Primeira expedição ao Monte Everest completa 100 anos

Por Redação

Britânicos foram os primeiros a tentar alcançar o cume do Monte Everest, no início da década de 20. Foto: J.B. Noel/Royal Geographical Society/CNN Travel.

No dia 25 de outubro de 1921, há exatos 100 anos, uma expedição britânica com o lendário alpinista George Mallory chegava ao fim com a notícia de que haveria uma rota viável rumo ao topo do Monte Everest.

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Hoje a imponente montanha localizada na Cordilheira do Himalaia já é conhecida por todos como a mais alta do mundo, com 8.849 metros.

No entanto, o fascínio pela montanha – cujo nome histórico tibetano é Qomolangma (Mãe do Universo) – pode ser considerado um fenômeno moderno, já que a primeira missão de reconhecimento de suas encostas foi concluída há apenas um século.

Abaixo, relembramos algumas curiosidades e a história de como o Monte Everest tornou-se um dos maiores desafios de aventura da nossa época.

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Centenas de alpinistas tentam alcançar o “Teto do Mundo” todos os anos. Imagem: Shutterstock.

A montanha mais alta

No século XIX, o Império Britânico era uma superpotência industrial, com um ímpeto para a exploração e o domínio de diferentes territórios. Como uma espécie de estímulo por novas conquistas, lugares e pessoas também passaram a ser categorizados e medidos.

Um dos projetos mais célebres foi o “Grande Levantamento Trigonométrico” na Índia, concebido na fase inicial por William Lambton, e depois por George Everest, para determinar os locais, alturas e nomes das montanhas mais altas do Himalaia.

Na época, já havia alguns pretendentes ao título de “montanha mais alta do mundo”, como Chimborazo, nos Andes, ou Nanda Devi e Kanchenjunga, também nos Himalaias.

Foi apenas em 1856 que o anteriormente esquecido Pico XV – que logo seria o Monte Everest – foi oficialmente declarado como a montanha mais alta do mundo acima do nível do mar, com 8.839,8 metros (sua altura oficial hoje é um pouco maior, 8.849 metros).

Primeiras medições do Everest eram feitas a partir da Índia no século XIX. C.K. Howard-Bury/Royal Geographical Society/CNN.

Adquirindo um nome britânico

“As pessoas esperavam por anos para medir alguns desses picos, porque parecia que não havia como chegar até eles, muito menos escalá-los”, explica à CNN Travel Craig Storti, autor do livro “The Hunt for Mount Everest” (A Caçada ao Monte Everest, em tradução livre), que acaba de ser publicado nos EUA.

O Pico XV ficava na fronteira entre o Nepal e o Tibet (hoje uma região autônoma da China) e ambos eram territórios fechados para estrangeiros. Por isso, a altura da montanha precisou ser calculada por meio de uma série de medições de triangulação realizadas a cerca de 170 quilômetros de distância dali, nos arredores de Darjeeling, na Índia.

Andrew Waugh (1810-1878), topógrafo geral da Índia Britânica, escreveu que, como os dois países eram inacessíveis, um nome local não poderia ser definido e que o Pico XV deveria receber o nome de seu antecessor naquela função, George Everest.

Everest, que inicialmente se opôs à homenagem concedida, não teve nenhum envolvimento direto na descoberta da montanha, nem mesmo a oportunidade de vê-la, mas acabou batizando o antigo Pico XV.

Aberta para estrangeiros

Acredita-se que o envolvimento humano no Everest tenha começado por volta do ano de 925 com a construção do Monastério Rongbuk no lado norte da montanha. Mas a primeira tentativa conhecida de ascensão foi a expedição de reconhecimento britânica, que começou em 1921.

O acordo comercial que possibilitou que os britânicos pudessem adentrar no Tibet aconteceu em 1904, no Tratado de Lhasa, após uma invasão britânica liderada por Francis Younghusband.

Já a expedição de 1921 foi liderada pelo explorador anglo-irlandês Charles Howard-Bury e por George Mallory, que morreria em uma outra expedição ao Everest, em 1924. Os restos mortais de Mallory foram encontrados na montanha 75 anos depois, em 1999. Até hoje não se sabe se ele conseguiu alcançar o topo naquela tentativa.

Os sherpas são os responsáveis por cuidar das rotas do Everest ou da “Qomolangma” (Mãe do Universo).

Trabalhando na rota

A primeira missão de reconhecimento do Everest partiu de Darjeeling, em 18 de maio de 1921, numa viagem de 600 quilômetros e cinco meses pelo planalto tibetano.

Nas três primeiras décadas de expedições à montanha, os alpinistas se aproximaram do cume pela Face Norte, uma escalada significativamente mais difícil.

Hoje, a maior parte dos aventureiros se aproxima pela Face Sul. O grande avanço desta rota foi estabelecido graças aos esforços de uma equipe de sherpas altamente qualificados, conhecidos como os “Icefall Doctors”, em 1997.

Estes sherpas estabeleceram um caminho através da cascata de gelo do Khumbu, que é uma das seções mais perigosas da Face Sul. Sem eles, o número de expedições comerciais ao Everest a cada ano não seria tão alto quanto hoje.

No entanto, muitos destes guias e carregadores nepaleses perderam a vida nos últimos anos enquanto trabalhavam nas partes traiçoeiras da montanha.

A idade de ouro do montanhismo

Na Europa, o alpinismo decolou como esporte – ao invés de uma atividade prática, política ou espiritual – no século 18. Em meados do século 19 – a “era de ouro” do alpinismo – os picos mais altos dos Alpes estavam todos escalados, do Mont Blanc ao Mattherhorn.

No final do século 19, as atenções se voltaram também para as Américas e a África, mas o maior e grande desafio continuou sendo o Himalaia. Um alpinista inglês chamado Albert F. Mummery foi o pioneiro do ocidente na região sul da Ásia, morrendo no Nanga Parbat em 1895.

Segundo Storti disse à CNN: “O amadurecimento do montanhismo e a presença da Grã-Bretanha na Índia foram inevitáveis para que o povo de uma pequena nação insular dominasse o montanhismo no Himalaia por muitos anos.”

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Muitas expedições ao Everest também já resultaram em tragédias.

Everest no século 21

Embora a expedição de 1921 não tenha tentado chegar ao cume, certamente abriu o caminho para a primeira ascensão bem-sucedida, em 1953, liderada por Tenzing Norgay e Edmund Hillary.

O Everest é hoje uma das grandes montanhas mais populares do mundo para a escalada e isso trouxe dinheiro e infraestrutura à região. No entanto, essa popularidade também traz outros desafios como superlotação e grandes quantidades de lixo na montanha.

Muitas expedições ao Everest também já resultaram em tragédias. Em 11 de maio de 1996, 12 pessoas morreram depois que fortes nevascas atingiram os escaladores. Em 2019 quase 900 pessoas chegaram ao cume – um ano recorde, mas também 11 pessoas acabaram perdendo a vida.

O aquecimento global e as mudanças climáticas também podem ser consideradas um problema no Everest. Já há preocupações sobre como as temperaturas mais altas podem desestabilizar ainda mais a cascata de gelo do Khumbu, tornando-a mais perigosa de cruzar.

Apesar disso, o fascínio pelo Monte Everest não mostra sinais de queda 100 anos após aquela primeira expedição histórica de 1921.

Aretha Duarte durante ataque ao topo do Everest, em maio deste ano. Foto: Gabriel Tarso

Brasileiros no topo

Na manhã do dia 23 de maio de 2021, cinco montanhistas brasileiros: Gustavo Ziller, Gabriel Tarso, Alex Cruz, Leonardo Silvério e Aretha Duarte chegaram ao cume da maior montanha do mundo.

Aos 37 anos, Aretha também tornou-se a primeira negra latino-americana a escalar o Everest.

Sua façanha foi realizada no mesmo mês em que os aventureiros Waldemar Niclevicz e Mozart Catão fizeram história ao serem os primeiros alpinistas brasileiros a escalarem o Monte Everest, em 1995.

Nesses 26 anos, 30 brasileiros já superaram as dificuldades humanas e físicas desta aventura.

Destaque para Ana Elisa Boscarioli, Cleo Weidlich, Thaís Pegoraro, Ayesha Zangaro e Karina Oliani, que abriram caminho para as mulheres no Teto do Mundo, além de Carlos Santalena, o brasileiro mais jovem a chegar ao cume, com 24 anos.

Lista de brasileiros que já chegaram ao topo do Everest:

Waldemar Niclevicz – 1995 (2x)
Mozart Catão – 1995
Irivan Burda – 2005
Vitor Negrete – 2005 e 2006
Ana Boscarioli – 2006
Rodrigo Ranieri – 2008, 2011 e 2013
Eduardo Keppke – 2008
Manoel Morgado – 2010
Cleo Weidlich – 2010
Carlos Santalena – 2011, 2016 e 2018
Carlos Canellas – 2011
Karina Oliani – 2013 e 2017
Jefferson dos Reis – 2013
Thais Pegoraro – 2016
Rosier Alexandre – 2016
Cristiano Müller – 2016
Adriano Freire – 2017
Roman Romancini – 2018
Henrique Franke – 2018
Ayesha Zangaro – 2018
Renato Zangaro – 2018
André Freitas – 2018
Gilberto Thoen – 2018
Juarez Soares – 2019
Moises Fiamoncini – 2019
Gustavo Ziller – 2021
Gabriel Tarso – 2021
Alex Cruz – 2021
Leonardo Silvério – 2021
Aretha Duarte – 2021







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