Faça chuva ou faça sol, a ultramaratonista aquática Mayra Santos, 44 anos, está treinando em seu local favorito, na Ilha da Madeira, Portugal. Acostumada a nadar grandes distâncias em rios, lagos e oceanos, a brasileira faz questão de exaltar os benefícios da imersão em águas abertas. “Quando estou na água, meus pensamentos sempre são positivos. É a felicidade pura”, diz.

Através da sua agência, a SwimMadeira, Mayra promove experiências de natação nas águas cristalinas do arquipélago português, onde reside há 20 anos. Durante este tempo, ela também se especializou em completar travessias épicas, como no último mês de dezembro, quando tornou-se a primeira pessoa a “abraçar” a Ilha do Porto Santo a nado, um trajeto de 32 km concluído em 11:19.52 horas de braçadas ininterruptas.

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Ao final do desafio, nem mesmo o cansaço extremo e olhos arrebentados pela água salgada foram capazes de tirar o sorriso da mineira de Juiz de Fora, que viu sua vida se transformar por causa da modalidade. “O mar me traz tantas alegrias… funciona como um remédio natural contra estresse, depressão, ansiedade”, destaca a brasileira.

Mayra Santos ao lado dos alunos em momento de descontração com a SwimMadeira, em Portugal.

Por ser um esporte praticado na natureza, a natação em águas abertas tem sim seus efeitos terapêuticos comprovados. Em 2023, um estudo publicado no Journal of Environmental Psychology ressaltou que nadadores apresentaram menos episódios de estresse e sentiram uma melhora no humor e bem-estar geral quando praticaram no mar. Sem as comodidades de uma piscina, o nado em águas abertas também fortalece a resistência e a autonomia, sem contar a água mais fria, que funciona como um estímulo natural para a circulação sanguínea.

Mas, como toda prática outdoor, a atividade também carrega seus desafios próprios. Vento, frio, ondas, correnteza, barcos e água turva são alguns dos obstáculos frequentes de quem pratica o esporte. Medalhista de bronze nos Jogos do Rio 2016 e atleta mundialmente conhecida, a paulista Poliana Okimoto, 40, relata em seu blog que sentir medo é natural e esse sentimento acompanha a grande maioria dos nadadores em travessias aquáticas. Por isso, ela ressalta que tanto iniciantes como profissionais devem ter na mente estratégias para tomar as decisões certas na hora do perrengue.

“Ao contrário das piscinas, um ambiente normalmente controlado, o mar é completamente imprevisível. Ondas, correntezas, temperatura, peixes, algas, tudo o que está presente em águas abertas vai influenciar no seu nado”, escreve a ex-campeã mundial. Por isso, ela aconselha nunca estar sozinho na água, usar equipamentos como a boia de sinalização e procurar mares menos agitados, com o mínimo de ressaca possível. “Também tente sempre ter um ponto de referência em terra, tanto para guiar o seu caminho, como para o caso de enfrentar algum problema”, explica Poliana.

Mayra tornou-se a primeira pessoa a “abraçar” a Ilha do Porto Santo a nado, um trajeto de 32 km concluído em 11:19.52 horas de braçadas ininterruptas.
Litoral generoso

Com cada vez mais adeptos, a natação em águas abertas apresenta um crescimento considerável no Brasil, principalmente depois da pandemia, quando muitos nadadores migraram das piscinas e clubes para situações que propiciam maior distanciamento. Em um litoral como o brasileiro, de 7.367 km (sem levar em consideração pequenas baías e enseadas), além de inúmeros rios e lagos, temos à disposição um verdadeiro paraíso para a prática do esporte.

Quando o assunto é alto rendimento, também somos referências mundiais. A baiana Ana Marcela Cunha, 31, medalhista de ouro em Tóquio 2020, é o melhor exemplo disso. Eleita sete vezes a melhor nadadora do mundo, ela faz parte do hall da fama da modalidade e mesmo ainda em atividade já pode ser considerada a maior maratonista aquática de todos os tempos nas provas de 10K.

“É um esporte que mexe com o espírito competitivo dos atletas”, destaca o gaúcho Kiko Klaser, técnico da seleção brasileira de águas abertas. Responsável por lapidar alguns dos principais talentos do país durante o ciclo olímpico de Paris 2024, Klaser comanda uma rotina insana de treinos em Porto Alegre (RS), que pode chegar a 100 quilômetros de braçadas por semana. “Temos uma história de muitas medalhas nesse esporte. Credito isso a muito treinamento, grandes ídolos, mas também a esse litoral extenso, que facilita o contato do brasileiro com as águas abertas”, acrescenta o treinador.

Brasil a nado
natação em águas abertas
Local de Florianópolis, Tarso Gonçalves Soares persegue o objetivo de percorrer todo o litoral brasileiro a pé e a nado.

Resiliência, planejamento e grandes epopeias são parte da essência da natação em águas abertas e o educador físico Tarso Gonçalves Soares, 41 anos, sabe bem disso. Em 2017, ele começou uma inédita travessia com o objetivo de percorrer todo o litoral brasileiro a pé e a nado. “Onde não tem como correr, eu nado, onde não tem como nadar, eu corro”, explica Tarso, que combinou sua experiência no triatlo com a paixão em explorar lugares desconhecidos.

Até agora já foram mais de 1.000 praias “conquistadas”, da Barra do Chuí, no Rio Grande do Sul, até Ilha Grande, no Rio de Janeiro. No último mês de dezembro, Tarso completou a volta à Ilha de Florianópolis, em Santa Catarina, onde reside, uma aventura que contempla 36 km de natação. “Costumo dizer que toda boa aventura começa pelo respeito ao clima e pelo respeito às previsões”, diz Tarso, que prefere não perder a arrebentação de vista.

“Gosto de nadar sempre perto da costa, de observar bem os lugares por onde passo, saber onde fica aquele costão, aquele vale, ter uma conexão autêntica com os lugares”, conta.

De casa em Florianópolis, enquanto monta o quebra-cabeça de sua próxima expedição, Tarso observa atentamente os caminhos que levam à paradisíaca Ilha do Campeche, localizada a 1,5 km de distância da costa, bem pertinho de onde trabalha como salva-vidas.

“Ainda vou nadar muito até ali”, conta o aventureiro, que lembra com saudosismo de suas andanças. “Se você tem algum amigo com casa à beira-mar de Montevidéu ao Rio de Janeiro eu certamente já passei na frente dela”, afirma.

De cabeça

Dicas da Poliana Okimoto para quem se aventurar na natação em águas abertas

1. Nunca nade sozinho

Mesmo que você se sinta apto, procure estar sempre em companhia de outros atletas. Caso não seja possível, avise os guarda-vidas da praia que você está entrando no mar para nadar. Eles ficarão de olho em você.

2. Óculos bem ajustados

A orientação no mar é fator determinante para sua segurança, então é importante que você invista em bons óculos de natação. Eles devem ser confortáveis, com lentes antiembaçantes e da cor correta. Talvez o que seja mais diferente entre os modelos de óculos de natação sejam os tipos de lentes.

Cada um dos modelos existentes no mercado possui uma característica que pode beneficiar ou, ainda, atrapalhar a performance do seu nado. Dentre as opções para travessias em águas abertas, podem se destacar três tipos de lentes: a fumê, ou espelhada e a polarizada.

Com característica de diminuição de incidência luminosa, são indicadas para águas abertas. A fumê possui uma lente escura e, por conta disso, não permite a entrada de muita luz; a espelhada reflete a luz solar; e a polarizada evita a entrada do reflexo do sol, além de proteger dos raios UVA e UVB.

3. Nade sempre de touca

Mesmo que seu cabelo seja curto, mesmo que esteja calor e mesmo que seu costume seja nadar sem touca, opte por nadar com ela, preferencialmente na cor branca, quando estiver nadando no mar. Desta forma você ficará mais visível aos barcos, jet-skis e bombeiros.

4. Use a boia de sinalização individual

Hoje em dia é super fácil de encontrar a boia individual que você leva amarrada por um cinto. Elas são leves e algumas tem uma bolsa interna onde você pode colocar um gel, uma hidratação, a chave do carro e até o celular.

5. Nade beirando a costa

Não nade mar adentro, nade sempre costeando a beira mar, desta forma você fica mais perto da praia e em caso de qualquer mal-estar você estará a poucas braçadas da terra firme.

6. Use um relógio Smartwatch

A prática da natação em águas abertas pode ser tão prazerosa que podemos perder a noção do tempo, então ter um relógio smart pode te ajudar a regular os minutos, a distância e até batimentos cardíacos.

7. Hidrate-se

A hidratação é fundamental para evitar câimbras, dores musculares e mal-estar devido a desidratação. Portanto, se vai treinar no mar, lembre-se de caprichar na hidratação dos três dias que antecedem o treino.

8. Leve um gel

Gosto sempre de me precaver contra possíveis problemas no meio do treino, então deu fome, passou mal, está com muito frio, hipoglicemia? Toma o gel; mal não vai fazer.

9. Passe vaselina

Nadar no mar é diferente de nadar em piscina, o atrito do maiô, axilas, pernas e pescoço é maior quando nadamos no mar, isso porque a água do mar tem sal. Então não se esqueça de caprichar na vaselina, ou correrá sérios riscos de sair machucado(a) do mar.

10. Não se esqueça do protetor solar

Se fazemos atividade física pensando em nossa saúde, não podemos deixar de lado a saúde da pele também. Previna o câncer de pele.

Encontre a sua turma

natação em águas abertas
Foto: Shutterstock.
Eventos amadores e encontros para conhecer o universo do esporte

Travessia Poliana Okimoto

Evento idealizado pela medalhista olímpica e campeã mundial Poliana Okimoto
Onde: litoral paulista
Distância: 500 metros, 1K, 2,5K, 5K e aquathlon
Saiba mais: polianaokimoto.com.br

Travessia do Canal de Ilhabela

Ilhabela recebe inúmeras provas esportivas ao longo do ano. Uma delas é a Travessia do Canal de Ilhabela, com saída do continente e chegada na ilha
Onde: Ilhabela (SP)
Distância: 3,8K
Saiba mais: canaldeilhabela.com.br

Travessia da Pinheira

A Travessia Internacional da Pinheira pode ser disputada individualmente ou por equipes na bela Enseada da Pinheira, litoral catarinense
Onde: Palhoça (SC)
Distância: 5K
Saiba mais: pdaesportes.com.br/travessiadapinheira

SwimMadeira

Experiências de natação em águas abertas voltada para praticantes de todos os níveis no arquipélago conhecido como a “Pérola do Atlântico” do litoral português
Onde: Ilha da Madeira
Quando: janeiro a dezembro
Distância: a combinar
Saiba mais: swimmadeira.com







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