Novos dados sobre mal da altitude [também conhecido mal da montanha ou doença da altitude] identificam dois fatores de risco-chave para o edema pulmonar de alta altitude, uma das principais causas de morte na montanha mais alta das Américas.
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Em 2021, escrevi sobre o caso de Daniel Granberg, um jovem de 24 anos do Colorado (EUA) que morreu no cume de uma montanha boliviana chamada Illimani devido ao que mais tarde se revelou ser edema pulmonar de alta altitude (HAPE, na sigla em inglês). O que chamou a atenção nesse incidente foi que o Illimani tem apenas 6.438 metros acima do nível do mar, bem abaixo da temida “Zona da Morte”, que começa por volta dos 8.000 metros e é onde ocorrem a maioria das fatalidades no Himalaia. Além disso, Granberg não parecia particularmente debilitado: o HAPE o atingiu de forma sorrateira, sem sinais óbvios de alerta.
Isso é um pouco assustador para qualquer pessoa que se aventure em altitudes elevadas, mas não extremas. O ideal seria ter uma noção mais clara dos fatores de risco e dos sinais de alerta que diferenciam o mal agudo da montanha, algo mais comum e leve, de formas mais severas de doença de altitude, como o HAPE.
Um novo estudo publicado na revista Wilderness & Environmental Medicine oferece algumas pistas valiosas. Emergencistas da Universidade de Vermont, nos EUA, e a equipe médica do Parque Provincial do Aconcágua, liderados por Andrew Park, de Vermont, analisaram os dados de todos os escaladores diagnosticados com HAPE durante o mês de janeiro de 2024 e compararam suas respostas com as de escaladores que não desenvolveram a condição. De fato, surgiram algumas diferenças notáveis na velocidade da ascensão, no tempo de aclimatação em diferentes altitudes e nos sintomas que apresentaram.
O Aconcágua, na Argentina, é a montanha mais alta das Américas, com 6.961 metros. Também é a mais alta fora da Ásia e, possivelmente, o cume não técnico mais alto do mundo, o que significa que pode ser escalado sem habilidades especializadas ou equipamentos técnicos. Isso o torna acessível, mas também permite que montanhistas subam em um ritmo perigoso. Um estudo de 2013 descobriu que cerca de três escaladores morrem a cada ano entre os mais de 3.000 que tentam a ascensão. O HAPE foi a segunda principal causa de morte, depois de traumas, representando um quinto dos óbitos.
A equipe médica do parque monitora os escaladores em acampamentos situados a aproximadamente 3.350 metros e 4.270 metros de altitude. Um ponto crítico é que não há acampamentos intermediários para dormir entre essas duas elevações, o que significa que os escaladores precisam enfrentar uma variação de 900 metros em uma única noite. As diretrizes padrão sobre doenças de altitude da Wilderness Medical Society (sobre as quais já escrevi em detalhes) sugerem que, acima de 3.000 metros, a elevação do local de pernoite não deve aumentar mais do que 500 metros por noite. Se a logística exigir um ganho maior de altitude, é necessário adicionar dias de descanso para manter a média de ascensão dentro desse limite.
Ao todo, 17 escaladores foram diagnosticados com HAPE em janeiro de 2024. A principal característica do HAPE é um acúmulo perigoso de líquido nos pulmões, que prejudica a transferência de oxigênio para a corrente sanguínea. O diagnóstico é baseado principalmente em falta de ar, níveis de oxigenação sanguínea abaixo do esperado para a altitude e um som crepitante nos pulmões. Nenhuma das vítimas de HAPE morreu; todos foram rapidamente evacuados de helicóptero para altitudes mais baixas, que é a principal recomendação para o tratamento.
No geral, os escaladores que desenvolveram HAPE eram muito semelhantes a um grupo de 42 montanhistas estudados no mesmo período que não foram diagnosticados com a condição. Mas algumas diferenças sugestivas emergiram. A mais significativa foi o número de noites passadas no acampamento a 4.270 metros, após a transição abrupta de 900 metros na altitude de pernoite. Os escaladores com HAPE passaram, em média, 3,6 noites nesse acampamento, enquanto os que não desenvolveram HAPE passaram 5,0 noites — uma diferença estatisticamente significativa.
Curiosamente, ambos os grupos haviam planejado um total médio de 10,4 noites para alcançar o cume. O grupo com HAPE até gastou um pouco mais de tempo para chegar aos 4.270 metros, mas permaneceu menos tempo ajustando-se a essa altitude. Normalmente, o risco de doenças de altitude começa a aumentar significativamente a partir de 3.000 metros, então, ao atingir os 4.270 metros, muitas pessoas já estão em uma zona onde os sintomas relacionados à altitude são comuns.
Além disso, 71% dos pacientes com HAPE relataram sintomas de mal agudo da montanha (AMS) a 4.270 metros. O AMS é a forma mais comum e leve de doença de altitude, manifestando-se geralmente como dor de cabeça acompanhada de outros sintomas, como náusea e letargia. A recomendação padrão para AMS é interromper a subida, e, se os sintomas não desaparecerem em poucos dias, descer para uma altitude menor. Notavelmente, todos os escaladores que apresentaram AMS a 4.270 metros e continuaram a ascensão desenvolveram HAPE (em uma altitude mediana de 5.500 metros) sem que seus sintomas de AMS tivessem desaparecido antes de prosseguirem.
Outras observações levantam mais perguntas do que respostas. Quase metade dos escaladores com HAPE relatou ter tomado acetazolamida, um diurético conhecido entre montanhistas pelo nome comercial Diamox, usado para prevenir o AMS. Em contraste, apenas um quinto dos escaladores sem HAPE utilizou o medicamento. Parece improvável que o Diamox esteja causando HAPE, mas é provável que aqueles que tiveram mais dificuldades com a altitude tenham tentado usá-lo e, ainda assim, tenham desenvolvido a condição. Os pesquisadores sugerem que essa relação merece ser estudada mais a fundo.
Da mesma forma, 44% do grupo com HAPE relataram ter tido uma infecção recente do trato respiratório superior, contra apenas 29% do grupo sem HAPE. Essa diferença não foi estatisticamente significativa, mas poderia ser relevante com uma amostra maior. Inflamações persistentes nas vias respiratórias podem contribuir para a permeabilidade dos capilares associada ao HAPE. Por enquanto, essa é mais uma hipótese a ser investigada em pesquisas futuras.
As conclusões mais fortes que podemos tirar dos dados são também as mais conhecidas: suba devagar e, se o mal da altitude surgir, interrompa a ascensão até que os sintomas desapareçam. Esse é um conselho fácil de dar, mas difícil de seguir, especialmente porque sintomas como dor de cabeça e fadiga são vagos e comuns em grandes altitudes. No entanto, os dados oferecem um alerta claro: ignorar essas recomendações aumenta significativamente o risco de desenvolver formas mais graves de doenças de altitude, que, por vezes, surgem sem aviso e podem ser fatais.