O universo do montanhismo é deslumbrante e quem ‘leva a picada’ do mosquitinho das montanhas, geralmente, não larga mais esse esporte.
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Dentre os tantos lugares do mundo, a região do Himalaia é um dos principais berços da modalidade e lá está o imenso Everest, o maior e mais famoso Monte do mundo.
A cordilheira do Himalaia se estende por 2.400km, começando no Paquistão e terminando na China. No caminho, ela corta a Índia, o Butão e o país onde estão os trajetos mais famosos: o Nepal.
Por um lado, é bonito de ver tantas pessoas que se preparam para superar limites e alcançar o topo. Por outro, sabemos: as principais montanhas do mundo andam congestionados demais. Além disso, quem ainda não atingiu o nível avançado no montanhismo, opta por trilhas com menos altitude ou circuitos mais curtos.
Durante a temporada do montanhismo, a charmosa cidade de Pokhara, que fica localizada na área central do Nepal, é um dos lugares que recebe milhares de pessoas que saem de lá para alcançar diversos possíveis caminhos do Himalaia.
Em busca de encontrar um roteiro diferente e acessível mesmo para quem nunca se aventurou muito no montanhismo, a Go Outside conversou com Nicole Gasparini, jornalista e mochileira. Ela acabou de lançar o livro Boon na minha vida – uma jornada pela Ásia, onde relata suas vivências e percepções acerca de um mochilão de seis meses pela Tailândia, Vietnã, Camboja, Myanmar e Nepal, onde também realizou trabalho voluntário.
Mardi Himal, a joia escondida no Himalaia
Segundo Nicole, uma boa sugestão para fugir da lotação no Himalaia nepalês é apostar na Mardi Himal. “Geralmente os mochileiros de primeira viagem que querem fazer alguma montanha no Himalaia fazem a Annapurna”, explica ela. “Na época de montanhismo, que vai de outubro a maio, lá está cheio de gente e você fica esbarrando nas pessoas, faz trânsito e isso piora muito a experiência de contemplação da natureza”, finaliza.
De fato, a Mardi Himal é uma das joias escondidas quando se trata de montanhismo na região. A trilha é relativamente nova e permite chegar a 4.500 metros, onde fica o acampamento base. O restante só pode ser feito por especialistas em escalada que estejam acompanhadas por um guia local.
Em meio ao mochilão pela Ásia, Nicole – que fez a montanha junto com sua amiga – só tinha seis dias para desfrutar da aventura. “Existe mais de uma possibilidade de rota”, conta ela. “A gente, por exemplo, fez uma trilha para ir, mas para voltar fizemos outra, tanto para cortar um dia na volta, quanto para conhecer outras paisagens”, explica.
Mesmo para quem – como elas – opta por fazer um trajeto considerado fácil e sem escalada, pode ser interessante contratar um guia. Nicole e a amiga, entretanto, estudaram muito bem e foram por conta própria. “Todos estavam nos dizendo que a trilha era muito bem-sinalizada e que, por ser outubro, época de montanhismo no país, cruzaríamos muitas pessoas no caminho, caso fosse necessária alguma ajuda”, explica ela sobre a decisão.
Alguns dias, Nicole caminhou 5km e em outros 9km. O percurso total demorou 5 dias, sendo 3 para subir até o acampamento base e 2 dias para descer. Mas vale lembrar que dependendo do nível da pessoa, o trajeto pode ser feito em até 4 dias.
Nicole e sua amiga saíram de Pokhara até a trilha que passou por Phedi e Duerali (ver trajeto acima). Ao final do primeiro dia, elas chegaram a 2.130 metros de altura durante seis horas de caminhada, em que a única parte de escalaminhada tinha sido no começo. A paisagem passava por matas as vezes aberta e seca, as vezes fechadas e úmidas, além de vilarejos de montanha.
No segundo dia, elas começaram a caminhada com a boniteza da luz do nascer do sol e passaram por matas fechadas com barro molhado devido a umidade da floresta.
O terceiro dia, entretanto foi mais desafiador do que os primeiros. Segundo Nicole, foram muitas horas seguidas de subidas até o último albergue antes do acampamento base. “Tivemos medo de olhar para baixo, de onde era possível avistar os precipícios vizinhos às nuvens que estavam em nossa altura, ali qualquer passo em falso seria mortal”, relata ela sobre parte do trajeto no dia.
O marco dos 4.500 metros
Para chegar ao visual do acampamento base é preciso conseguir subir até 8h30 da manhã. “Depois disso, a névoa toma conta da montanha dificultado a visão e impossibilitando a contemplação das paisagens”, conta Nicole. Além disso, esse é um dos únicos acampamentos-base em que não é permitido dormir no local. Ou seja, os montanhistas precisam ir e voltar no mesmo dia, ou seguir em direção ao cume.
Elas dormiram no albergue, saíram às 4 horas da manhã e levaram cerca de três horas e meia para alcançar o marco dos 4.500 metros de altitude. Depois, mais três horas para descer. “Cada passo deve ser cauteloso para não escorregar nas pedras soltas ao chão”, aconselha.
Além disso, o último trajeto antes do acampamento base conta com uma subida de quase mil metros de altitude em um período curto de tempo. Isso significa que é comum sentir o famoso ‘mal da montanha’ com tontura, dor de cabeça e enjoo devido a baixa pressão parcial de oxigênio.
Mas, certamente, o visual vale toda a recompensa. “Mar de nuvens que se formava e se misturava às montanhas, resultando em um oceano infinito no céu”, descreve Nicole sobre a sua experiência no ponto mais alto da expedição.
Camping x Albergue
Para economizar nos gastos durante a experidção, a opção mais em conta seria acampar nos campings sinalizados no mapa. Mas vale lembrar que o frio da madrugada pode tornar a noite difícil. Então, outra alternativa seria fazer o mesmo que elas fizeram e dormir em albergues. “O custo benefício é relativamente barato”, fala Nicole “Mas quanto mais perto do acampamento base da Mardi Himal, menos recursos são oferecidos pelos albergues, o que torna inviável o banho quente e a comida se torna cada vez mais cara”, alerta ela.
Outro custo necessário para fazer essa expedição é o certificado de permissão para entrar na região do Annapurna. O visitante deve emitir este documento – que informa a quantidade de dias na montanha, além do trajeto realizado. A medida é fundamental para manter o controle da quantidade de pessoas e agir mais precisamente em casos de acidentes. Em 2017, Nicole pagou cerca de R$100 para emitir o certificado.
O que levar?
Se você é montanhista de primeira viagem, a recomendação de Nicole para a Mardi Himal é não deixar para ir no ápice do inverno. Dessa forma, você não vai precisar lidar com o frio mais intenso – que acaba gerando mais peso na mochila. Sobre o que levar ela sugere:
- Bastão (ao menos um)
- Barraca caso você escolha acampar ao invés de dormir nos quartos dos albergues
- Uma boa corta-vento
- Bota de trekking que proteja o tornozelo por conta dos pedregulhos, pedras e afins
- Cápsula para limpar água, caso queira pegar água das correntes de água e limpá-la para torná-la potável.
- Lanterna de cabeça
- Lanterna normal
Pré-lançamento Boon na minha vida – uma jornada pela Ásia, por Nicole Gasparini
No hinduísmo, boon significa um presente ou uma bênção que os deuses entregam a uma pessoa para que ela saia de uma situação delicada; também pode ser considerado um presente dos deuses em um momento inesperado. O livro traz as sensações e experiências da autora ao longo de um mochilão pela Ásia.
Em fase de pré-venda até 1 de setembro, o livro, que foi publicado pela Bambual Editora, está com 20% de desconto.