#365para42: Correr na esteira, e agora?

Por Cacá Filippini

Correr na esteira

No texto anterior, contei para vocês, de forma resumida, minha trajetória de preparação para a Maratona de Nova York, marcada para acontecer em 1º de novembro deste ano tão estranho e cheio de incertezas (leia o texto aqui). Mas tive um baque: precisei adaptar tudo para correr na esteira. Sem treinos na rua.

Também contei que, com a ajuda de especialistas da saúde e educação física, elaborei um planejamento para ser seguido ao longo dos 12 meses dos meus #365para42. Embora o trimestre inicial do meu projeto tenha sido de bons resultados, algumas questões importantes acabaram sendo deixadas de lado e agora refletem negativamente.

A periodização dos treinos de corrida e até mesmo as sessões de treinos físicos me desanimaram em janeiro, tão logo meu sucesso em cumprir a maratona foi questionado por minha então treinadora. Em alguns dias, o desânimo tomou conta de mim e cheguei a considerar o adiamento desse sonho.

Durante todo o Carnaval, repensei e conversei com meu marido, amigos e diversos especialistas e tomei a decisão de fazer mudanças na equipe responsável por minha preparação física — e seguir adiante.

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Assim comecei uma nova fase, mais intensa e direcionada a resultados evolutivos idealizados pelo Nemi Sabeh Jr., especialista em medicina esportiva e evolução corporal, que está comigo desde o início. Bruna Guido, sócia fundadora da MB Personal Trainers, assessoria especializada em corrida e Triathlon, entrou para o time. E a Mestre em Levantamento de Peso (LPO) Grazzi Favarato passou a coordenar meus treinos físicos de força e mobilidade.

Cheguei ao pós-Carnaval e à primeira quinzena de março, e  meus treinos estavam evoluindo, bem como meus resultados. Em poucos dias imersa na nova dinâmica, minha disposição estava de volta, com meus músculos e fôlego.  Treinar, em média, duas horas por dia já me dava prazer de novo.

Eis que o mundo parou com a pandemia, e a bagunça mental foi reinstalada, agora baseada em um novo cenário de incertezas e dificuldades que jamais imaginaríamos. Academias fechadas e restrições de distanciamento social fizeram com que um dos itens de que menos gosto se tornasse minha maior aliada: a esteira!

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Após uma semana de treinos educativos, subi na “bichinha” e quase morri de tédio para fazer os 10 primeiros quilômetros propostos para o dia. Na realidade, fiz 5 apenas e desci da esteira, frustrada e derretendo de suor. Foi “custoso”, como dizem os mineiros ao se referir a algo chato e difícil.

Pedi uma reunião online com a equipe e despejei sobre Dr. Nemi, Grazzi e Bruna a minha insatisfação e desespero. Não conseguia entender o que estava acontecendo comigo e o porquê de tanta dificuldade.

Não se tratava mais de calçar um par de tênis, vestir uma roupa confortável e começar a correr.

O que até então não estava claro para  mim é que a corrida interna e externa têm finalidades diferentes. Correr na esteira em casa ou nas academias costuma ser indicado para iniciantes, pessoas que estão acima do peso ou fazendo tratamento de lesão, enquanto o treinamento na rua é aconselhado quando o objetivo é melhorar o desempenho e se acostumar com o tipo de piso para as provas – o meu caso!

Como gosto de tirar coisas boas da adversidade e estava supermotivada com o apoio de minha equipe, decidi explorar as possibilidades que a esteira pode me dar. Entre elas os benefícios para meu joelho devido ao amortecimento dos impactos, a chance reduzida de acidentes, a maior comodidade em correr “em casa” porque me exercito a hora que quero e não preciso me deslocar, além da possibilidade de ter alguém me acompanhando online, em tempo real,me ajudando a corrigir os movimento dos braços e pisadas. E, claro, a manutenção de um determinado ritmo, velocidade e inclinação. 

Em dez dias, pude constatar resultados para lá de positivos, e a ideia de virar um “hamster” três vezes por semana, ao correr na esteira em minha própria varanda, já não era um problema. Bastou uma escapada para as ruas do condomínio uma destas madrugadas para me perceber melhor ritmada, com maior consciência corporal e economia de movimentos.

Assim meu treino longo apresentou dados de maior capacidade respiratória, menor tempo de execução e recuperação mais rápida!

Para fechar, minha mais recente descoberta fica a cargo do app Zwift, que faz com que meu treino de corrida na esteira se torne uma competição no estilo “vídeogame”. Com o percurso projetado na tela do meu celular ou computador, corro o mundo com milhares de outros jogadores, me entretenho, aceito os desafios propostos e completo minha planilha na esteira sem ver o tempo passar.

Se você ainda não está na fase dos incômodos da corrida indoor, aqui vão mais algumas razões para fazer as pazes com a esteira e aproveitar o atual momento para reinventar os treinos rumo ao seus objetivo:

1 – Muitos estudos indicam que, na esteira, a inclinação deve estar entre 0,5% e 1,0% para aumentar a intensidade do exercício e, com isso, equiparar a sensação de esforço que temos na rua;

2 – A esteira ajuda na manutenção do sistema musculoesquelético, o que beneficia músculos, ligamentos, articulações, tendões e ossos;

3 – Proporciona maior flexibilidade das articulações, devido à redução de impacto, beneficiando joelhos, quadril e tornozelos;

4 – Aumenta a capacidade cardiorrespiratória, por meio do controle da frequência cardíaca, da percepção do esforço e da velocidade da esteira;

5 – Oferece a comodidade de se fazer o treino no horário que quiser, sem precisarmos nos expor ao vírus que circula por aí.

Ainda tem esteira e lamentando não poder seguir com seus treinos de corrida?

Vale ainda dizer que existem empresas e academias que viram a oportunidade de novos negócios e estão alugando equipamentos para quem quer treinar, não apenas corrida, mas outras modalidades, sem sair de casa.

Assim ultrapasso meus 50 dias de isolamento, treinando em casa e evoluindo bem para completar os meus tão queridos 42.195 km em seis meses!