Guia vence batalha judicial após se negar a levar cliente ao topo do Everest

Por Redação

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Imagem: Shutterstock.

Em setembro de 2019, durante uma tentativa de ataque ao cume do Monte Everest, o guia de escalada Garrett Madison precisou tomar uma decisão crítica.

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Ele poderia liderar seu grupo de clientes pela cascata de gelo do Khumbu diretamente sob um enorme bloco de gelo suspenso ou cancelar a expedição e voltar para Katmandu.

Na época, especialistas estimaram que o bloco tinha o tamanho de um prédio de 15 andares. Ele poderia se desprender a qualquer momento e, quando isso acontecesse, acabaria com a vida de qualquer um em seu caminho.

No fim das contas, Madison fez a chamada correta para cancelar a viagem, assim como todos os outros guias daquela temporada. Devido ao perigo, nenhuma expedição chegou ao topo do Everest no outono de 2019.

Mas, em março de 2020, a decisão de Madison gerou uma curiosa ação judicial. Cliente da expedição, Zac Bookman processou a empresa Madison Mountaineering em US$ 100 mil (cerca de R$ 570), alegando quebra de contrato e fraude.

Se fosse bem-sucedido, Madison alegou que o processo poderia levar sua empresa à falência. Portanto, sua equipe jurídica relatou que Bookman, assim como todos os outros clientes, assinaram um ofício reconhecendo que condições imprevisíveis poderiam impedir o ataque ao cume.

Após um ano e meio nos tribunais, a justiça de Seattle (EUA) resolveu a discussão e tomou uma decisão favorável ao guia: “Sr. Bookman não receberá nenhum reembolso, danos ou outra compensação financeira de qualquer tipo”, disse o tribunal.

A corte ressaltou que uma punição para o guia poderia abrir um precedente perigoso na prática do montanhismo comercial. “o medo de ações judiciais e as repercussões financeiras destas ações podem levar a lesões, doenças e fatalidades para clientes, guias, sherpas e outros profissionais da montanha”.

Madison disse ter ficado aliviado com a decisão, não só por evitar a sua falência, mas também por pensar nos guias de montanha que seriam forçados a seguir regras impostas pelo desejo de seus clientes.

“Uma coisa é o sherpa assumir conscientemente esses riscos como profissionais pagos das montanhas, outra bem diferente é o sistema jurídico americano criar pressões doentias que tornam seus empregos ainda mais perigosos”, declarou os advogados do guia.