É quase uma regra: o olhar que reservamos para os roteiros de férias é sempre mais aberto, atento e curioso do que aquele que avalia a cidade em que vivemos. E, como quase ninguém faz muito turismo dentro de casa, várias atrações locais passam despercebidas até pelos aventureiros mais dedicados.
Conversando com legítimos amantes da vida ao livre, nativos de metrópoles brasileiras, descobrimos pontos preciosos no oceano de prédios e asfalto de quatro cidades, para que você também possa curtir as férias no seu habitat urbano.
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Rio de Janeiro:
Numa cidade batizada de “maravilhosa”, bem mais difícil do que encontrar um lugar para praticar qualquer esporte é driblar a horda de turistas, surfistas e transeuntes que lotam as ruas em todas as épocas do ano. Afinal, no Rio, qualquer lugar é ponto turístico. Porém a capital reserva aos amantes da escalada pontos escondidos cheios de desafios em seus inúmeros paredões de pedra.
Os apaixonados pela modalidade têm tantas opções para praticar dentro da cidade que os atletas André Ilha e Kika Bradford lançaram um livro mapeando 283 vias que estão espalhadas por 11 montanhas, 6 ilhas costeiras e algumas falésias que, no dia a dia, seguem disfarçadas de cenário. Uma das preciosidades do Guia de Escaladas da Zona Sul e Ilhas Costeiras do Rio de Janeiro são as 25 vias da pequena praia da Joatinga, no bairro do Joá, entre São Conrado e a Barra da Tijuca. A praia já foi quase exclusiva de tão escondida entre blocos e falésias. O acesso aos banhistas é feito pelas pedras, e a maré chega a engolir a faixa de areia quando está muito cheia. As vias se espalham por seis setores e oferece níveis distintos de dificuldades para todos os gostos.
Na Joatinga, é possível passar o dia entre as paredes e o mar, mergulhando e escalando. Surfistas também costumam se dar bem nas ondas tubulares de lá. Em dias de verão, especialmente nos fins de semana, é bom chegar cedo para garantir seu lugar ao sol, já que a praia costuma ficar cheia.
São Paulo:
A maior cidade do país costuma exigir uma boa dose de criatividade e espírito desbravador para que você encontre lugares que escapem do domínio do concreto. Os inconformados, no entanto, conseguem descobrir tesouros escondidos entre prédios e avenidas. Uma das regiões mais interessantes da capital é a Zona Norte. Lá abriga parte da serra da Cantareira, um pedaço de mata atlântica repleto de trilhas para serem percorridas correndo, caminhando ou pedalando.
No Parque Estadual da Cantareira (Rua do Horto, 1799), no entanto, as bikes têm que ficar de fora. Mas os corredores ganham trilhas cercadas de fauna e flora preservadas pela lei, já que esta é uma Unidade de Conservação Ambiental. O parque é dividido em quatro núcleos diferentes (Pedra Grande, Águas Claras, Engordador e Cabuçu), com trilhas de diferentes graus de dificuldades. O circuito de visitação da Pedra Grande e de Águas Claras soma 17 quilômetros de subidas bem íngremes e proporciona a mais bonita vista panorâmica de São Paulo.
Se o seu negócio é o mountain bike, a Estrada da Roseira, a cinco quilômetros do parque e na divisa com o município de Mairiporã, oferece trilhas como as dos Macacos, das Aranhas e dos Pinheirinhos, cheias de verde para refrescar os dias de verão. Para fazer downhill, as ribanceiras do Playcenter e da Vovó são as mais recomendadas. O ponto de encontro costuma ser o tradicionalíssimo Bar do Pedrão, que serve uma cervejinha boa para depois do passeio. Antes de voltar para casa, passe na Casa Garabed para experimentar os quitutes armênios, como esfihas, quibes recheados e coalhadas, servidos há mais de 60 anos.
Florianópolis:
No topo da seleção de capitais que conseguiram preservar suas áreas verdes apesar do crescimento, Florianópolis é destino obrigatório para qualquer turista que curte natureza e atividade outdoor. Os privilegiados habitantes desta ilha de Santa Catarina desfrutam de ótimas opções para praticar surf, remo, bike, corrida e todo e qualquer tipo de esporte com a praticidade de estar em um centro bem urbano. Não é à toa que muitas provas multiesportivas acontecem por lá, como a etapa brasileira do Ironman e a Multisports Brasil, por exemplo.
A parte sul da ilha abriga dois parques municipais: o da Lagoa do Peri (estrada Francisco Thomas dos Santos, 3150, km 3) e o da Lagoinha do Leste, a poucos quilômetros dali. No primeiro, que fica a 24 quilômetros do centro da cidade, em frente à praia da Armação, é possível alugar um caiaque e remar 8 quilômetros na lagoa de água doce e morna, costeada pela vegetação dessa reserva biológica. Depois de remar, vale seguir por trilhas sinalizadas que levam a lindas cachoeiras e ao antigo engenho de farinha e de cana-de-açúcar que existia por lá séculos atrás.
Perto dali, a trilha de duas horas que sai da praia do Matadeiro e percorre áreas de preservação do Parque Municipal da Lagoinha do Leste tem vista panorâmica e banho de água salgada e doce. Passando por rochas e costões, a maior parte do percurso é ensolarada, o que significa que a melhor pedida é chegar à praia do Matadeiro cedinho para escapar do calor. A orientação pela trilha – que tem bastante desnível e exige um pouco mais de esforço em alguns pontos – é bem fácil.
Fortaleza:
Além de amenizar o calor de Fortaleza, os ventos alísios que são mais frequentes no segundo semestre fazem da capital cearense um dos principais destinos dos praticantes dos esportes a vela. Se você for um deles, comece pela praia do Futuro. Em sua extensão de 8 quilômetros já rolou o mundial de Formula Windsurf, uma das regatas mais competitivas do mundo. Os atletas de kitesurf e os windsurfistas de todos os níveis batem ponto ali, onde os ventos sopram, em média, a uma velocidade de 20 nós (cerca de 37 km/h).
E, apesar de você estar em uma metrópole, poderá praticar seu esporte em total segurança. O espaço Windzen, que foi fundado pelo velejador Dudu Mazzocato, um dos pioneiros do kitesurf no Ceará, oferece vestiário, assistência e espaços específicos para guardar pertences ou montar o equipamento. Ao retornar da sessão, você ainda pode aproveitar saladas leves, açaí, sanduíches e sucos naturais no aconchegante restaurante do Windzen.
Se a fome for maior, a Crocobeach é a pedida certa. A barraca mais requintada da praia do Futuro tem um cardápio variado de peixes e frutos do mar e pratos individuais que custam em torno de R$ 40. Às quintas-feiras, o prato é o caranguejo, hábito que virou tradição na cidade. Duas opções para saborear a iguaria são o Chico do Caranguejo e o Vira Verão, ambos na orla da praia do Futuro.