Em sua coluna mensal para a Backpacker, da Outside USA, A Sobrevivencialista, Jessie Krebs escreve sobre como permanecer viva em cenários perigosos na natureza. Krebs é ex-instrutora S.E.R.E (sobrevivência, evasão, resistência e fuga) da Força Aérea e proprietária do O.W.L.S. Skills. Dessa vez, ela fala sobre técnicas mentais que ajudam na sobrevivência
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A sobrevivência, tal como a vida, é uma viagem emocional, mas vivemos numa cultura que tende a subestimar os sentimentos. Na vida “normal” podemos muitas vezes ignorar o impacto disto, uma vez que geralmente estamos num ambiente que foi concebido tendo em mente a nossa segurança: escadas antiderrapantes com corrimãos, temperaturas reguladas, água potável e alimentos facilmente disponíveis, e por aí vai.
Geralmente não precisamos prestar muita atenção ao que nos rodeia ou aos nossos sentimentos para permanecermos vivos. Contudo, numa situação de sobrevivência na selva, a falta de consciência emocional é uma ameaça primária. As emoções podem turvar nossas mentes e eliminar o pensamento racional.
Na maioria das vezes, numa situação de sobrevivência, o perigo é a nossa má tomada de decisão, e não algo no ambiente. A consciência em todos os níveis – do que nos rodeia, da hora do dia, das nossas capacidades e de como nos sentimos – é o nosso melhor caminho para sair em boa forma. Mas como podemos explorar nossos sentimentos quando muitos de nós fomos condicionados a ignorá-los? Existem muitas técnicas mentais que podemos usar para nos ajudar a reconhecer, sentir e superar as emoções, para que possamos nos libertar do nosso sistema límbico e sobreviver.
Sobrevivência 8 técnicas mentais para te deixar calmo em situações perigosas
1. Visualização
Praticar essa habilidade em casa pode prepará-lo para que as coisas dêem errado antes mesmo de você pegar a trilha. Nossa capacidade de imaginar é realmente incrível – imaginamos nosso futuro, recriamos nosso passado e conversamos mentalmente várias vezes ao dia. Mark Twain disse: “Sofri muitas catástrofes em minha vida. A maioria delas nunca aconteceu.” Use esse poder para o bem. De qual situação você tem mais medo? Algumas vezes por dia, imagine isso da forma mais vívida possível e depois imagine-se lidando com isso de maneira saudável e competente. Praticar internamente pode ajudá-lo a reagir positivamente caso se depare com uma situação semelhante na vida real.
2. Pare e pense
Não fazer nada é fazer alguma coisa. A resposta de lutar, fugir ou congelar é primordial e muito poderosa. Às vezes, a única coisa que pode penetrar nessa compulsão é uma história. Conheço dezenas de histórias de pessoas que morreram porque não pararam, pensaram, observaram e fizeram planos antes de agir. Não importa o currículo selvagem de uma pessoa, qualquer um pode ser vítima de lutar, fugir ou congelar. Então escolha sua história, saiba o nome do infeliz e honre-o para não cair na mesma armadilha.
3. Trabalho respiratório
A respiração controlada é uma ferramenta importante em diversas práticas, desde mergulho, sono, parto, meditação, ioga e muito mais. Pode ser útil se acalmar em situações estressantes, mas lembrar dessas técnicas quando você está com medo e sozinho é difícil. Lembre-se de uma coisa simples: expire mais devagar do que inspira. É isso. Pratique isso em sua vida diária para que isso aconteça naturalmente. Não importa o seu ritmo de respiração, expirar por mais tempo do que inspirar irá acalmá-lo. É uma resposta fisiológica que ativa o sistema parassimpático e envia uma mensagem ao cérebro e ao corpo de que não há problema em relaxar.
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4. Controle corporal
Estudos demonstraram que escolher posturas confiantes ou relaxantes aumenta a confiança, ajudando-nos a ter um melhor desempenho. Esta é uma forma de usar nossos corpos para convencer nossos cérebros de que estamos no controle. Certas posturas também podem nos ajudar a nos sentirmos ancorados: sentar, deitar ou fazer sua postura de ioga favorita. Aterrar-nos fisicamente nos ajuda no sentimento de segurança. Essa sensação de segurança o ajudará a manter a clareza na hora de tomar decisões.
5. Foco
Quando permitimos que nossos olhos se movam para frente e para trás e que nossos corpos fiquem tensos, estamos ativando nosso sistema nervoso simpático, que é usado para lutar, fugir ou congelar em resposta ao perigo. Para combater isso, olhe para uma coisa – uma determinada árvore ou rocha – e descreva-a mentalmente. Agora, o que você cheira? O que você pode sentir na sua pele? Em seu corpo? Verifique cada parte do seu corpo, tensione-o conscientemente e depois relaxe-o. Esta é mais uma forma de ajudar a ativar o sistema parassimpático, ajudando você a se sentir mais relaxado e no controle do corpo e das emoções.
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6. Mantras
Repita mentalmente ou em voz alta uma frase de autoafirmação ou voltada para um objetivo. Ao escalar uma crista extremamente perigosa no Maui, desidratada e sem sono, minha mente queria divagar. Eu sabia que se não mantivesse o foco, provavelmente daria um passo em falso e cairia para a morte. Tendo sido acordada por cabras selvagens naquela manhã (o único lugar para dormir era bem no caminho delas), comecei a repetir a frase “cabra paciente” sem parar para mim mesmo. A repetição e o ritmo das palavras ajudaram a me manter presente.
7. Fé
Isso pode estar em um poder superior ou em você mesmo e em sua força e determinação para superar coisas difíceis. As pessoas superaram situações incrivelmente adversas com pura força de vontade. Ter fé de que você não terminou com a vida e que a vida não acabou com você pode encorajá-lo a continuar indo contra o que sua mente lógica diria serem probabilidades intransponíveis. Lembrar-se do sucesso passado pode ajudá-lo a sentir que o sucesso também é possível agora.
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8. Seja uma criança
Os melhores sobreviventes têm entre 3 e 7 anos. Não tenho certeza se algum de nós sabe exatamente por quê, mas minha crença atual é que o mundo ainda é um lugar mágico para as crianças. A maioria ainda não foi condicionada a ver a natureza selvagem como um perigo, por isso não têm o mesmo impulso que os adultos para continuarem em movimento e regressarem à civilização. Viajar é muito mais perigoso do que ficar parado, faz com que queimemos quantidades absurdas de calorias e água, e muitas vezes é o que as pessoas mais velhas se sentem obrigadas a fazer. Em vez disso, abrace uma árvore, beba do riacho e cubra-se de folhas e detritos se estiver com frio. Seja hedonista e infantil, relaxe, ria e seja curioso – não há “corrida desenfreada” por aqui.