Ecologistas da Rede Mundial de Pesquisa sobre a Invasão de Montanhas (MIREN) descobriram que o número de espécies de plantas exóticas – não nativas do local ou área onde vivem – aumentou nos últimos 10 anos nas regiões montanhosas de todo o mundo, e que espécies já estabelecidas estão se espalhando rapidamente para altitudes mais elevadas.
Em comparação com os ecossistemas de planície, as montanhas até agora foram menos invadidas por espécies de plantas exóticas. No entanto, com mudanças climáticas e o aumento da ação humana nas terras altas, esta situação está mudando.
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Embora os movimentos ascendentes de espécies exóticas nas montanhas sejam bem reconhecidos e relativamente bem documentados, pesquisas de longo prazo dessas espécies em regiões montanhosas são escassas, mas cruciais para a tomada de decisões de conservação.
Para preencher essa lacuna de informações, uma rede global de pesquisadores monitora estradas montanhosas desde 2007, e o Journal Nature Ecology & Evolution publicou sua primeira avaliação da disseminação global.
Em depoimento ao site Ladera Sur, o pesquisador da Universidade de Concepción, no Chile, Dr. Aníbal Pauchard, que participou do estudo, destaca o alcance desta situação e sua ligação com a crise da biodiversidade.
“O movimento das espécies causado pelo homem está afetando todos os cantos do Planeta, até nas montanhas que são ecossistemas mais isolados e difíceis para o crescimento das plantas estão sendo invadidos por espécies exóticas”, afirma Pauchard, que também é diretor do Instituto de Ecologia e Biodiversidade (IEB) do Chile.
Importância dos estudos
Em conjunto, o estudo constatou um aumento significativo na variedade de espécies exóticas de aproximadamente 16% nos últimos 10 anos. Levando em consideração que processos ecológicos como o estabelecimento de novas espécies e a expansão da área de distribuição costumam levar séculos ou milênios, esse aumento no número de espécies exóticas detectadas em uma década é surpreendente, podendo se transformar em invasões biológicas, que é um dos graves perigos para a biodiversidade e para os seres humanos.
No entanto, como as tendências variaram amplamente entre as 11 regiões incluídas no estudo (Nova Gales do Sul e Victoria [Austrália], centro e sul do Chile, Havaí, Índia, Montana e Oregon [EUA], Noruega, Suíça e Tenerife), o aumento global na variedade de espécies só poderia ser detectada reunindo observações de várias regiões, destacando a importância de conduzir estudos replicados em escala global para detectar tendências em períodos curtos.
Dr. Pauchard destaca ainda o alcance desta situação e sua ligação com a crise da biodiversidade “o movimento de espécies causado pelo homem está afetando todos os cantos do planeta, até montanhas que estão ecossistemas mais isolados e difíceis para o crescimento das plantas estão sendo invadidos por espécies exóticas”.
Movimento ascendente
A invasão dos ecossistemas montanhosos não se caracteriza apenas por uma diversidade crescente de espécies exóticas, mas também por um movimento ascendente de espécies que já estavam presentes quando o estudo começou. Mover-se para altitudes e latitudes mais altas em busca da temperatura ideal é uma estratégia de fuga bem conhecida das plantas em tempos de aquecimento global.
Pauchard aponta que países como o Chile estão altamente expostos a esse fenômeno, “conseguimos observar na amostragem em terra que espécies geralmente associadas a áreas de vale estão subindo muito rapidamente pelas montanhas, mas é difícil saber o que está causando esse avanço, pensamos que é uma combinação de movimento de sementes, degradação da vegetação e mudança climática.”
No entanto, como as espécies exóticas são muitas vezes inicialmente introduzidas nas terras baixas, de onde sobem as montanhas, a expansão pode ser esperada mesmo sem os efeitos do aquecimento global, o que reforça a necessidade de monitorar seus movimentos e prevenir quaisquer consequências negativas nos ecossistemas de alta altitude.
“Sabemos agora que estas espécies estão chegando a estes ambientes montanhosos e de forma acelerada, mas ainda há muito por compreender sobre as causas deste fenômeno e qual o seu impacto na biodiversidade”, finaliza Pauchard.