Um puma atacou este grupo de ciclistas. Elas lutaram de volta por 45 minutos

Por Redação

puma
As ciclistas tiraram esta selfie no último dia 17 de fevereiro, pouco antes de entrarem na trilha. Trinta quilômetros adiante, um puma atacaria uma delas. Foto: Reprodução / KUOW.org.

Era um lindo dia em Tokul Creek, nos arredores de Snoqualmie, no estado de Washington (EUA), quando um grupo de cinco ciclistas – todas mulheres na casa dos 50 e 60 anos – se reuniu em uma trilha ao norte da cidade.

No portão amarelo, antes de adentrarem pela floresta, as mulheres tiraram uma selfie. Elas não imaginavam que, 30 km adiante, um jovem puma macho atacaria uma delas, e que passariam 45 minutos em uma verdadeira batalha por suas vidas.

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Pumas são felinos selvagens reclusos e tendem a se afastar dos humanos. Nesta região dos EUA eles estão no topo da cadeia alimentar, podendo sempre estar à espreita, mas os avistamentos são raros.

Ainda mais incomum é um ataque a humanos. Houve 20 ataques de pumas registrados no estado de Washington no último século, dois deles fatais.

O conselho predominante em um encontro com um puma é aumentar a própria estatura e fazer barulho. Então, quando dois pumas atravessaram a trilha de cascalho onde as ciclistas pedalavam, Auna Tietz começou a gritar.

“Puma! Puma!”.

O primeiro puma, presumivelmente a mãe ou um irmão, fugiu. Mas o mais jovem pausou… e então avançou sobre Keri Bergere, 60 anos, que estava pedalando alguns metros à frente do grupo.

“Olhando para a minha direita, eu vi o rosto do puma”, disse Bergere. “Foi apenas um instante, e ele me derrubou da bicicleta”, declarou a ciclista em depoimento ao site KUOW.

Bergere e o puma rolaram para uma vala rasa ao lado da trilha. O animal cravou seus dentes na mandíbula da ciclista, pressionando seu rosto contra a terra.

“Eu pensei que meus dentes estavam se soltando, e que eu iria engoli-los”, ela disse. “Eu podia sentir meus ossos esmagando, e ele continuava rasgando.”

O puma arrancou um brinco de sua orelha, mantendo uma pressão vicejante sobre ela. “Eu senti como se estivesse sufocando,” afirmou. “Eu podia sentir o gosto de sangue na minha boca.”

Bergere, que possui baixa estatura e cabelos brancos, se descreve como uma atleta extrema. Seus amigos e colegas de equipe da Recycled Cycles Racing acrescentam que ela é calorosa, otimista e durona.

Ela já pedalou através do estado de Washington duas vezes, e uma vez completou uma corrida de 300 km em um dia. Neste dia específico, ela havia acabado de se recuperar de uma batalha de duas semanas contra a Covid, e estava de volta ao selim pela primeira vez desde que ficou doente.

O rosto de Keri Bergere no dia seguinte ao ataque do animal em uma trilha ao norte de Snoqualmie. Foto: Reprodução / KUOW.

Enquanto Bergere inalava o chão, ela podia ouvir suas amigas se mobilizando ao redor dela com pedras e paus. Elas gritavam, desdobrando palavrões.

“Essas senhoras não são grandes, e elas estavam matando esse puma,” disse Bergere. “Elas não iam deixar ele me pegar.”

As mulheres lutaram. Uma tinha uma faca de 5 cm e a usou para esfaquear o felino – com pouco êxito.

A ciclista Annie Bilotta, 64, tentou estrangular o gato. “Foi como estrangular uma rocha,” ela relatou. “Não aconteceu absolutamente nada.”

Bilotta também enfiou a mão na boca do puma, tentando abrir suas mandíbulas da amiga.

“Eu senti ele mudando sua postura como se quisesse tentar me morder também,” relatou. “Eu disse ‘não, você não vai pegar nós duas’.”

Auna Tietz, 59, agarrou a perna do animal.

“O puma tinha suas garras praticamente ao redor dela, em modo de ataque,” disse Tietz. “Tipo, ‘Eu vou ter minha presa agora, e em alguns minutos eu vou comê-la.’”

Enquanto as outras batiam no puma com pedras e paus, Tietz tentou entender a situação.

“Na minha cabeça, era ‘ok, qual seria a medida mais drástica?” ela disse. “Eu preciso encontrar a maior pedra que eu conseguir levantar.”

Ela encontrou uma pedra de 11 kg, do tamanho de um grande melão.

“Eu tive que basicamente levantá-la numa posição de agachamento com as duas mãos, e então deixá-la cair de cerca de 2 metros”, disse Tietz.

A cabeça do puma estava perto da de Bergere, o que tornava isso uma empreitada arriscada. Tietz consultou Bergere.

“É isso que eu quero fazer agora,” ela disse à amiga. “Espero que saia como planejado.”

Bergere deu-lhe um sinal de positivo.

Tietz derrubou a pedra na cabeça do puma quatro ou cinco vezes antes de quase desistir.

As ciclistas já com o puma imobilizado embaixo da bike. Foto: Reprodução / KUOW.

“Eu estava sentada, e na verdade disse, ‘Eu não consigo mais fazer isso,’” disse Tietz. “Mas então eu vi todas as outras meninas fazendo sua parte e ajudando, e é claro que recuperei forças, e disse, ‘Ok, eu consigo fazer isso.’”

Bergere também estava perdendo forças depois de ter enfiado seus dedos nas narinas do puma, e tentando espetar seus olhos.

“Eu estava engolindo tanto sangue,” ela disse. “Eu só pensei que estava acabado. Mas então eu tive outro pequeno surto, sabe, viver para pedalar mais um dia.”

Após 15 minutos, Annie Bilotta notou que o puma começou a fraquejar.

“Vai, vai, vai, sai daqui”, ela gritou para Bergere.

O puma a soltou, e Bergere se arrastou de mãos e joelhos para descansar no meio da trilha.

“Eu apenas me deitei lá, e elas continuaram a batalha”, disse Bergere.

Tisch Williams, 59, outra ciclista, pensou em pegar uma das bicicletas, uma cyclocross de US$ 6 mil (cerca de R$ 30 mil) pertencente a Erica Wolf, 51, para imobilizar o jovem puma.

Mas o puma continuou lutando também – em um momento, levantando a bicicleta com as mulheres em pé sobre ela.

Incapazes de cuidar de Bergere, elas a chamaram, “Como você está?”

“Ela apenas levantou um polegar ensanguentado”, disse Tisch Williams.

Com o puma aparentemente fragilizado, as mulheres chamaram o 911.

Por sorte, um oficial do departamento local de Polícia de Pesca e Vida Selvagem estava por perto. Levou 30 minutos para ele alcançar as mulheres. Às 12h52, o oficial Chris Moszeter chegou.

Moszeter instruiu algumas das mulheres a ficarem sobre a bicicleta para manter o felino imobilizado. Então, ele atirou no puma entre as omoplatas.

As mulheres mais tarde diriam que foi um momento de partir o coração. Elas amam animais; Erica Wolf, cuja bicicleta imobilizou o puma, faz parte do conselho do PAWS, uma organização de resgate de animais. Mas foi uma escolha entre a vida do puma e a de Bergere. Nunca houve dúvida sobre o que precisava ser feito.

Após a morte do puma, Tietz correu até Bergere.

“Foi um alívio”, disse Tietz. “Sair da bicicleta finalmente me libertou para estar com Keri e dizer a ela, ‘Você está segura agora. Você estará em boas mãos. Você estará no hospital em breve.”

Já se passou quase um mês desde o ataque do puma.

Uma autópsia do felino selvagem revelou que ele tinha entre nove meses a um ano de idade. Estava saudável, e seu corpo não mostrava sinais de sofrimento físico. Ele não tinha raiva.

Por que o felino selvagem atacou Bergere permanecerá desconhecido. A autópsia resolveu um mistério, no entanto: onde o brinco de Bergere desapareceu.

O Sargento Carlo Pace, da Polícia de Pesca e Vida Selvagem de Washington, perguntou a Bergere se estava faltando um brinco. Eles encontraram um na barriga do puma.

Ela queria de volta? “Com certeza”, respondeu Bergere. Ela disse que iria pendurá-lo, como uma espécie de souvenir e um testemunho da coragem de suas amigas.

“Todas essas senhoras mostraram uma força sobrenatural”, ela disse. “Elas são senhoras pequeninas, e eu sei que a Pesca e Vida Selvagem deu o tiro final para matá-lo. Mas essas senhoras mataram aquele puma com suas próprias mãos e sem armas. Sou eternamente grata a cada uma delas.”







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