Pesquisadores descobrem mapa estelar que pode ser o mais antigo do mundo

Pesquisadores descobrem mapa estelar que pode ser o mais antigo do mundo
Fragmento do mapa foi achado sob folhas de uma escritura em pergaminho medieval (Crédito: Reprodução/Jornal for the History of Astronomy)

Um mapa estelar completo, que pode ser de autoria do “pai da astronomia científica”, foi encontrado por estudiosos no Mosteiro de Santa Catarina, na península do Sinai, no Egito. O fragmento do mapa, que pode ser o mais antigo do mundo, foi achado sob folhas do códice religioso Climaci Rescriptus, uma escritura em pergaminho medieval. E pode ser uma cópia do catálogo de estrelas perdido do século 2 antes de Cristo (a.C.) de autoria do astrônomo grego Hiparco, que foi o primeiro a tentar mapear todo o céu à noite.

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“Novas evidências para o Catálogo Estelar perdido do antigo astrônomo grego Hiparco vieram à luz graças à imagem multiespectral de um manuscrito de palimpsesto e subsequente decifração e interpretação. Esta nova evidência é a mais confiável até hoje e permite um grande progresso na reconstrução do Catálogo Estelar de Hiparco. Em particular, confirma que o Catálogo Estelar foi originalmente composto em coordenadas equatoriais. Também confirma que o Catálogo de Estrelas de Ptolomeu não foi baseado apenas em dados do Catálogo de Hiparco. Finalmente, a evidência numérica disponível é consistente com uma precisão dentro de 1° das coordenadas estelares reais, o que tornaria o Catálogo de Hiparco significativamente mais preciso do que o de seu sucessor Cláudio Ptolomeu”, diz trecho da publicação dos pesquisadores no Jornal for the History of Astronomy.

O “códice é um palimpsesto” que dizer que os escritos originais foram raspados de seu pergaminho para dar vez a uma série de textos aramaicos palestinos cristãos contando histórias do Antigo e do Novo Testamento. Imagens “multiespectrais” mostram números informando, em graus, o comprimento e a largura da constelação Corona Borealis e as coordenadas das estrelas localizadas em seus cantos mais distantes.

“Fiquei muito empolgado desde o início”, disse Victor Gysembergh, pesquisador líder do estudo. “Ficou imediatamente claro que tínhamos coordenadas estelares”, acrescentou.

Os pesquisadores ficaram ainda mais empolgados após as coordenadas precisas permitirem que estimassem a data em que as coordenadas foram escritas, algo próximo a 129 a.C., quando Hiparco era um astrônomo veterano investigando os céus.

Na história Hiparco é tido como o “pai da astronomia científica”, que viveu entre cerca de 190 a.C. a 120 a.C. e passou grande parte de seus últimos anos fazendo observações astronômicas da ilha de Rodes. Em seu histórico consta uma série de avanços científicos, como modelar com precisão os movimentos do Sol e da Lua; inventar uma escala de brilho para medir as estrelas; o desenvolvimento posterior da trigonometria; e possivelmente inventando o astrolábio, um dispositivo portátil em forma de disco que pode calcular as posições precisas dos corpos celestes.

Registros dão conta de que Hiparco teria catalogado cerca de 850 estrelas no céu noturno, observando suas localizações e brilhos precisos. Ao comparar seu mapa estelar completo com medições mais fragmentárias de estrelas individuais feitas por astrônomos anteriores, Hiparco percebeu que as estrelas distantes pareciam se mover 2 graus de suas posições originais.

Ainda em relação à descoberta, foram tiradas 42 fotos de cada uma das nove páginas pelos pesquisadores, em uma ampla gama de comprimentos de onda antes de digitalizar as fotos com algoritmos de computador que captaram o texto escondido embaixo.

Após a leitura das coordenadas dos fragmentos do mapa, os estudiosos usaram a mesma ideia da precessão planetária da Terra que surgiu do mapa para identificá-la. Invertendo o tempo, eles retrocederam a posição das estrelas da Corona Borealis de volta ao ano em que as luzes brilharam no céu no local exato descrito pela escrita oculta. A data da posição original das estrelas foi em 129 a.C..

Na sequência os estudiosos precisaram descobrir quando a escrita foi feita. Ao pôr data nos fólios de acordo com a paleografia, que é o estudo da identificação de pontos na história por seus distintos estilos de escrita, eles os situaram no século V ou VI d.C., sendo então cópias do catálogo de Hiparco que ainda estavam sendo usados ​​mais de 700 anos depois.

Hiparco, então, ao comparar seu céu noturno com um Aratus Latinus, que é um manuscrito em latim medieval, que há muito tempo se acredita conter uma cópia parcial do catálogo original de Hiparco, os pesquisadores confirmaram que as coordenadas do manuscrito de Aratus para as constelações do Dragão, Ursa Maior e Ursa Menor também foram catalogadas em 129 a.C., fornecendo evidências indiretas convincentes de que o fragmento recém-descoberto se originou da mesma fonte que o manuscrito.

“Este catálogo de estrelas que paira na literatura como uma coisa quase hipotética tornou-se muito concreto”, disse o historiador Mathieu Ossemdrijver na Jornal for the History of Astronomy..

Os pesquisadores acreditam, ainda, que páginas adicionais do catálogo de estrelas podem estar escondidas dentro dos mais de 160 palimpsestos do Mosteiro de Santa Catarina.