Um estudo inédito no Brasil levantou dados e as causas das dores e lesões mais comuns nos praticantes de escalada do país
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Nem atletas profissionais e experientes estão imunes ao risco de se machucar durante a prática da escalada. Luana Riscado, campeã da Copa Brasil de Escalada de 2022, já enfrentou uma lesão no bíceps. O grande nome da modalidade em rocha do Brasil, Felipe Camargo, se recuperou recentemente de uma lesão no ombro e também já fraturou o punho. De acordo com Gabriela Saliba, fisioterapeuta e escaladora do Rio de Janeiro, algumas dessas lesões estão entre as mais comuns em praticantes desse esporte. Em mestrado realizado pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM – RJ), a pesquisadora analisou dados de 890 escaladores brasileiros sobre dor crônica e lesões músculo-esqueléticas na prática da modalidade.
O estudo, que foi o maior sobre a temática já feito no Brasil, constatou que os tipos de lesão estão diretamente ligados às modalidades da escalada. No boulder, disciplina em que não há o uso de cordas e as paredes são mais baixas, é mais comum ocorrer dores e ferimentos nos membros inferiores, como tornozelos, joelhos, posterior de coxa e quadril. Isso porque os atletas geralmente não fazem a “desescalada”, mas sim saltam da parede até o chão. A fisioterapeuta atende com frequência casos de escaladores que pulam de mal jeito e acabam virando o tornozelo na aterrissagem.
A movimentação característica da modalidade também leva a lesões mais frequentes nessas regiões do corpo. “O boulder tem muito do chamado heel hook, que é colocar o calcanhar alto e puxar todo o peso do corpo – o que pode machucar os membros inferiores, caso a puxada não seja feita da maneira correta”, explica Gabriela. Já na escalada esportiva (que usa corda e pode ser feita tanto em paredes artificiais quanto em rocha) e na tradicional (feita em vias grandes, como o Pão de Açúcar e Corcovado), o mais comum são dores e lesões nos membros superiores, nos ombros, dedos das mãos, cotovelo e punho.
Lesões mais comuns da escalada
Membros inferiores
- Coxa: estiramento dos posteriores de coxa
- Joelho: lesão em menisco
- Pé: entorse de tornozelo
Membros superiores
- Mão: lesão de polia
- Punho: lesão da fibrocartilagem triangular
- Ombro: manguito rotador, lesão do labrum (SLAP, sigla em inglês) e síndrome do impacto
- Cotovelo: epicondilite lateral e epicondilite medial
Lesões em mulheres
Outra constatação do estudo da fisioterapeuta é que mulheres lesionam mais os tornozelos do que os homens. A hipótese levantada por Gabriela é que isso pode estar relacionado com o fato de as mulheres serem mais elásticas e flexíveis – principalmente quando estão próximas ao período menstrual, devido à liberação de alguns hormônios. Pesquisas anteriores já mostraram que elas ficam, de fato, mais flexíveis no período anterior e durante a menstruação, levando a um risco maior de contusões nesse período.
O caminho das contusões
São diversos os fatores que levam a uma lesão na prática de escalada: desde má qualidade de sono a falta de aquecimento. Má alimentação, despreparo físico e falta de hidratação também entram estão na lista. “Um movimento muito acima do grau da pessoa – com menos agarras, angulação mais negativa, agarras menores ou qualquer coisa que dificulte movimento – também pode levar a complicações, porque o escalador não está acostumado com aquela especificidade toda”, afirma Gabriela. Segundo a fisioterapeuta, no entanto, as causas costumam ser multifatoriais – dificilmente existe um único responsável pela lesão.
Justamente por envolver diversos fatores, a prevenção de dores e lesões na prática da escalada é ampla. Para cuidar do seu corpo e evitar problemas, siga algumas das dicas da especialista:
4 formas de prevenir lesões na escalada
1. Aquecer, aquecer e aquecer
“Uma das coisas mais primordiais é aquecer de alguma forma antes de escalar. O aquecimento pode ser pular corda, fazer polichinelos, bicicleta ou aquecimentos específicos para os dedos das mãos – principalmente, mas não unicamente, se estiver num lugar frio, porque o corpo está lidando com temperaturas mais baixas do que está acostumado.”
2. Durma bem
“É importante uma boa noite de sono. E não é só a quantidade de horas que importa: o sono deve ser de qualidade, sem interrupções, sem inquietações na hora de ir se deitar.”
3. Nutrição
“Boa alimentação e hidratação também têm comprovação científica como prevenção de lesões.”
4. Tenha um profissional por perto
“Se está iniciando ou recomeçando na escalada, busque um preparador físico para te orientar sobre como evoluir sem se machucar.”
Caso a lesão aconteça mesmo assim, é imprescindível buscar profissionais qualificados que conheçam as demandas do esporte. “Respeite as orientações e, se a lesão já aconteceu mais de uma vez, retome as atitudes iniciais já conhecidas e não demore para adotar os devidos cuidados”, alerta Gabriela. Fisioterapeutas especializados trabalham, inclusive, com técnicas da psicologia para lidar com atletas que desenvolvem cinesiofobia – medo excessivo, irracional e debilitante de um certo movimento físico – após uma lesão. “Estudamos para conseguir acolher as pessoas nesse momento que, normalmente, não é alegre, porque atrapalha sonhos e envolve gastos financeiros”, completa.
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