Banff é o céu na terra para você que é apaixonado pela vida nas montanhas

Por Fernanda Franco*

Com incontáveis montanhas de até 4.000 metros, mais de 700 lagos de verdes e azuis que os olhos chegam a duvidar, e rios que formam vales que contrastam com densas florestas, as Rochosas canadenses são a síntese do que todo amante de montanhas sonha: um exuberante playground estruturado para todo tipo de atividades outdoor, o ano inteiro. Durante o inverno, no início da primavera ou final do outono é possível apreciar a romântica paisagem branca, patinar e andar sobre lagos congelados, fazer esqui ou snowboard em excelentes pistas com um cenário ímpar, ou rir como criança num passeio de dogsledge (trenó puxado por cães da neve). Já no verão, final da primavera ou começo do outono, as trilhas para trekking ficam livres da neve, as pistas de esqui e de snowboard se transformam em lindos downhills para mountain bike, os lagos ficam coloridos e navegáveis, as planícies viram campos de golfe e os animais aparecem por toda parte.

CARTÃO POSTAL: Banff é a cidade símbolo das montanhas Rochosas canadenses e está dentro do mais antigo parque nacional do Canadá, o Banff National Park, criado em 1885(Foto: Paul A. Souders)

Como o inverno é muito rigoroso (os termômetros batem os 30º C negativos), os canadenses esperam ansiosamente para tirar o mofo na época do ano em que a luz do dia vai até as 11 da noite, lotando as trilhas e os pontos turísticos. Ir para lá em julho ou agosto é como ir para as praias brasileiras no auge do verão: é preciso reservar com antecedência, não dá pra exigir exclusividade, mas sempre há um cantinho menos procurado para você explorar.

Partir de carro de Calgary, a cidade com aeroporto mais próxima das Rochosas, é a melhor forma de explorar a região com liberdade e autonomia. Assim que você deixar a cidade dos cowboys pela rodovia Trans-Canada, já será possível avistar do lado esquerdo a longa e imponente cadeia de montanhas com picos nevados. A luz do fim de tarde ou do amanhecer realça o que será visto com frequência daqui para frente, sem nunca enjoar. Prepare a máquina fotográfica e tenha muitos cartões de memória para arquivar aquilo que a sua mente jamais esquecerá.

A primeira parada pode ser feita em Canmore. A cidade, a apenas 100 quilômetros de Calgary, é perfeita para entrar no clima das Rochosas Canadenses, e famosa pela variedade e qualidade de trilhas para mountain bike. O local sedia o campeonato anual de 24 horas de mountain bike e dispõe do Canmore Nordic Center, um local próprio para esportes (esqui no inverno e mountain bike no verão), com 70 quilômetros de trilhas, construído para os jogos Olímpicos de inverno de 1998. De Canmore se tem a visão das Three Sisters, cartão postal das Rochosas canadenes. As lojas especializadas da cidade alugam bikes de todos os tipos, de excelentes marcas, têm os mapas das trilhas e indicam o início do caminho – ou oferecem serviço de guias.

O belíssimo lago Moraine, que fica no Parque Nacional de Banff

SEGUINDO MAIS 22 QUILÔMETROS pela excelente Trans-Canada, você chegará a Banff. A cidade mais famosa das Rochosas Canadenses é também a mais estruturada. Banff surgiu depois da criação do parque nacional de mesmo nome, o mais antigo do Canadá, criado em 1885. Por isso, não é mais permitido construir novas propriedades no local. Do pequeno centro, é possível enxergar o monte Rundle (2.949 metros), o monte Cascade (2.998 metros) e o monte Norquay (2.134 metros). Além do fácil acesso para as atividades esportivas, a cidade tem uma itensa agenda cultural graças ao centro de artes local que promove festivais, peças de teatro e atrai grandes artistas mundiais. É em Banff que acontece anualmente, em outubro, o prestigiado Banff Film Festival, somente com filmes de montanha, e um festival de Dragon Boat em agosto.

A vista do monte Sulphur, com 2.281 metros de altitude, é atração imperdível em Banff. A maioria dos turistas chega até o topo sentada num teleférico fechado, mas é possível fazer o percruso de 5,5 quilômetros e 655 metros de ascensão entre 2 e 3 horas de trekking, e ter como recompensa uma das mais belas vistas da sua vida com o rio Bow, o vale formado por ele, e ao fundo o lago Minnewanka. Navegável, o Bow é uma excelente opção para alugar caiaques e percorrer um rio no coração das Rochosas canadenses.

A apenas 37 quilômetros, ainda pela Trans-Canada, está a romântica Lake Louise. O lago de 10 quilômetros quadrados que dá nome ao local é considerado o mais espetacular das Rochosas. Localizado num vale profundo, é rodeado por pinheiros, tem águas azul turquesa graças aos minerais que descem das montanhas junto com a neve, e é emoldurado pelo glaciar Vitória ao fundo.

No verão é possível percorrer duas trilhas perto do lago com excelentes visuais e gratas surpresas no final. A mais curta delas tem 7 quilômetros e sai à direita do lago. Depois de cerca de três horas de caminhada e quase 400 metros de elevação, chega-se a uma rústica casa de chá que serve pães caseiros, bolos e chás feitos na hora – tudo com vista para o lago Agnes. A outra trilha, dos 6 Glaciares (Plain of Six Glaciers), é um pouco mais longa: são 11 quilômetros para 4 horas de trekking, que dão numa segunda casa de chá, mais tranqüila. As duas casas não têm eletricidade e são abastecidas apenas no começo da temporada por um helicóptero. Os funcionários dormem num abrigo perto delas e a única maneira de repor suprimentos é a pé ou a cavalo.

De Lake Louise parte a Icefield Parkways (Highway 93), conhecida por ser uma das estradas mais bonitas do mundo. Seus 226 quilômetros seguem até Jasper, serpenteando montanhas, pairando sob mais de 100 geleiras e recortando inúmeros outros lagos. Durante o verão, é normal encontrar animais como alces, veados, cabras de montanhas, lobos e até ursos no caminho. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, as vidas urbana e selvagem convivem lado a lado. Alguns turistas costumam descer dos carros para observar e fotografar os bichos. Mas é proibido alimentar os animais e não é recomendável ficar a menos de 30 metros de distância de um urso, principalmente se for uma fêmea com filhotes. Os animais costumam frequentar inclusive as áreas urbanas, por isso todas as latas de lixo têm uma trava para impedir que uma patada facilite a vida de um urso faminto.

VERÃO: Canoísta aproveita o azul-turquesa do lado Louise sob o sol canadense(Foto: Fernanda Franco)

ENTRE AS PAISAGENS que podem te fazer perder a atenção na direção, está o lago Peyto, distante 40 quilômetros do início. A saída para o lago verde-esmeralda, que ganhou esse nome quando foi descoberto por Bill Peyto, um dos guias mais antigos da região, é também a mesma para o cume da Bow, montanha de 2.088 metros, a mais alta da estrada.

Cerca de 80 quilômetros mais ao norte está o maior campo de gelo ao sul do Alasca, o Columbia Icefields. A neve e o gelo glaciar cobrem cerca de 390 metros quadrados de área, e o que derrete é escoado para os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Entre maio e novembro há um tour pela região em que é possível andar sobre a gigantesca placa de gelo e entender os impactos que essa formação tem sobre o meio ambiente.

Jasper, o ponto final desta magnífica jornada é bem menor que Banff e protegida pelo maior parque nacional das Montanhas Rochosas, que leva o nome da cidade. Com apenas 4.500 habitantes, Jasper não tem lojas de grifes ou restaurantes globais, e orgulha-se disso. Há fartas opções para trekking e canoagem nos rios da região. A 8 quilômetros do centro, está um teleférico que funciona de abril a outubro e conduz os visitantes ao topo do monte Whistler, a 2.285 metros, de onde é possível avistar o monte Robson, no estado vizinho da Columbia Britânica.

Para brindar a experiência, finalize experimentando alguma(s) das cervejas locais da Jasper Brewing Company, encontrada em qualquer pub da cidade. Feita com os melhores maltes, ela usa o processo de fermentação típico inglês e conta com a água pura vinda dos glaciares.

FASCINAÇÃO POR MONTANHAS

Não por acaso, as montanhas Rochosas, extensa cadeia de montanhas que vai do Alasca ao México, cortando todo o território norte-americano na costa oeste, emprestam seu nome à editora que publica a Go Outside. “Já gostava de montanhas, e me apaixonei por elas quando conheci as Rochosas norte-americanas, praticando esqui no Colorado. Mas foi numa viagem de carro com minha esposa pela parte canadense, a mais bela e dramática na minha opinião, que resolvi que esse jeito de conviver com as montanhas faria parte da minha vida e da minha família para sempre. Minha primeira equipe de corrida de aventura chamava-se Rocky Mountain, e ao concretizar o sonho de trazer a revista norte-americana Outside para o Brasil, batizei a editora com o mesmo nome”, conta Caco Alzugaray, publisher da Go Outside.

ANOTE AÍ

– A melhor opção é usar os voos que a Air Canadá oferece para Toronto, com conexão para Calgary. Mas seja generoso com o tempo entre os voos para não precisar remarcar o bilhete. A imigração em Toronto é rigorosa com alguns voos.

– Acredite nas chances de encontrar ursos ou outros animais selvagens nas trilhas. Ande sempre acompanhado, faça barulho na trilha, use um sino pendurado na bike e considere levar um spray contra ursos.

– O clima é sempre muito seco. É comum ganhar feridas na boca e no nariz. Beba sempre muita água, pois a desidratação chega sem você perceber, mesmo no inverno.

– Vista-se em camadas e saia sempre preparado para uma variação brusca de temperatura. Em setembro ou maio ainda é comum encontrar neve. Leve comida e roupa extra, kit de primeiros socorros e de reparo para bike. Avise a alguém para onde está indo.

– Não caia na onda das piscinas termais. Apesar do apelo das águas sulfurosas e do belíssimo visual ao redor, a sensação de estar numa piscina azulejada de clube não compensa. Prefira o confortável e luxuoso spa do hotel Fairmont Banff Springs, uma construção histórica de 1884.

– É possível percorrer a região de trem. O passeio é de luxo, mas a beleza da viagem compensa o preço.

– Mesmo ficando regularmente aberta o ano todo, a Icefield Parkways pode ser fechada para controles de avalanches.

– Os sites das cidades fornecem excelentes dicas de hospedagem e roteiros (tourismcanmore.com, banfflakelouise.com, jaspercanadianrockies.com).

– Entrada, pernoite e atividades como pesca são pagas e tabeladas em quase todos os parques nacionais canadenses. O que é arrecadado é revertido em estrutura para os usuários e em projetos de preservação. Para se planejar acesse aqui.

(*Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2009 e atualizada em março de 2019)