Anderson Lima conquista os 335m da via Evolução sem equipamento

Por Redação

Anderson Lima
Alguns escaladores locais tentaram fazer Anderson desistir, mas ele não se deixou abater. Foto: Arquivo Pessoal.

No dia 6 de novembro, o escalador brasileiro Anderson Lima, 39 anos, alcançou um feito inédito na modalidade free solo.

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Sem o uso de equipamentos de segurança, ele conquistou os 335 metros da Evolução, via 6º sup e uma das mais clássicas do país.

Anderson precisou de exatos em 58 minutos para chegar até o topo deste paredão vertical, localizado no Morro do Pedrão, em Pedralva, sul de Minas Gerais.

Foi a primeira vez que alguém encarou os 335 metros da Evolução sem o uso de nenhum tipo de equipamento.

“No final de 2020, durante uma escalada em Pedralva, uma companheira perguntou se seria possível ‘solar’ a via Evolução. Eu já havia pensado nisso e essa pergunta reacendeu uma chama dentro mim”, conta Anderson.

Anderson treinou durante todo o ano de 2021 para alcançar o feito.

Enfermeiro e professor, ele precisou achar uma brecha na rotina e treinou duro neste ano para o inédito desafio. E a tarefa não foi fácil, já que Anderson mora a cerca de 260 km do Morro do Pedrão.

“Foi muito trabalhoso. Passei a ir pra Pedralva de motocicleta para diminuir os gastos com combustível. Eu saía do meu plantão de trabalho e já pegava a rodovia à noite, chegava de madrugada no abrigo e dormia poucas horas”, relata.

Ao amanhecer, Anderson traçou três estratégias que usava de maneira intermitente nos treinamentos. Em um único dia, ele chegou a subir mais de 1.000 metros.

“Eu solava a via O Sabotador, de 223m em IV grau para acessar o topo da via Evolução e fixar cordas para o treino, e isso era muito desgastante”, diz. “Eu também escalava em solitário da base até o crux, que está na metade da parede (150m), fixava cordas e ficava subindo e descendo”, afirma.

Por fim, ele colocou até sua motoca pra jogo, e dava a volta na montanha com ela até subir ao cume. “Mas isso era mais difícil ainda, pois a moto tinha muita dificuldade para subir e várias vezes levei tombo. Chegando ao cume eu fixava cordas e ficava treinando”, diz.

“Cheguei a repetir os cruxes da via cerca de 68 vezes em três meses de treinamento, para assim alcançar a perfeição na movimentação”, relembra Anderson, que também relatou como foi o grande dia.

“Quando acordei havia uma sensação de anseio, um frio na barriga. A equipe já estava lá, eram quase 15 pessoas. Tínhamos três operadores de drone, dois operadores de resgate, dois fotógrafos e apoio. Isso me deixou apreensivo, eu nunca tinha solado com tanta gente assistindo”, afirma Anderson, que pretende lançar um documentário da empreitada.

“Mas quando toquei na parede me abstrai de tudo, entrei em um nível de meditação e concentração no qual tudo o que conseguia pensar era no movimento. Quando cheguei ao topo, realmente posso dizer que foi algo que nunca senti na vida, eu só conseguia chorar. Meu coração parecia que ia explodir”, emociona-se o pai da pequena filha Emelie, de 8 anos.

Anderson começou a escalar em 2010 e já encarou no free solo outros paredões no Dedo de Deus, Agulha do Diabo, Chaminé Cassin e a Via K2, no Corcovado. Para acompanhar sua rotina, siga o perfil @freesolobrasil no Instagram.