Na madrugada de 23 de maio de 2021, às 10:24 no horário nepalês e à 01:39 no horário de Brasília, a brasileira Aretha Duarte marcava seu nome na história ao se tornar a primeira mulher negra e latino-americana a chegar no topo do Everest.
+ Gabriel Tarso faz cume do Everest pela segunda vez e leva faixa de protesto
+ O que acontece com seu corpo quando você escala o Everest
+ 4 destinos para pedalar e surfar no mesmo dia
Para alcançar o feito, a alpinista da periferia de Campinas agregou muita experiência como guia da Grade 6. Entre os desafios que foram cruciais para a empreitada, estão algumas expedições ao argentino Aconcágua (6.962 metros), ao Pequeno Alpamayo (5.450 metros) e a Huayna Potosi (6.088 metros), na Bolívia.
Também fizeram parte da preparação de Aretha, a avenida dos vulcões no Equador (com cume mais alto de 5.897 metros), Elbrus (5.642 metros), a montanha mais alta da Europa, que fica na Rússia, além do Kilimanjaro (5.895 metros), na Tanzânia, o monte mais alto da África. Além disso, a brasileira guiou trekkings em altitude ao próprio Campo Base do Everest e diversas expedições em trilhas e montanhas Brasil afora.
Mas, o sonho de Aretha era chegar ao cume da montanha mais alta do mundo e, apesar da larga experiência, o fator financeiro foi um dos grandes desafios. “Voltei a trabalhar com reciclagem de resíduos e consegui garantir, por meio dela, um terço do investimento necessário. A outra parte foi alcançada com financiamento coletivo, bazar de roupas e móveis, leilão de celulares e captação de patrocínio”, contou Aretha para a Go Outside no ano passado.
Aretha teve sucesso e fez história. No entanto, a sua missão transcendeu em prol do debate sobre o racismo estrutural no universo do montanhismo. “Como explicar que, em um país onde a maioria da população se declara negra, somente agora vimos um feito como este?”, questiona ela sobre a falta de acesso das minorias neste esporte.
Atualmente, a alpinista segue abrindo as portas para outras montanhas pelo Brasil. Desde a conquista do topo do mundo, há um ano, ela ergueu sua voz em mais de 300 palestras, entrevistas, lives, reuniões e participações em eventos sociais e esportivos. Além disso, Aretha se dedicou para usar o próprio exemplo de superação e conquista para incentivar as pessoas – especialmente mulheres e jovens – a sonhar, acreditar nesses sonhos e trabalhar para que se tornem realidade.
Próximos desafios
Os projetos relacionados à escalada também seguem cheios de fôlego. Entre junho e julho, Aretha vai lançar o livro que contará sua saga até chegar ao cume do Everest e também vai liderar a Expedição Sajama, na qual ela será guia de um grupo de brasileiros na escalada da mais alta montanha da Bolívia.
Esse é mais um gesto emblemático, que reforça o empoderamento que ela representa, uma vez que todos no grupo exceto Aretha são homens, porém ela, a única mulher, irá liderar.
Em paralelo, Aretha segue em busca de recursos para concretizar o plano de construir paredes de escalada nas periferias do Brasil. “Estamos com esforços para a primeira ser instalada em Campinas ou no Rio de Janeiro. O objetivo é ir além do esporte, proporcionando o desenvolvimento global das pessoas por meio de oficinas de educação financeira, empreendedorismo, tecnologia, sustentabilidade, economia circular e muito mais”, explica Aretha.