Roteiro de uma semana para desbravar praticamente toda a Ilha Grande
Por Alexandre Cappi
Sete dias no paraíso. Este é o tempo ideal para explorar a Ilha Grande, no Rio de Janeiro, que possui 193 quilômetros quadrados.
Na Ilha Grande fica um dos melhores trekkings do estado fluminense. São mais de 140 quilômetros de trilhas contornando partes da área protegida da ilha. Contida na Área de Proteção Ambiental dos Tamoios (APA), a ilha é subdividida em três regiões de preservação: Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG), Parque Estadual Marinho do Aventureiro (PEMA) e Reserva Biológica da Praia do Sul (RBPS).
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Alguns trechos são proibidos à visitação pública (na RBPS, por exemplo) ou possuem um tempo limite de permanência dos turistas (apenas durante o dia). Por causa dessas restrições, para realizar a volta completa na ilha (autorização concedida apenas para fins científicos ou documentais), é necessário pedir uma autorização para a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) e uma para o Instituto Estadual de Florestas (IEF), respectivos administradores da reserva e do parque.
A seguir, uma sugestão de roteiro que começa na praia dos Aventureiros, percorre 68 quilômetros de trekking até a Abraão. A partir desta praia visita algumas áreas protegidas por meio de caminhadas bate-e-volta, já que o acampamento selvagem é proibido em toda ilha. No total, são 141 quilômetros de trekking, somente em trechos que não precisam de autorização.
1° dia: de Angra dos Reis a Ilha Grande (1h30 de barco)
Procure chegar de manhã no principal cais da cidade de Angra dos Reis (RJ). Há estacionamento no entorno. Se ali não houver vagas, na entrada da rodoviária existe um estacionamento descoberto. Cheque o horário do barco para a praia do Aventureiro (R$ 60). Caso não haja mais barcos neste dia, uma opção é pegar outro para a praia do Abraão, fazendo o trekking sugerido de forma invertida.
As barcas com destino a Abraão ficam a 500 metros do cais principal e partem sempre às 15h30. A travessia para Abraão, que dura 1h30, também pode ser feita a partir da cidade de Mangaratiba, com saída às 8 horas. Já em Aventureiro, depois de também 1h30 de travessia, coloque a pulseira de autorização fornecida pela associação local para permanecer na praia. Aqui não há opções de pousadas. Assim, escolha um camping mais afastado do início da praia, próximo à entrada da trilha, no canto oposto da praia. Aproveite para conhecer a praia do Demo, antes do jantar.
2° dia: de Aventureiro para Provetá, e depois Araçatiba (16 quilômetros; 5 horas)
O trekking começa com uma ladeira de 340 metros de desnível, sentido praia de Provetá. Pergunte no camping onde começa o percurso e saia antes das 10 horas, para não sofrer com o sol. Há água potável no início da descida da montanha. Mas desça devagar e use um bastão ou cajado para não sobrecarregar os joelhos. Em Provetá, siga pela areia até a entrada principal de acesso à igreja. A trilha recomeça no lado direito, entre as casas. Rumo a Araçatiba, você tem pela frente outra subida, de 250 metros de desnível. Já nos trechos de descida aparecem bifurcações que dão acesso às praias do Gaúcho e Vermelha. Mantenha-se sempre à direita, sentido Araçatibinha. Chegando a esta micropraia, localize a trilha para Araçatiba, onde há pousada por R$ 60 o casal e camping por R$ 15, ambos com café da manhã (Cantinho de Ará; 24 3365 1184).
3° dia: de Araçatiba para Longa, Sítio Forte e Mataríz (21 quilômetros; 6 horas)
Em Araçatiba, vá até o outro extremo da praia e siga pelo trajeto cimentado entre as pousadas até encontrar a trilha. Neste dia, uma dica para não sair do percurso é sempre seguir os postes de eletricidade. Após atravessar um morro (200 metros de desnível), você chega à praia Longa. Ande pela areia até encontrar um caminho que segue por entre as casas para retornar à trilha. Siga por mais uma forte subida e depois se torna mais tranquila, margeando a enseada de Sítio Forte. Após a última praia da enseada, a Passa Terra, contorne o morro à esquerda subindo mais de 100 metros, sentido Mataríz. Como esta praia é muito pequena, tente se hospedar numa pousada para descansar, pois o dia seguinte é o mais longo da travessia (a Recanto dos Limas oferece chalé por R$ 80, com café da manhã; recantodoslimas.com).
4° dia: de Maratíz para Bananal, Freguesia, Saco do Céu e Abraão (31 quilômetros; 8 horas)
Acorde cedo para retomar a trilha em direção à praia de Bananal. Seguindo pela costeira, siga à direita da praia, sentido Freguesia de Santana. Ao chegar neste povoado, peça informações sobre a trilha rumo à Saco do Céu.
Uma dica: dos fundos do vilarejo de Bananal sai uma trilha pouco frequentada que corta 9 quilômetros de percurso e dá acesso direto ao Saco do Céu, depois de 2 horas de caminhada cruzando um morro de 250 metros de desnível. Informe-se sobre a localização dessa trilha em Bananal. Quando chegar na praia Saco do Céu, continue contornando a costeira variando entre praia e trilha até o final da praia Enseada das Estrelas. O acesso à trilha para Abraão está no final da última praia, após um barzinho. Logo no início da subida, há uma bifurcação à direita que dá acesso à cachoeira da Feiticeira, a poucos minutos dali. Agora, seguindo em frente por cerca de 2 horas, você alcança o maior povoado da ilha, com bastante opções de hospedagem (procure uma ideal para você ilhagrande.org).
5° dia: de Abraão para Dois Rios e Caxadaço (29 quilômetros; 8 horas)
A partir deste dia não será mais necessário carregar a mochila, pois as caminhadas serão de ida e volta. Como o dia anterior foi puxado, faça o percurso moderado (de 18 quilômetros) até a praia de Dois Rios. Lá se encontram as ruínas do presídio Cândido Mendes. Caso sobrem forças, estique mais 5 quilômetros até a praia de Caxadaço, por meio de uma trilha de pedras. O começo deste trajeto está marcado com uma placa à esquerda, antes do final da estrada. Nesta área, dentro do PEIG, não há pousada ou camping, sendo proibido o pernoite de turistas.
6° dia: de Abraão para Palmas, Pouso, Lopes Mendes e Santo Antônio (22 quilômetros; 7 horas)
Novamente a partir de Abraão, siga à direita pela praia até pegar a trilha sentido praia de Palmas. A distândia é de pouco mais de 1 hora, 200 metros morro acima. Após a ponte, caminhe pela areia até acessar a trilha que contorna a costa, terminando na praia do Pouso. Quase no final da praia, pegue a trilha à direita, atravessando o morro de 50 metros até a Lopes Mendes. Esta praia é considerada uma das mais lindas do planeta. Outra dica bacana é esticar mais meia hora até a pequena Santo Antônio, cuja trilha de acesso está no alto do morro entre Pouso e Lopes. Se sua disposição estiver abalada para regressar à praia de Abraão, basta apelar para um dos barcos resgates na Pouso. Se pechinchar, o trajeto sai por R$ 5.
7° dia: de Abraão para o Pico do Papagaio (22 quilômetros; 6 horas)
O último dia é o ataque ao Pico do Papagaio. Se o dia estiver com poucas nuvens, vale a pena encarar a brutal ladeira de 982 metros de desnível para voltar para casa com uma visão espacial de Ilha Grande. Para acessar a trilha, siga pela estrada de terra por cerca de 700 metros até encontrar uma placa para o pico, situada do lado direito. O caminho passa por três riachos de água não potável, portanto leve, no mínimo, 4 litros de água em sua mochila. Como até Deus descansou no sétimo dia, sugiro pegar o barco de volta para o continente somente no dia seguinte.
ANOTE AÍ
>> A melhor época para encarar a aventura é entre maio e outubro, período de poucas chuvas e solo seco.
>> O relevo montanhoso da ilha exige boa preparação física para suportar os cerca de 900 metros de desnível acumulados no final do sétimo dia.
>> Algumas trilhas não possuem placas de sinalização ou estão depredadas, tornando indispensável mapa da ilha (compre pelo site do IBGE ou em bancas de Angra) e bússola.
>> Para evitar contratempos, sempre que passar por algum vilarejo, compre água e pergunte a posição exata das próximas trilhas.
>> O que levar: uma mochila de 40 litros, barraca, isolante, saco de dormir, protetor solar, pouca roupa de tecidos leves, corta-vento, seis pares de meias, canivete, sacos de lixo, boné ou chapéu, lanterna, kit de primeiros socorros, bússola, mapa, reservatório de hidratação, suprimentos para seis almoços rápidos, além de barras de cereais e carboidratos.
(Reportagem publicada originalmente na Revista Go Outside)