Manoel Morgado é a 3ª pessoa do mundo a completar o Great Himalaya Trail do Butão e Nepal

Por Jade Rezende

Manoel Morgado no GHT Butão

Em julho do ano passado, o montanhista Manoel Morgado se tornou o primeiro latino-americano a completar o Great Himalaya Trail (GHT) do Nepal, um trekking centenário que cruza o país de leste a oeste em 1.425 km pela Cordilheira do Himalaia, durante 125 dias. Agora, o brasileiro acaba de finalizar mais uma rota do GHT, o trecho de 700 km e cerca de 25.000 metros de altimetria positiva que atravessa o Butão também de leste a oeste.

+ Os efeitos físicos e mentais de uma Backyard Ultra
+ Os dez trekkings mais bonitos do mundo
+ Minha jornada de coragem e determinação pela Great Himalaya Trail

O médico e autor de 68 anos começou o GHT Butão em 25 de setembro e finalizou o desafio neste domingo, 3 de novembro, após 37 dias de caminhada. Ele é apenas a terceira pessoa do mundo a completar ambos os trekkings do Great Himalaya Trail, tanto do Butão quanto do Nepal.

“Comecei a planejar o trekking desde o fim do meu GHT no Nepal, em julho do ano passado. Foram meses e meses até aqui para construir o caminho que me levaria a esse grande sonho”, disse Morgado.

A distância percorrida foi de exatamente 523,7 km, com uma altimetria positiva de 24.630 metros e altimetria negativa de 21.731 metros.

GHT Butão

Morgado diz que os números e recordes, no entanto, não significam muita coisa. “O que realmente importa são as experiências vividas neste mundo de montanhas que é a parte mais importante de minha vida”, escreveu ele em seu diário do trekking, compartilhado com a Go Outside.

“Tenho vivido neste ambiente por mais de 35 anos e, desde que vi uma montanha nevada pela primeira vez em minha primeira viagem internacional, para a Bolívia e o Pero quando tinha 17 anos, que soube naquele instante no alto do Chacaltaya, quando ainda tinha neve, com um cão São Bernardo correndo para mim e me derrubando no chão, na neve, que este tido de paisagem, de ambiente, de culturas ligadas às montanhas, iria me acompanhar pelo resto de minha vida. Era apenas natural que eu buscasse estar nas montanhas e mergulhar cada vez mais fundo nelas. E, de todas as cordilheiras do mundo, o Himalaia e seu povo é a que tenho uma ligação espiritual mais profunda”, completou.

GHT Butão x Nepal

O gaúcho afirma que o trekking do Butão foi fisicamente mais fácil que o do Nepal. “Tive uma equipe de apoio o tempo todo comigo, não há outra maneira de fazer no Butão. A comida foi boa embora monótona, minha mochila nunca foi pesada”, diz. Por 15 dias na caminhada, ele também contou com a companhia de três amigos montanhistas.

Por outro lado, ele afirma que o GHT deste ano foi “profundamente desafiador” do ponto de vista emocional, principalmente por causa das chuvas. “Não há nada mais desagradável do que fazer trekking na chuva. E quando a chuva perdura por 24 dias com lama e sanguessugas, então, realmente é difícil encontrar dentro de você energia para sair da barraca e continuar caminhando”, conta.

Isso aconteceu porque a época das monções no Butão atrasou este ano. As chuvas só pararam no dia 24 de outubro, um mês após o esperado para a estiagem – o que acabou se transformando em um desafio mental complexo para Morgado.

“Poucas vezes em minhas caminhadas e escaladas tive de buscar lá no fundo de minhas reservas emocionais a energia para não desistir. E, creio, esta foi a coisa mais importante que tirei deste trekking. Já tinha aprendido em muitas ocasiões o quanto tempos de energia física dentro de nós quando achamos que não dá para dar mais nenhum passo. Mas vi que o mesmo acontece com a parte emocional. E isso, tenho certeza, será uma útil lição para levar pela vida”, escreveu ao finalizar o trekking.

GHT Butão

GHT Butão

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar do desafio, o GHT Butão também trouxe momentos mágicos para o brasileiro. “Uma das coisas mais legais daqui é que você tem as montanhas só para você. Devo ter cruzado com não mais do que 100 estrangeiros em 35 dias”, conta. “E isso porque eu estava fazendo no sentido contrário de todo mundo. Se estivesse fazendo de oeste para leste, haveria a possibilidade de não encontrar ninguém”.

“A possibilidade de caminhar por lugares muito pouco visitados por estrangeiros é uma coisa raríssima hoje em dia. Ver uma natureza intocada, arquitetura lindíssima e um povo sorridente e simpático – apesar de muito pouco interessado em interagir comigo e nada curiosos de saber algo de mim, uma coisa que me surpreende e me intriga, muito diferente do que estou acostumado em outros lugares onde existem poucos estrangeiros”, conta Morgado no diário.

Confira alguns registros feitos por Manoel Morgado durante o Great Himalaya Trail do Butão:

Snowman Trek

Dentro do Great Himalaya Trail do Butão está também o Snowman Trek, considerado um dos trekkings comerciais mais difíceis do mundo por conta do terreno, do isolamento e da altimetria. São cerca de 270 km de extensão e 17.548 metros de ganho de elevação.

O montanhista chegou no início do Snowman nove dias após começar o GHT e finalizou o trecho dois dias antes do fim do trekking que atravessa o Butão. Não há registros conhecidos de outro brasileiro que tenha realizado o Snowman antes de Morgado.

Snowman Trek

Fotos: Arquivo pessoal/Manoel Morgado