No início da tarde de domingo, 3 de julho, um enorme pedaço de gelo e rocha se soltou da geleira no topo da Marmolada de 10.968 pés da Itália e caiu sobre grupos de alpinistas que estavam abaixo. A laje foi estimada em 650 pés de largura, 200 pés de altura e 250 pés de profundidade. A avalanche resultante de rocha, gelo e neve atingiu velocidades de mais de 300km/h, colidindo em pelo menos duas equipes de escalada guiada. No total, nove alpinistas morreram e oito ficaram feridos, com dois deles em estado crítico.
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Até o fechamento da matéria, em 8 de julho, três pessoas continuavam desaparecidas, e os socorristas relataram ter encontrado mais corpos e membros em meio aos escombros. Nem todas as vítimas foram identificadas, mas entre os mortos estão dois guias alpinos locais, um dos quais, Paolo Dani, de 52 anos, ex-chefe de um grupo local de resgate alpino e especialista em resgate de helicóptero.
A Marmolada, coloquialmente conhecida como a “Rainha das Dolomitas”, é o pico mais alto da famosa cordilheira, e sua geleira também é a maior da região. A geleira situada a uma altitude de aproximadamente 10.500 pés, é medida anualmente desde 1902. Os registros mostram que 80% de sua massa foi perdida nos últimos 80 anos, segundo Riccardo Scotti, chefe do Serviço Glaciológico Lombard. Um gritante 70 por cento dessa perda glacial total ocorreu apenas nos últimos 20 anos.
Essa redução significativa no tamanho da geleira também foi uma das razões pelas quais a Marmolada deixou de ser considerada particularmente perigosa, segundo os glaciologistas locais. Cristian Ferrari, presidente da Comissão Glaciológica da Sociedade Tridentine Alpinists (SAT), disse ao jornal italiano il Manifesto que o maior risco nos últimos anos por lá foram fendas, não avalanches. “A Marmolada é uma das geleiras mais monitoradas, estudadas e observadas dos Alpes”, disse. “Se houvesse um aviso, muitos o teriam relatado.”
Outros, entretanto, afirmam que havia sinais de alerta audíveis, e que as autoridades deveriam ter restringido alpinistas e trekkers de acessar a montanha nos dias que antecederam o colapso.
Alguns pesquisadores apontam para as condições climáticas recentes para o colapso. Uma seca significativa se estendeu ao longo do último inverno nas Dolomitas, e a cordilheira viu pouca ou nenhuma queda de neve – o que comprova o rápido derretimento glacial na região. Antes do incidente, as temperaturas na geleira Marmolada também permaneceram acima de zero por 23 dias consecutivos – mesmo à noite -, pela primeira vez na história registrada. As temperaturas no gelo também atingiram menos de 10 graus Celcius durante as duas semanas anteriores ao incidente.