas profissionais e, inclusive, podem diminuir o risco de lesões.
“Os acompanhamento psicológico é essencial nos momentos de conflitos, grandes decisões ou estresse, pois facilita o controle de sintomas como ansiedade, medo, tristeza e raiva. Lidando melhor com os próprios sintomas, é possível melhorar a concentração, relacionamento com a equipe, redução do risco de lesões e de comportamentos que possam prejudicar o time”, explica.
Atletas que ‘travam’ sob pressão
A psiquiatra lembra que existem casos emblemáticos de atletas que travam na hora de uma competição. Esse comportamento de paralisação pode estar associado à ansiedade em momentos tensos da competição. Os esportistas sonham em poder participar de uma olimpíada, mas todo o processo de preparação e a disputa em si são situações que exigem muito da mente e não só do corpo. Por isso, o acompanhamento psicológico já é realidade nas delegações.
“A cobrança excessiva por resultados, regras exageradas para a rotina, episódios de violência psicológica, restrição de momentos de lazer e descanso, associados à falta de suporte emocional no ambiente de competição, aumentam o estresse do indivíduo, que se tiver vulnerabilidade a transtornos mentais e pouca resiliência, pode desenvolver sintomas ansiosos, depressivos e, em casos mais graves, problemas com álcool ou drogas”, detalha.
No começo do ano, a segunda melhor tenista do mundo, Naomi Osaka, abriu o jogo sobre saúde mental. A atleta revelou sofrer de crises de depressão desde o título do Aberto dos EUA de 2018 e afirmou que ficaria longe das quadras por tempo indeterminado. Felizmente, o acompanhamento médico se mostrou efetivo e Osaka vai representar o Japão nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Para Livia Castelo Branco, o posicionamento de estrelas como Naomi Osaka são importantes porque reforçam que o sofrimento psíquico tem tratamento. “O relato de pessoas famosas de diversos setores na sociedade, mostrando que o sofrimento psíquico em muitos momentos é desnecessário e tem tratamento, contribui com a desmistificação da saúde mental e encoraja as pessoas a compartilhar suas lutas, ajudar-se mutuamente e procurar auxílio profissional”, aponta.