A tríade da mulher atleta é uma síndrome que atinge tanto mulheres que praticam exercícios de alta intensidade profissionalmente, como atletas olímpicas, quanto aquelas que fazem atividade física de forma amadora.
Essa condição faz com que ciclo menstrual das mulheres sejam alterados e até interrompidos, o que leva a pensar em uma menopausa precoce. No entanto, a síndrome não é uma menopausa e pode ser revertida.
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O tema do ciclo menstrual feminino ainda é pouco abordado na sociedade em geral e, por consequência, poucas atletas falam sobre suas experiências com a condição, além de existirem poucas pesquisas sobre o assunto. No entanto, uma pesquisa realizada pela Sociedade Americana de Ortopedia Esportiva com maratonistas em 2020 mostrou que das 38 mulheres que participaram do estudo, 45,9% lidavam com a menstruação interrompida.
A tríade da mulher atleta é, na verdade, uma espécie de amenorreia: faz com que o fluxo menstrual perca a sua frequência ou até pare por completo, mas, diferente da menopausa, não causa infertilidade como pode parecer. O estoque de óvulos ainda existe, mas, por uma questão hormonal, não são liberados pelos ovários.
“Na menopausa precoce, o organismo possui menos óvulos do que o comum e encerra o período fértil assim que eles acabam”, explica Fernando Prado, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana.
Síndrome também afeta atletas não profissionais
Segundo Prado, a tríade é uma conjunção de fatores que afetam a produção de hormônios necessários para que um óvulo seja expelido, como o intenso exercício físico combinado com uma dieta muito restritiva e o estresse da competição. Porém, é cada dia mais comum que esta rotina seja reproduzida mesmo por mulheres que não são atletas profissionais.
Foi o caso da Health Chef Dani Faria Lima, que enfrentou a tríade da mulher atleta em 2017. “Eu me exercitava duas vezes ao dia, de maneira intensa, fazia uma dieta cheia de restrições, mas que eu considerava muito saudável. Além disso, trabalhava o dia todo e ainda cuidava dos meus dois filhos ao chegar em casa à noite. Por um tempo, mantive essa rotina e me sentia muito disposta”, conta.
O dia a dia agitado de Dani, apesar de parecer o ideal para uma mulher moderna, fez com que seus hormônios se desestabilizassem, o que parou seu ciclo durante quase dois anos. “Além da falta de menstruação, também comecei a sentir fadiga, lentidão, mau humor e até sofri com queda de cabelo”, afirma a health chef.
Para Dani, a busca por um corpo com baixos níveis de gordura foi o que mais a influenciou a ter essa rotina super cansativa. Ao acompanhar em seu Instagram influencers fitness, ela criou este padrão para si mesma. “Porém, eu não percebia uma coisa importante: a minha realidade era completamente diferente da delas”, comenta.
O especialista explica que a dismorfia corporal, foco obsessivo pelo corpo, e a consequente necessidade que muitas mulheres sentem em diminuir o peso, são fatores que influenciam, e muito, no desenvolvimento da tríade. A busca pelo corpo perfeito pode ainda evoluir para um distúrbio alimentar, o que é mais um fator que afeta a produção hormonal.
“Para se ter uma ideia, após constatada a tríade, muitas mulheres conseguem regular o seu ciclo apenas fazendo um tratamento psicoterapêutico, sem a introdução de hormônios”, esclarece doutor Fernando.
No caso de Dani, foi necessária a reposição hormonal, mas ela também teve que diminuir bastante o ritmo de exercícios para que sua menstruação voltasse ao normal, além de reintroduzir os carboidratos.
“Mas no final é importante lembrar que um organismo saudável, principalmente quando se trata de reprodução feminina, não se baseia só em exercícios ou numa dieta, mas também em qualidade de vida”, finaliza Prado.