Em 23 de maio de 2021 me tornei a primeira mulher negra e latino-americana a chegar no topo do Everest e isso me faz ter certeza de que vivemos o racismo estrutural. Afinal, como explicar que, em um país onde a maioria da população se declara negra, somente agora vimos um feito como este?
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Eu comecei a desejar escalar o Everest após nove de experiência no montanhismo e apesar do longo período de experiência, não foi nada fácil conseguir recursos para estar lá: tratava-se de uma empreitada caríssima, algo muito longe da minha realidade financeira.
No entanto, voltei a trabalhar com reciclagem de resíduos e consegui garantir, por meio dela, um terço do investimento necessário. A outra parte foi alcançada com financiamento coletivo, bazar de roupas e móveis, leilão de celulares e captação de patrocínio.
A minha realização abriu portas para outras pessoas: mulheres, mulheres negras, e mulheres negras e periféricas, para que acreditem que também podem SONHAR e REALIZAR. Escalar a mais alta montanha do planeta significa para mim o primeiro passo da realização do meu maior sonho, o de transformação social e ambiental, principalmente nas favelas do Brasil.
Ter conhecido o coletivo Negritude Outdoor (@negritudeoutdoor) em março de 2020 fortaleceu meu propósito. Conheci pessoas que também almejam ocupar espaços ainda elitizados e que têm um desejo ardente de conquistar a equidade de oportunidades também nas atividades junto à natureza.
A gente está conseguindo romper barreiras e ocupar espaços antes pouco democratizados e diversos, com trocas e parcerias sendo formadas. Através do Negritude Outdoor estamos desenvolvendo ótimas relações, em um grupo com potencial enorme para desenvolver ainda mais, com grandes projetos e aprendizagem.
*Aretha Duarte (@aretha_duarte) é guia de montanha, ativista ambiental e empreendedora social. Com vasta experiência escalando e guiando em alta montanha ao redor do mundo, em maio de 2021 tornou-se uma das 5 mulheres brasileiras a chegar no topo do mundo na história, e primeira mulher negra latino-americana.
Este post integra uma série especial comandada pelo Negritude Outdoor na Semana da Consciência Negra. Ao longo dos próximos dias, vamos apresentar pessoas do coletivo nas plataformas da Go Outside. Estendemos o convite a toda a comunidade outdoor para refletir e agir com a gente: O que podemos fazer para entendermos uns aos outros e caminharmos juntos?