Sempre quis viajar o mundo numa van? Rodar o mundo de bike? Subir uma alta montanha? Esses são alguns sonhos clássicos de quem ama a vida outdoor. Mas sabemos que alguns desses desejos podem ficar perdidos em nossas vidas apenas por não sabermos por onde começar.
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Pensando nisso, fomos atrás de quem mais entende do assunto no Brasil – o navegador Amyr Klink – para saber como dar o primeiro passo em direção aos nossos maiores desejos de liberdade ao ar livre. “Pior que não terminar uma viagem é nunca partir.” A frase de Amyr Klink é quase um mantra para quem planeja uma grande viagem ou projeto. Fomos conversar com o explorador antártico para perguntar quais os maiores erros que as pessoas cometem e que as impedem de começar de fato a ganhar o mundo:
Foque no caminho e não no destino
Às vezes a obsessão com o fim – o cume da montanha, o resultado em uma prova ou a quilometragem de uma cicloviagem – só te afasta do primeiro passo. Valorize as etapas necessárias: treino, aprendizados, testes e até imprevistos. Visualize o primeiro passo e as possibilidades do durante, e não apenas a meta. “Não é só chegar. É construir o caminho. A melhor parte da viagem pode estar no inusitado, no que não está previsto”, diz Amyr.
Planejamento, mas não demais
Com fama de exímio planejador, Amyr na verdade abraça uma visão mais flexível, que não tem a ver com saber onde você vai estar ou o que estará fazendo a cada minuto. Não se preocupe em antecipar cada detalhe. “Uma planilha é uma planilha, a realidade é outra coisa. Planejamento é você estar pronto para mudar o roteiro da viagem inteirinha a cada 30 minutos se precisar”, explica.
A melhor solução é a mais simples
É fácil se deslumbrar com as opções tecnológicas para resolver os mais variados problemas: equipamento ultraleve, projetos customizados, comida liofilizada ou até uma geladeira movida a painéis solares na van… Mas tantas possibilidades podem estar te atrapalhando. “A gente emburreceu com esse negócio chamado geladeira: acostumamos a comprar tudo congelado, esquecemos como fazer conservas de alimentos. A gente não sabe mais salgar, defumar, conservar na gordura, no açúcar, fermentar. Existem infinitos processos para comer bem. Comprar liofilizado é só uma das opções”, exemplifica o navegador. A solução mais simples geralmente é a mais elegante, eficiente e barata.
Não subestime começos humildes
Para executar algo difícil, você precisa dominar o fácil. Uma cicloviagem de feriado pode ser um microcosmo do que você vai encarar cruzando um continente. “Depois que você entra na estrada, vai ganhando confiança. As pessoas querem um começo épico, gigantesco. E, se tomam um não, já desistem”, diz o explorador. Amyr acredita que a diferença entre quem desiste e quem leva adiante um projeto não tem a ver com características psicológicas como persistência ou proatividade. “É a capacidade de simplificar e de começar mais humilde.” Ele acredita também que hoje o acesso a informações faz com que as pessoas queiram “cortar caminho” e ir direto para objetivos tão duros como o Aconcágua, o ponto mais alto das Américas, sem nunca ter pisado em alta montanha. “O bacana é a progressão, aprender a fazer aos poucos. Você só conquista a performance e o desempenho insistindo, treinando, aprendendo.”
Não superestime a importância do dinheiro
Todo projeto envolve investimento. Mas você precisa de menos do que imagina para começar. Faça um levantamento realista dos recursos necessários. “A escassez ensina a ser eficiente, criativo. A contingência faz com que você enxergue bem. Quando você possui recursos em excesso, é natural desperdiçar e cometer mais erros”, alerta Amyr. Ele aconselha não esperar um patrocínio porque esse apoio externo pode nunca vir.
Não deixe o perfeccionismo te paralisar
“O maior risco é só querer partir quando tudo estiver perfeito. Ir melhorando, melhorando e nunca começar”, diz. Vale mais a capacidade de se aperfeiçoar no caminho do que começar com tudo impecável – se é que existem condições perfeitas para dar início a um sonho.
Aprenda a ouvir
Sabe aquela pessoa negativa, que critica tudo? Ela pode ser um presente. “Gente negativa é extremamente útil para um projeto. À medida que ganhamos experiência e prática, temos tendência a ouvir menos. É preciso saber ouvir. Mesmo quando acho que o cara está totalmente enganado e falando coisas absurdas, presto muita atenção, porque pensar o absurdo é importante”, fala Amyr Klink. Use as críticas para identificar falhas reais no projeto e bolar soluções.
*Parte da reportagem “Sonho Meu”, da Revista Go Outside 154.