O fato de o corredor praticar atividade física não significa que ele seja saudável. Quem nunca ouviu falar de mortes durante ou após a prática de exercício físico? Apesar de não ser comum, é assustador. Por isso, é importante nunca negligenciar a avaliação médica na prática da corrida.
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O nome “maratona” mesmo surgiu em homenagem a primeira morte documentada de um corredor, associada ao exercício. Ocorreu com o soldado Pheidippides, que percorreu aproximadamente 40 km de Maratona (cidade) a Atenas e, ao chegar ao seu destino, morreu.
A prática de exercício físico regular, principalmente o aeróbico como a corrida, ajuda a prevenir muitas doenças cardiovasculares e a tratá-las. Ajuda no tratamento da hipertensão arterial, do diabetes, do câncer; e na reabilitação do coração pós-infarto. No entanto, o exercício pode ser o ponto-gatilho para desencadear a morte durante ou depois dele, em indivíduos que possuem doença cardíaca ou vascular desconhecidas.
Que médico devemos procurar antes de começar a correr?
O médico do esporte é quem está apto a avaliar os riscos cardíacos iminentes à prática do exercício, e pode tentar evitar morte cardíaca súbita desencadeada pelo exercício.
Tal médico deve saber diferenciar as alterações adaptativas no eletrocardiograma, decorrentes do exercício regular das alterações patológicas, e também diagnosticar doenças cardíacas.
Sim, o corredor pode ter um eletrocardiograma específico dele, cheio de alterações normais que não representariam doença alguma.
Quais exames todo corredor deve fazer?
Antes de praticar corrida ou qualquer exercício, uma avaliação médica pré-participação esportiva deve ser realizada. O médico do esporte fará diversas perguntas sobre história própria do paciente e sobre sua história familiar; fará um exame físico detalhado, buscando estratificar riscos relacionados ao exercício e identificar doenças desconhecidas, que causem perda de performance . Quando necessários, exames serão solicitados.
Para avaliação cardíaca, são comumente solicitados eletrocardiograma, e de acordo com idade e fatores de risco, ecocardiograma e teste ergométrico.
O exame ideal e mais completo é o teste cardiopulmonar ou teste ergoespirométrico. Esse teste avalia a capacidade aeróbica do indivíduo, ajuda na programação do treino do corredor, com base na frequência cardíaca, verifica metabolismo energético, função pulmonar, avalia risco de arritmia e de doença coronariana.
Para avaliar doenças crônicas comuns, como diabetes, anemia, dislipidemias (lipídios sanguíneos aumentados), problemas renais e tireoidianos, são solicitados exames laboratoriais (sangue e urina), os quais, quando alterados, podem causar queda no rendimento do exercício e fadiga.
Para avaliar risco de lesão osteomuscular, analisa-se a biomecânica da corrida.
O médico do esporte também identifica lesões ou dores musculares e as trata.
Para avaliar composição corporal, pode ser solicitada bioimpedância (verifica quantidade de gordura e de massa muscular), a qual pode ajudar na melhoria da composição corporal do corredor, para evitar lesões musculares.
A função do médico do esporte é avaliar o corredor globalmente, analisar fatores de riscos cardiovasculares, fazer avaliação da biomecânica do gesto esportivo, avaliar doenças apresentadas pelos praticantes, melhorar desempenho do corredor, prepará-lo para competições, prevenir e tratar lesões osteomusculares, tratar dor e usar recursos nutrológicos para evitar fadiga.
Realizada a avaliação, vamos correr e aproveitar todos os benefícios dessa prática, com segurança.
*Natália Guardieiro é médica do esporte com residência na Universidade de São Paulo (USP), especializada em fisiologia do exercício, nutrologia e dor. Acompanhou atletas de alta-performance na Copa do Mundo 2014 e nas Olimpíadas de 2016. Praticante de esportes como boxe, ciclismo e yoga, acredita no exercício físico como parte da medicina. Entre em contato em: (11) 975580047 ou contato@nataliaguardieiro.com.br