Sentir dor na parte inferior da perna não é nenhuma surpresa para os corredores. Afinal, essa é a área mais comum para o aparecimento de lesões entre os praticantes. A perna engloba tudo desde o joelho e até o tornozelo e está suscetível a dores devido à natureza de alto impacto do esporte que a gente tanto ama.
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A tíbia é o maior osso da parte inferior da perna, e a fíbula é o osso fino que fica também ao longo da parte inferior do membro. Essa região é dividida em quatro partes, cada uma delas é repleta de nervos, artérias e veias. Cada compartimento também é envolto por um tecido conhecido como fáscia. E os músculos controlam os movimentos do pé e do tornozelo. Muitos dos músculos da coxa se ligam ao topo da tíbia e da fíbula.
Agora que temos uma noção da anatomia da região, listamos as 6 causas mais comuns da dor na perna de corredores. Além disso, explicamos como tratar e prevenir cada uma delas. Então, da próxima vez que você estiver sentindo dor na perna terá uma ideia básica para levar ao médico.
Por que sinto dor na perna?
Canelite
Este termo é usado para descrever a dor ao longo da parte interna da tíbia. Normalmente, você sentirá desconforto em um terço ou mais do osso. A dor geralmente aparece durante a corrida e some depois – e pode melhorar com os treinos contínuos. Você sentirá que o lado interno da canela ficará mais sensível. Você também pode notar um inchaço na região.
Coágulos do músculo que se desprendem do revestimento do osso causam a dor na perna. Fatores como predisposição, pronação e corridas em superfícies muito duras provocam dores nas canelas em corredores, principalmente entre os iniciantes. Os tratamentos incluem gelo no pós-treino, calçados adequados ou mudanças nos locais de corrida.
Tratamentos para canelite
Melhorar a flexibilidade dos músculos da panturrilha e a força dos músculos da parte da frente e das laterais da perna também são importantes no tratamento e prevenção desse problema. Para fortalecer a região, recomendamos colocar uma argola pesada no pé e apontá-lo para cima, para dentro e para fora. Repita dez vezes. Faça três séries.
Fratura por estresse
A fratura por estresse é uma lesão do osso que acontece por conta de microtraumas repetitivos. O osso responde ao estresse, tornando-se mais forte. Nesse processo, o estresse causa a reabsorção óssea, que é seguida pela construção, desde que o tamanho do trauma não seja demais. Se for em excesso, a fase de reabsorção se torna maior que a de construção, gerando traumas microscópicos e microfraturas. Quando a situação se repete muito, acontece a fratura.
Ela é identificada, geralmente, com uma dor na perna que surge no momento do impacto. Inicialmente, ela se desenvolve durante a corrida e desaparece até seu final. Se não tratada, o desconforto fica presente até nas caminhadas. Pode haver inchaço. O impacto contínuo de uma fratura por estresse pode resultar em uma fratura completa no osso.
Em um exame clínico, é possível observar uma área específica de sensibilidade óssea. Você sente dor ou não consegue pular em uma perna só. E os raios-x não revelarão anormalidades por pelo menos duas semanas, possivelmente por mais tempo. Apenas uma ressonância magnética ou varredura óssea resolverá o problema.
Fraturas por estresse em corredores tendem a ocorrer na parte inferior da fíbula e nas partes superior e inferior da tíbia. Também há casos, embora menos comuns, da ocorrência acometer a frente da tíbia – e esse tipo de fratura pode ser problemático em sua cicatrização devido ao formato do osso.
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Tratamentos para a fratura por estresse
O tratamento começa com a interrupção de todas as atividades de alto impacto. Mas dá para continuar com o cross-training de baixo impacto. Se houver dor na perna ao andar, uma bota, gesso ou muletas podem ser necessários. Em alguns casos, o uso de aircast (espécie de suporte que cobre a parte inferior da perna) permite um retorno mais rápido à corrida. Se não for esse o caso, a maioria dos atletas pode voltar às atividades físicas gradualmente em torno de seis a oito semanas.
As razões para o desenvolvimento da fratura por estresse são muitas. Aumentar o volume dos treinos muito rapidamente (intensidade ou distância) é a mais comum. Além disso, baixa densidade óssea ou baixos níveis de vitamina D podem deixar os corredores mais predispostos. Os programas de treinamento, dieta e – para as mulheres – o ciclo menstrual devem ser analisados a fim de encontrar fatores de risco para o desenvolvimento de fraturas por estresse e quaisquer problemas detectados devem ser corrigidos.
Síndrome compartimental
Durante o exercício, os músculos incham, aumentando seus volumes em até 20%. Se a fáscia estiver muito apertada para permitir a ocorrência do crescimento, ela atuará como um torniquete. Desse modo, restringindo o fluxo sanguíneo e pressionando o nervo. Isso causa dor e possivelmente dormência na parte inferior da perna e no pé, e os músculos podem não funcionar normalmente.
Um corredor com síndrome compartimental crônica sente dor em um certo ponto da perna durante o treino que vai piorando progressivamente, a ponto de precisar parar a corrida. Os sintomas desaparecem após o exercício, conforme o inchaço melhora. Por causa disso, a perna do corredor geralmente parece normal quando examinada por um médico.
Tratamentos para a síndrome compartimental
A síndrome compartimental é diagnosticada ao medir a pressão das pernas logo depois da prática de esportes. O tratamento é a cirurgia. Depois disso, a maioria dos atletas consegue retornar às atividades normalmente.
Tendinite
Este é um problema comum na parte inferior da perna. Os tendões são responsáveis por fixarem o músculo no osso, e a inflamação pode gerar desconfortos quando a perna é esticada ou contraída. A tendinite pode causar ainda uma diminuição da força e flexibilidade. As regiões do tendão tibial posterior e do tendão peroneiro (partes interna e externa do tornozelo) geralmente ficam muito sensíveis ao toque.
As causas comuns do problema incluem um aumento repentino nos treinos com subidas ou de velocidade. Além disso, correr com um tênis sem ter treinado com eles o suficiente pode ser um agravante. Por fim, a pisada muito pronada (com mais apoio do interior do pé) também pode causar a inflamação, do mesmo modo que a pisada com pouca pronação.
O tratamento para a tendinite inclui compressas de gelo de três a quatro vezes ao dia. É preciso também diminuir os hábitos que exigem muito da região e trocar os calçados. Os músculos fibular e tibial posterior devem ser fortalecidos com os exercícios específicos. Alongar o tendão de Aquiles depois de aquecer comum trote fácil também é recomendado.
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Tratamentos para a tendinite
À medida que sua flexibilidade melhora, você começa a fortalecer o tendão de Aquiles. Um exercício que pode ser feito, por exemplo, é aquele em que você sobe com as pontas dos pés em um degrau e deixa os calcanhares de fora. Nessa posição, você os levanta e abaixa. Comece devagar, e vá aumentando a velocidade dos movimentos à medida que melhora o condicionamento. Se mesmo assim as repetições se tornarem muito fáceis, vale fazer com um pé de cada vez. Essas elevações de calcanhar podem ser feitas com calçando tênis caso a dor na perna seja muita.
Se as inflamações no tendão de Aquiles permanecerem por muito tempo, podem levar a um quadro degenerativo conhecido como tendinose. O tratamento dele é semelhante ao da tendinite. Já os casos mais graves precisam de massagem com manipulação de tecidos profundos (como a liberação miofascial), injeções de plasma ricos em plaquetas ou até cirurgia, em último caso. As injeções de cortisona não são recomendadas, visto que há um risco de enfraquecimento e rompimento do tendão.
Inflamação
Os grandes músculos da panturrilha (gastrocnêmio e sóleo) podem inflamar devido a uma lesão súbita na qual o músculo se rompe. Isso ocorre mais comumente no ventre interno do gastrocnêmio, na junção do músculo com o tendão. Logo que acontece, é possível sentir um estalo, além de uma dor intensa, seguida por um pequeno inchaço e possíveis hematomas.
Tratamentos para a inflamação
Para se recuperar, você precisará usar bota, muleta, ou até ambos. E o gelo será seu grande aliado na jornada. À medida que a dor diminui, exercícios de força e flexibilidade devem ser realizados. Depois, quando já for possível suportar o peso do corpo sem nenhum incômodo, dá para apostar nos exercícios de elevação do calcanhar. As lesões menores, nas quais o músculo está inflamado, mas não rompido, são tratadas do mesmo modo que a tendinite.
Síndrome do Aprisionamento da Artéria Poplítea (SAAP)
A compressão dessa artéria durante o exercício é incomum, mas potencialmente grave, e que geralmente ocorre na altura do joelho. Com a compressão da artéria, o fluxo sanguíneo que vai até os músculos da perna diminui. Isso causa uma dor na perna significativa e leva à interrupção do exercício. O fluxo sanguíneo precisa ser avaliado durante o esforço para o problema ser diagnosticado, e a cirurgia é o tratamento.
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O que fazer para acabar com a dor na perna?
Com todos esses tipos de dor na perna explicados, os medicamentos devem ser usados com cautela. O uso a curto prazo (cinco a sete dias) dos anti-inflamatórios não esteroidais (como ibuprofeno e naproxeno) pode ajudar a aliviar a dor, desde que não haja contraindicação para o uso, como algum problema gastrointestinal, hepático ou renal. Mesmo assim, esses medicamentos devem ser usados com cautela.
Existem dados ambíguos na literatura científica sobre o uso dos anti-inflamatórios para tratar fraturas por estresse. Vários estudos sugerem que esses medicamentos podem impedir a cicatrização das fraturas. Pensando por esse lado, o acetaminofeno pode ser uma boa opção para o controle da dor, caso você não tenha problemas com a substância. Em caso de dúvida, procure sempre o atendimento especializado.
Nas fraturas por estresse, a corrida precisa ser evitada até que seu médico dê o sinal verde. Já a síndrome compartimental não se resolverá sem tratamento. Quando os sintomas são graves, as opções incluem cirurgia ou eliminação da corrida. Por fim, um gastrocnêmio rompido provavelmente não deixará você treinar por conta da dor.
Agora para todas as outras lesões, a corrida até pode ser continuada. Mas isso envolve diminuir distância e intensidade de acordo com a gravidade dos sintomas. Se o objetivo é minimizar os sintomas durante a atividade física, o cross-training pode ser ótimo se não agravar o seu problema. Conforme o tempo for passando, você aumenta gradualmente seu volume de treino e aposta no gelo para o pós-exercício. E não se esqueça dos movimentos de força e flexibilidade.
Prevenção da dor na perna
Para evitar que tudo isso aconteça, use seu tênis de corrida por pelo menos metade de seus treinos de velocidade e ritmo. Antes de uma maratona, faça pelo menos dois longões com o calçado que será usado no dia da prova. Caso contrário, é provável que a dor na perna apareça.
“É realmente difícil entender por que as pernas ficam sujeitas à sobrecarga com a mudança dos tênis. Principalmente se levarmos em conta que eles não passam de 2,5 cm de diferença de amortecimento nos calcanhares”, diz Brian Fullem, especialista em esportes.
O que você precisa saber sobre o tamanho do seu tênis
Se você não tem um calçado específico para a corrida, introduza-o lentamente em sua rotina. Comece usando algumas vezes na semana. “Então, gradualmente, realize um treino completo, começando pelos mais curtos”, diz Fullem. “Por exemplo, se o seu treino for com repetições de 200 ou 400 metros, use os tênis nesse dia.”