Brasileiros no Everest: a expedição de Aretha Duarte e Carlos Santalena

Por Jade Rezende

Expedição Everest Aretha Duarte e Carlos Santalena
Reprodução Instagram Carlos Santalena (@carlossantalena)

No Nepal, brasileiros no Everest agitam a temporada 2021. Aretha Duarte se preparou durante 13 meses para escalar a maior montanha da Terra. Durante esse período, com seu projeto #ArethaNoEverest, a montanhista de 36 anos nascida na periferia de Campinas (SP) fez um treinamento intenso e buscou recursos para financiar a expedição vendendo materiais recicláveis.

Aretha desembarcou em Katmandu, capital do Nepal, no dia 2 de abril para a expedição organizada pela agência Grade6, acompanhada de Carlos Santalena — sócio da agência e o sul-americano mais novo a escalar os Sete Cumes, as mais altas montanha de cada continente. Além deles, há outros cinco brasileiros no grupo.

Na capital nepalesa, devido a pandemia do novo coronavírus, a equipe fez uma quarentena de cinco dias antes de embarcar para Lukla, cidadezinha no nordeste do país muito frequentada por montanhistas por ser um dos únicos acessos à região dos Himalaias onde se localiza o Everest.

Expedição em meio à pandemia

A Covid-19 mudou um pouco o desenrolar da expedição dos brasileiros no Everest. O processo do visto para o Nepal teve mais burocracias, e o grupo precisou fazer o exame de PCR 72 horas antes do embarque para o país. Mas Santalena conta que as exigências foram somente nessa hora. Chegando ao país, a quarentena e os novos testes foram feitos por conta da própria equipe. “No Nepal, parece que a pandemia nem existiu. As pessoas andam na rua sem máscara e os restaurantes estão abertos”, diz o sócio da Grade6. “A gente fez a quarentena e os testes para certificar que não estávamos trazendo o vírus aqui para a trilha.”

Duas semanas após a chegada da equipe ao Nepal, entretanto, o país voltou a registrar mais de mil novos casos de Covid em um único dia depois de quatro meses. O país de 29 milhões de habitantes bateu a marca de cerca de 3 mil mortes devido ao novo coronavírus até meados de abril de 2021.

Nas trilhas, os efeitos da pandemia são facilmente percebidos. Aretha conta que, onde antes circulavam cerca de 20 mil pessoas por mês, agora vê-se, no máximo, 300 pessoas caminhando — o impacto no turismo foi grande no mundo todo. Por um lado, a alpinista explica que o número reduzido de pessoas foi bom para o conforto da equipe, que teve mais opções de acomodação, mas lamenta os efeitos da baixa de turistas para o comércio local. “É lamentável, para nós que respeitamos tanto o povo nepalês, ver o quanto eles estão sofrendo economicamente.”

O passo a passo da expedição

Depois da quarentena em Katmandu, Aretha, Santalena e toda a equipe seguiu rumo à missão. Carlos conta que o trekking é feito de forma lenta por dois motivos principais: “O primeiro é fisiológico, para que as pessoas se aclimatem e cheguem ao acampamento base se sentindo bem. E o segundo motivo, não menos importante, é o mental, para que cada um se eduque a pensar dia por dia. Fazendo de forma lenta, a gente é obrigado a focar simplesmente no dia seguinte, e esse é o principal fator psicológico da expedição.”

Depois de quase duas semanas de viagem, com dez dias de montanha, a equipe chegou ao campo base do Everest em 16 de abril. “O grupo Grade6 está bem aclimatado e com uma felicidade que não cabe dentro de cada integrante”, comemorou Santalena em suas redes sociais.

O acampamento base se localiza a 5.300 metros de altitude e é por lá que a equipe ficará acampada a maior parte da expedição, nos próximos 30 a 40 dias.

Preparo para a jornada

Agora, com o objetivo de chegar ao topo do Everest, a equipe precisa estar preparada. Aretha explica que, para tentar fazer o cume da montanha, é preciso seguir cinco passos. “É necessário ter excelente condicionamento físico, conhecer escalada em rocha, ter passado por algumas expedições em alta montanha, conhecer também escalada em gelo e ter escalado uma montanha de 7000 a 8000 metros de altitude.” No caso da paulista, o último requisito foi cumprido na Aconcágua, na Cordilheira dos Andes, que ela escalou quatro vezes.

O preparo físico intenso de Aretha começou 13 meses atrás, quando ela decidiu que tentaria chegar ao topo do Everest. “Passei a treinar cinco vezes na semana e ir às montanhas com mais frequência. Inclusive, a minha última expedição à alta montanha foi entre fevereiro e início de março de 2021, no Chimborazo, a mais alta montanha do Equador”, afirma a montanhista.

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Aretha explica que a experiência nas montanhas é essencial para dar aquela sensação de realidade nos treinos. “A gente pode ter um excelente condicionamento físico, mas praticar treinamento específico na montanha, com mochila pesada, botas e vestimentas específicas, lidando com o grupo e enfrentando as adversidades climáticas é fundamental para ter mais familiaridade e seguir mais confiante para a expedição Everest”.

A primeira pessoa negra brasileira a chegar ao cume do Everest

Caso Aretha conclua a expedição com sucesso, ela será a primeira pessoa negra do Brasil a pisar no topo do Everest. No entanto a montanhista diz não se preocupar com o título — Aretha quer que a conquista seja um recado a todos nós.

“Para mim, não faz diferença ser a primeira, segunda, ou terceira pessoa negra a chegar ao cume do Everest enquanto brasileira ou sul-americana. O que tem valor para mim é realmente o mundo reconhecer que há poucas pessoas negras praticando esse esporte, e com certeza não é porque elas não querem, mas sim porque não podem e não têm essa oportunidade.”

A alpinista usa a possível marca de primeira brasileira negra a chegar no topo do Everest como motivação para trabalhar na busca de que oportunidades sejam dadas a pessoas de qualquer classe social.

“Eu vou chegar lá em cima, sim. E que recursos cheguem, e portas e oportunidades sejam abertas a pessoas pretas, periféricas, brancas, japonesas, enfim, qualquer cor — mas que essa oportunidade seja amplificada. Eu amo o montanhismo. Eu aprendo muito, me transformo, cresço com ele e quero que essa experiência seja ramificada e atinja qualquer classe, qualquer lugar e qualquer pessoa — independentemente da circunstância e da cor da pele.”

Santalena diz que estar com Aretha na expedição é uma satisfação, por enxergar esse propósito da montanhista em transformar a comunidade de onde veio. “Ela é uma pessoa que tem a montanha no seu espírito, então trazer a Aretha ao Everest é como consagrar essa missão dela nas montanhas e, mais do que isso, sua missão como ser humano.”

“Todo mundo pode alcançar o seu Everest”

Aretha tem como princípio a crença de que qualquer pessoa pode realizar o que sonha — e quer que o mundo todo saiba disso. “Eu, independentemente das circunstâncias que vivo (periférica, sem a grana necessária para investir nessa expedição), pude lutar, reunir e engajar pessoas, eu pude gerar uma energia. Partiu de mim dar os próximos passos para que essa conquista acontecesse.”

“O meu Everest foi possível, e eu acredito que todo mundo tem a possibilidade de alcançar o seu”, finaliza.







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