Coluna sobre maratona #365para42 estreia na Go Outside

Por Cacá Filippini

maratona

No final de 2019, decidi que correria a 50ª Maratona de Nova York em 1º de novembro de 2020, contrariando médicos e até mesmo meu DNA.

No momento em que tomei essa decisão, já sabia que seria um desafio e tanto — em especial porque trago em meu histórico clínico uma lesão no joelho direito desde os 13 anos de idade, com a qual lutei por várias vezes ao longo de quase três décadas.

Mas tudo mudou depois que acompanhei meu marido, Antônio Dib Cardeal, em sua terceira maratona, em setembro do ano passado. Vê-lo correr em Berlim me trouxe à tona todo o desejo adormecido em correr uma maratona.

De volta ao Brasil, fui em busca do “SIM” e encontrei um: “Se é isso que você quer, vamos treinar seu corpo para isso”, disse o Dr. Nemi Sabeh Jr., ortopedista e coordenador  médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Para minha felicidade, ele aceitou o desafio de me preparar para correr com qualidade, os 42.195km com os quais tanto sonhava.

Adepto da medicina esportiva baseada na evolução corporal, Sabeh Jr. me acompanha de perto. Junto com uma equipe multidisciplinar, em três meses me fez experimentar uma nova vida, sem dores no joelho, sem limitações na corrida e, principalmente, com o bem estar de poder executar movimentos simples, como subir escadas, sem sentir incômodos.

Resumidamente, eram seções quase diárias de fisioterapia durante o primeiro mês. No seguinte, voltei às provas de rua com alguns episódios isolados e breves de inflamação no joelho. Finalmente, no último mês, que chamamos de “trimestre de reabilitação”, vi meu desempenho nos 5 km decolar e me levar aos 10 km mais rápidos e menos sofridos de toda a minha vida.

De lá para cá, a ideia foi focar nos treinos, evoluir e fazer como qualquer corredor: aliar a tudo isso planilhas, alimentação e preparação física!

Mesmo com ajustes semanais ainda acontecendo, tínhamos etapas a serem cumpridas. Um calendário de provas de rua, que inclua uma meia maratona já em 31 de maio. Meu semestre estava pensado por completo.

Tudo programado, caminhando bem e pronto para ser vivido. Até que a hashtag #FiqueEmCasa congelou todo o planeta e seus planos!

Maratonas começaram a ser canceladas por todas as partes, e aqui no Brasil não foi diferente. Praticamente todas as provas de corrida do primeiro semestre foram adiadas. E vi meu planejamento ganhando um enorme ponto de interrogação.

A princípio, governantes e especialistas afirmavam que era seguro manter a prática esportiva nas ruas, mas, como o universo da corrida contempla milhares de pessoas, era quase que impossível não criarmos aglomerações ao treinarmos “outdoor”.

Parques, academias e clubes foram fechados. O que era seguro passou a ser arriscado e mal visto pela maioria. Até mesmo o condomínio em que moro colocou restrições para a prática esportiva ao ar livre, fechando todo e qualquer ambiente comum e restringindo a circulação apenas para quem entra ou sai do local.

De repente me vi confinada em um apartamento, pensando: “E agora?!”.

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Como a grande maioria da população mundial, vi meu universo se voltar para o indoor, no meu caso um apartamento em uma grande metrópole chamada São Paulo.

Mas se engana quem pensa que escrevi tudo isso para fechar o texto dizendo que vou adiar meu sonho até que o cenário volte a estar em boas condições.

Meu trajeto tinha 365 dias ao total e já se foram 165 deles. Agora o desafio cresceu, e a vontade de sentir o vento no rosto, as pernas tremendo, o conflito interno durante cada quilometro e a sensação de cruzar o pórtico de chegada ganharam um significado muito maior.

E é exatamente essa a história que escreverei a partir de hoje, aqui na Go Outside, semana a semana, com novos capítulos, desafios, soluções, frustrações, conquistas e tudo aquilo que ainda está por vir nos #365para42. (https://www.instagram.com/365para42/)

A carioca Cacá Filippini, 40, é comunicadora e colunista de corrida de rua no site da Go Outside
Para saber mais sobre a colunista, acesse seus perfis no Instagram @cacafilippini e
@#365para42

 







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