As vendas de bicicletas no Brasil tiveram uma queda de 35% no ano de 2022, em comparação com o ano de 2021. A constatação foi feita pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas) a partir do monitoramento de dados com lojistas de todo o país, bem como análise de números de importação de bicicletas e componentes no Brasil.
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Segundo a Entidade, as bicicletas chamadas de “entrada”, com valores que vão de R$ 800,00 a R$ 2.000,00, foram as que apresentaram as maiores quedas. Apesar de serem menos afetadas, as vendas das bicicletas de valor elevado, inclusive as importadas, também sofreram uma retração.
Mesmo sofrendo com a falta de insumos e quebras na cadeia de produção, em 2020 as vendas de bicicleta bateram recorde no Brasil, passando por um crescimento de 50% em relação a 2019. Em 2021, o mercado continuou extremamente positivo para a bike, com um recuo de apenas 2% em relação ao ano anterior.
“Os números da pesquisa representam bem a atualidade do mercado brasileiro de bicicletas. Pode-se dizer que esse decréscimo de vendas era até esperado, por conta da alta recorde que tivemos nos dois anos anteriores”, explica Rodrigo Coelho, vice-presidente da Aliança Bike.
“Ainda estamos vivendo um momento em que o mercado está retraído, mas a tendência é melhorar, já que é como o mercado funciona. A hora é de trabalhar com inteligência, manter o mercado abastecido e gerir os estoques para que as vendas retomem um viés de alta”, complementou.
Como argumentou o vice-presidente da associação, apesar da retração em 2022, os dados mostram que o mercado de bicicletas mantém patamar de vendas próximo ao apresentado em 2018 e 2019, período que antecedeu a pandemia de Covid-19. Em 2018 e 2019, foram vendidas cerca de 4 milhões de bicicletas, com este número ficando na casa dos 3,8 milhões em 2022. Enquanto isso, foram vendidas cerca de 6 milhões de bicicletas em 2020, e cerca de 5,8 milhões em 2021.
O que tem puxado os números para baixo?
De acordo com lojistas entrevistados pela Aliança Bike, três fatores atuando em conjunto são os principais responsáveis pela redução nas vendas de bicicletas novas e usadas no Brasil.
O primeiro deles é a saturação do mercado com bicicletas usadas, adquiridas durante a pandemia, e que agora estão sendo vendidas pelos próprios ciclistas. Isso porque, com as medidas de distanciamento social adotadas, muitos optaram pela bike como forma de manter uma atividade física ao ar livre, ou mesmo para fugir do transporte público, situação que não se sustentou com o retorno à “normalidade”.
Além disso, a queda do consumo familiar por conta da atual crise econômica também é apontada como uma das principais causas da atual situação do mercado. Por fim, a elevação da taxa SELIC para conter a inflação gerou um receio de endividamento e falta de disponibilidade de crédito, afetando diretamente a venda de bicicletas de gama mais elevada.
“Em 2020, os lojistas que tinham bicicletas venderam bem, já que na pandemia a bike tornou-se uma opção de exercício ao ar livre, gerando uma explosão de consumo. Chegando em 2021, a falta de componentes gerou atrasos nas linhas de produção, e por isso vendemos menos do que poderíamos. Além disso, muita gente que comprou bike no ano anterior, mas não se manteve no esporte, acabou colocando o equipamento para vender por conta própria, e isso dificultou o trabalho dos lojistas”, explicou Adriana Costa, proprietária da Sports Indaia Bike Shop, loja de Indaiatuba, São Paulo, que já está no mercado há 12 anos.
“Já 2022 não foi ruim, mas também não dá para considerar um ano bom. Muitos eventos tiraram a atenção, como a Copa do Mundo e as eleições. Imagino que 2023 será um ano desafiador. Em minha loja não faremos grandes compras para não nos endividarmos”, complementou.
Importação de bicicletas e componentes também sofre retração
Os dados de importação de bicicletas e componentes, seja para o varejo ou para linhas de montagem, corroboram os números fornecidos pelos lojistas, reforçando o cenário atual de queda de vendas.
Bicicletas inteiras, por exemplo, sofreram uma redução de 53% entre 2021 e 2022. Além disso, a quantidade de quadros e garfos importados caiu em 44,6%, representando uma retração de 21,7% no total do valor importado para estes componentes.
As importações de outros componentes presentes em todas as bikes, como as pedivelas e coroas, também sofreram uma queda de 33,8% na quantidade importada, e de 21.1% no valor.
Contexto do mercado nos últimos anos
Em 2020, o mercado de bicicletas no Brasil foi fortemente afetado pela pandemia de coronavírus. Em março, por exemplo, o faturamento das lojas no setor caiu até 70%, devido, inclusive, ao fechamento de fábricas na Ásia.
No entanto, em maio de 2020, seguindo uma tendência mundial de aumento nas vendas de bicicletas, o Brasil começou a responder positivamente e, no final do ano, o mercado de bicicletas registrou uma média de 50% de aumento nas vendas em comparação com 2019, com pico de vendas no mês de julho de 2020 (118%).
Durante o primeiro semestre de 2021, o aumento nas vendas foi de 34,17% em comparação com o mesmo período de 2020, porém o segundo semestre de 2021 foi de retração no consumo, já indicando o que viria em 2022.
Estimativas de vendas no comércio varejista de bicicletas*
- 2018: 4 a 4,5 milhões de unidades
- 2019: 4 a 4,5 milhões de unidades
- 2020: 6 milhões de unidades
- 2021: 5,8 milhões de unidades
- 2022: 3,77 milhões de unidades
*Baseado no monitoramento da Aliança Bike com lojistas e nos dados de produção, montagem e importação de bicicletas e componentes. A estimativa contempla bicicletas novas e usadas.
Fonte: Aliança Bike