Sou praticante de montanhismo há mais de 25 anos e já estive em muitos lugares incríveis, mas desde que visitei o Monte Roraima pela primeira vez, 15 anos atrás, esse trekking ficou marcado na minha memória como um dos mais maravilhosos que já fiz.
É uma experiência que mistura desafio físico e logístico com uma riquíssima flora endêmica que conta com plantas carnívoras, orquídeas únicas, bromélias maravilhosas e uma paisagem quase lunar, que te faz se sentir caminhando em um mundo perdido, como se fosse há milhões de anos.
Veja também
+ A Trilha da Vida: aventura outdoor também é lugar de criança
+ 5 dicas de segurança na trilha em grupo
+ Como subir o Monte Roraima? O dia a dia de um dos trekkings mais fantásticos do Brasil
Além disso, a montanha está localizada em uma área indígena, o que torna esse trekking uma rica experiência cultural também. Por causa de tudo isso, desde que comecei a praticar montanhismo com minha família sempre sonhei em um dia estar lá com eles novamente nessa montanha mágica.
Nesse ano, para comemorar o Dia das Crianças, depois de mais de 150 trilhas feitas com as nossas filhas, resolvemos que esse seria o momento de realizar o sonho e que já tínhamos experiência suficiente para essa aventura.
Através da nossa agência de viagem, Cria Outdoor (especializada em montanhismo com crianças), em parceria com a Mantra Adventures (agência especializada no Monte Roraima), organizamos o roteiro e outras duas famílias toparam nos acompanhar.
Nosso grupo foi formado por: nós (Fernando Barros, Marcela Tenorio e nossas filhas Marina, de 1 ano e 3 meses, e Gabi, de 4 anos e 8 meses); Fernando e Veronica Brown com seu filho Gustavo, de 2 anos e meio; Camile Hentz e sua filha Eleonora, de 1 ano e 8 meses. Também existia o grupo já formado da Mantra, no qual compartilhamos toda a logística e, além disso, uma equipe enorme de carregadores, guias, cozinheiro e staff. Todos indígenas da região.
Foram seis dias de trekking, por volta de 70 km percorridos. No primeiro dia saímos da vila indígena de Paratepy em uma caminhada de 13 km até o acampamento do Rio Tek. No segundo e terceiro dia tivemos 850 metros de subida acumulada cada para chegar ao topo.
Ficamos duas noites dormindo em uma caverna no topo, chamados de “hotéis” e no quinto dia descemos quase 2.000 metros de desnível em quase dez horas de trekking até o primeiro acampamento novamente. Sendo o último dia um trekking de 13 km e retorno para Boa Vista à noite.
Não foi a primeira vez que alguma criança pequena tenha sido carregada (em mochilas apropriadas para isso) até o topo. Em julho desse ano, uma criança de 2 anos de Boa Vista subiu com os pais. Mas foi a primeira vez que um grupo de quatro crianças pequenas fez isso junto. A primeira vez que uma expedição foi montada especialmente para atender as demandas e peculiaridades de um trekking com os pequenos.
A Marina (nossa Nina) provavelmente também se tornou a criança mais nova a estar no topo do Monte Roraima, com 1 ano e 3 meses. Foi um desafio físico intenso para todos.
A mochila que eu estava carregando a Gabi pesava por volta de 30 kg e dos outros pais que carregavam as crianças menores entre 20 e 25 kg. Além do peso, o desafio mental e emocional também foi grande. É tudo tão intenso em condições assim que parece que vivemos emoções de uma vida inteira resumida em seis dias: alegria, desespero, dor, amor… Tudo a flor da pele.
Tenho certeza que todos voltaram transformados, e com muito o que processar dessa experiência mágica.
Um dos guias locais que nos acompanhou me mandou uma mensagem linda. Dizendo que estava com saudades e que para ele também havia sido uma experiência muito marcante.
“Sonhei com as crianças a noite toda e sinto falta delas, é algo que nunca tinha acontecido comigo. Sinto que foi uma experiência transformadora para mim, me senti muito mais feliz em voltar para casa e estar com a minha família do que das outras vezes. Foi muito lindo para mim e deixo aqui esse texto para dizer que o que vocês fazem é algo que não tem muita explicação, mas tem que ser vivido para entender”, dizia a mensagem.
Trilhar em família, acampar, viver uma imersão na natureza é riquíssimo! Em todos os sentidos possíveis. Esse estilo de vida transformou a nossa família, a educação das nossas filhas e nosso propósito se tornou incentivar e encorajar outras famílias a viverem o mesmo.
Ano que vem voltaremos para o Monte Roraima e espero que seja com um grupo maior ainda de crianças!
Para acompanhar as aventuras de Fernando Barros, siga o perfil @fernando_barros no Instagram.