Antes de fazer uma viagem de cicloturismo no Jalapão, já tinha ouvido falar de várias histórias a respeito do lugar. Essa região do Brasil sempre me fascinou pelo relevo, clima, vegetação e, sobretudo, pelas pessoas.
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Um lugar que é conhecido como “Deserto do Jalapão”, não pelo fato de ser árido, mas sim porque muito pouca gente vive por lá. Dependendo do trecho percorrido e da época do ano, você pode passar o dia sem encontrar ninguém, só algumas poucas cabeças de gado que pastam livremente na vegetação do cerrado. Meu plano inicial não era pedalar solitário, mas aconteceu e foi uma experiência ótima.
Existe uma estrada cascalhada que faz todo o contorno do Jalapão em forma de uma ferradura. O início é em Ponte Alta do Tocantins, uma pequena cidade em torno de 10 mil habitantes conhecida como a porta de entrada do Jalapão. Depois essa estrada passa por duas outras pequenas cidades: Mateiros e São Félix do Jalapão, finalizando em Novo Acordo.
Quem quiser se aventurar no cicloturismo e fazer a volta do Jalapão de bike tem que estar preparado para tudo, principalmente quanto a água, comida e dormir em qualquer lugar. As distâncias são grandes e para quem pensa que se trata de uma planície, pode ter certeza que existem infindáveis subidas e descidas o que atrasa bastante o pedal, ainda mais com uma bike com dois alforjes de 15 a 20 kg cada um, mais a barraca no bagageiro.
Roteiro de cicloturismo no Jalapão
Nível: ****
Duração: 7 dias
Por Tidio Sampaio
1º Dia: Saindo pela manhã bem cedo de Ponte Alta, vale a pena pegar a estrada do sentido contrário a Mateiros para conhecer a Pedra Furada, uma formação rochosa que é um cartão postal do Jalapão. Como é um trecho de ida e volta, deixe todo o peso da bagagem na pousada em Ponte Alta, mas não esqueça de levar água e mantimento para um pedal de 70 km. Voltando a Ponte Alta, monte os alforjes e toda a bagagem na bike, e pegue a estrada em direção a Mateiros. 17 km depois, chega-se à Gruta de Sussuapara. Se ainda tiver forças, pedale mais 23 km e passe a noite na Cachoeira Lajeado, onde dá para acampar no estacionamento. Importante: esse primeiro trecho tem muitas subidas e descidas e pode ser que você tenha que acampar em qualquer lugar ao lado da estrada, antes de chegar ao objetivo final. Foi o que fiz.
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2º Dia: Saindo bem cedo da Cachoeira do Lajeado, seu próximo objetivo é chegar à Pousada do Jalapão (65 km de pedal). Cruze o rio Vermelho e a pequena Serra da Muriçoca, passando por algumas subidas e descidas. Logo depois da serra, existe uma bifurcação com uma placa indicando a Pousada do Jalapão. Pegue a esquerda e 21 km depois se chega à pousada.
3º Dia: Acorde cedo, pegue somente a bike, água e a máquina fotográfica para visitar a Cachoeira da Velha, num pedal de 18 km, ida e volta. Lá você encontrará uma prainha de areia bem branca e com água cristalina do rio Novo. É um dos pontos altos do Jalapão. Volte para a pousada, monte a bike e siga em direção à bifurcação. Dessa vez, pegue a direita em direção a Mateiros. Seu próximo objetivo é a ponte de concreto do rio Novo, onde tem algumas áreas de acampamento, mas sem nenhuma estrutura. Quem não tiver perna para chegar irá ter que passar a noite em algum campo ao largo da estrada. Foi o que tive que fazer.
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4º Dia: Dois objetivos principais: visitar as Dunas e chegar a Mateiros. A entrada para as Dunas fica 12 km depois do rio Novo. Vale a pena gastar alguns minutos caminhando, se refrescando nos rios e lagos e contemplando a paisagem. Passeio acabado, siga para Mateiros, contornando a Serra do Espírito Santo, um outro cartão postal do Jalapão. São 55 km até lá. Procure a Pousada do Cardoso para passar a noite e jante no Restaurante da Dona Rosa.
5º Dia: Em direção a São Félix do Jalapão, visite o Fervedouro (25 km de Mateiros), uma fonte de água que brota de um poço e não deixa a pessoa afundar. Voltando para a estrada e ainda em direção a São Félix, visite a Cachoeira da Formiga (30 km de Mateiros, mais 8 km de areião a partir da estrada), uma cachoeira com água supercristalina, onde dá para descansar e se refrescar. Dali, são mais 49 km (a partir da estrada) até São Félix. Vale a pena apertar no pedal e chegar na cidade para se hospedar na Pousada do Capim Dourado, com uma excelente estrutura (quartos com ar e TV), restaurante simples, mas com um preço um pouco salgado para a região.
6º e 7º Dias: Saindo de São Félix em direção a Novo Acordo, o último trecho do Jalapão, com uma paisagem exuberante. Muito provável que você não encontre ou cruze com alguém até bem perto de Novo Acordo. Serão dois dias de pedal para percorrer os 170 km de distância. Passe a noite perto da ponte sobre o rio Novo, mas, se conseguir, siga um pouco mais para não deixar um trecho maior (mais 100 km para o último dia), até a chegada em Novo Acordo. Pronto! Você conseguiu fazer a volta completa do Jalapão de bike numa aventura de cicloturismo. Passe a noite em algum hotel e no dia seguinte siga de ônibus para Palmas.
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Dicas para uma viagem de cicloturismo no Jalapão
Duas mudas de roupa para pedalar são suficientes (faz um pouco de frio a noite, por isso tenha uma outra muda de roupa mais quente). Não leve nenhuma mochila nas costas, no máximo o camel back – use um bom par de alforjes.
Na bike, além de luz frontal, lanterna traseira, ciclo computer, dois suportes de caramanholas, espátula, bomba, chaves, gancheira, dois raios, alguns gomos a mais de corrente, pneu extra, quatro câmaras e mais um kit remendo, leve para a manutenção, um pano, escova de dente e óleo de bike. Kit de primeiros socorros, filtro solar, repelente, uma boa capa de chuva e um saco de dormir – não levei isolante térmico por ocupar muito espaço – são imprescindíveis também.
Leve comida quente de trilha (sopão, macarrão instantâneo, queijo, leite em pó etc.), barras energéticas, salgados, frutas secas, castanhas. No mais, panela, fogareiro e combustível, barraca pequena, cadeado de bike, papel higiênico e uma pá de jardinagem para enterrar suas fezes e o papel. Utilize um tappleware como prato e um copo plástico para as bebidas. É importante levar pastilhas de cloro ou hidrosteril para purificar toda a água que for beber.
*Matéria originalmente publicada na Go Outside em 2006.