Será que exagerar nos esportes de endurance pode causar danos irreversíveis ao coração? Três sinais de que você precisa de um check-up antes de sair correndo
EM MARÇO DE 2012, o ultramaratonista de 58 anos Micah True – também conhecido como Caballo Blanco, personagem principal do livro “Born to Run”, de Christopher McDougall (no Brasil, “Nascido para Correr: A Experiência de Descobrir uma Nova Vida”) – morreu durante um treino de 20 quilômetros nas duras trilhas da Floresta Nacional de Gila, no sudoeste do Novo México (EUA).
Seus amigos e as autoridades o procuraram por quatro dias até acharem seu corpo, caído de costas e cheio de machucados, as pernas boiando dentro de um riacho. O relatório da autópsia concluiu que “Micah True faleceu em decorrência de cardiomiopatia durante o esforço físico”. Uma hipertrofia do ventrículo esquerdo (a parte do coração encarregada de bombear sangue oxigenado ao corpo inteiro) foi a provável causa de uma arritmia fatal.
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Segundo a autópsia, Caballo Blanco tinha morrido de causas naturais. Ou será que não? Durante uma apresentação durante a reunião anual do American College of Sports Medicine no mês de junho daquele ano, o cardiologista James O’Keefe sugeriu que a morte de Micah não teve nada de natural.
James acreditava que os atletas de endurance estavam se colocando em risco de morte com o excesso de treinamento. “As alterações patológicas no coração desse atleta veterano de provas extremas são provavelmente manifestações de uma cardiomiopatia de Fidípedes, uma condição causada por excesso crônico de exercícios de endurance”, escreveu James ao lado de colegas em um artigo científico publicado logo depois da morte de Micah.
O artigo citou vários estudos e defendeu que exercícios intensos por mais de uma hora por dia poderia levar à formação de cicatrizes no coração. “Maratonistas e ciclistas do Tour de France possuem sistemas cardiovasculares incrivelmente bem preparados”, explicou James. “Mas esse nível de treinamento não deve ser mantido por décadas a fio. Ele exige demais do coração e acelera o processo de envelhecimento.”
As descobertas de James viraram manchete nos Estados Unidos e fizeram uma boa parte dos 15 milhões de norte-americanos que praticavam esportes de endurance reconsiderarem seus regimes de treinamento.
Outros peritos, por outro lado, acharam que os alertas de James foram exagerados. “A ideia que as atividades esportivas de longa duração colocam as pessoas em grave risco de morte súbita por falha cardíaca é belicosa, visa causar polêmica”, opinou Keith George, ex-chefe do Instituto de Pesquisa das Ciências do Esporte e do Exercício na Universidade John Moores de Liverpool, na Inglaterra. “Não há evidências que confirmem essa tese.”
Não existe ainda um método para detectar a susceptibilidade à escarificação cardíaca induzida por exercícios ou outras anormalidades cardíacas. Mas, com o check-up completo, uma combinação de eletrocardiogramas, ecocardiogramas, testes ergoespirométricos e ressonâncias magnéticas, dá para se tomar uma decisão bem informada sobre se é necessário reduzir o volume de treino.
Esses testes são caros, mas podem valer a sua paz de espírito, principalmente se você apresentar qualquer um dos seguintes fatores de risco. Confira abaixo três sinais de que você precisa de um check-up antes de sair correndo
Desmaios
Muita gente desmaia depois de corridas intensas. Isso não é incomum mesmo em gente saudável. Mas, se você desmaiar, consulte um médico e faça um check-up: isso pode ser sintoma de uma condição cardíaca subjacente.
Histórico familiar de doença cardíaca
A principal causa de morte súbita por razões cardíacas em atletas com menos de 30 anos de idade é a cardiomiopatia hipertrófica, uma condição considerada congênita. Para os atletas com mais de 30 anos, o maior inimigo é a doença arterial coronária, cujo risco aumenta com fatores genéticos, independentemente de uma dieta saudável. Avise seu médico se alguém em sua família morreu prematuramente devido a doenças cardíacas (ou foi diagnóstico com alguma).
Histórico pessoal de doença cardíaca
O corredor Ryan Shay foi diagnosticado com hipertrofia cardíaca aos 14 anos de idade, quando disseram que ele poderia precisar de um marca-passo. Ele teve um colapso e morreu nas preliminares da maratona olímpica em 2007, aos 28 anos de idade. Certifique-se de que seu médico está atento a quaisquer resultados anormais em seus exames, e avise-o sobre as competições que pretende disputar.