Como a menstruação afeta a performance no esporte

menstruação afeta a performance no esporte
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Há um problema antigo na ciência sobre esportes. As pesquisas são feitas usando apenas indivíduos do sexo masculino para questões fisiológicas de diferença entre os sexos não afetarem os resultados. Portanto, os resultados não são necessariamente aplicáveis a mulheres. Logo, se formos rigososos, estamos treinando a mulher com parâmetros errados. Por exemplo, não sabemos exatamente como a menstruação afeta a performance no esporte.

Isso faz com que este estudo seja muito bem-vindo. Publicado no jornal Sports Medicine, foi feito por um grupo de pesquisadores britânicos liderados por Kelly McNulty da Universidade de Northumbria e Kirsty Elliott-Sale da Universidade de Nottingham Trent. Trata-se de meta-análise de todos os estudos sobre efeitos do ciclo menstrual na performance atlética. Os resultados são interessantes tanto pelo que revelam quanto pelo que fica ainda sem resposta. 

Estrogênio e progesterona

Os dois hormônios-chave no corpo da mulher são o estrogênio e a progesterona. Os níveis deles sobem e descem em um padrão previsível durante o ciclo menstrual (nos estudos, foram incluídas indivíduos com ciclos regulares entre 21 e 35 dias.) Estrogênio é considerado um potencializador de performance por conta dos seus efeitos na construção da musculatura, metabolismo dos carboidratos e sinalização neuromuscular. A progesterona, por outro lado, inibe os efeitos do estrogênio. 

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Existem três fases chave entender o ciclo dos hormônios. Na fase folicular, tanto estrogênio quando progesterona estão no seu nível mais baixo. Na fase lútea, ambos estão altos. É a comparação que os estudos fazem, presumindo que as maiores diferenças de melhor performance seriam entre fases com baixos níveis de hormônio e altos níveis de hormônio. Durante a ovulação, quando o estrogênio está no seu pico, sem interferência da progesterona, teoricamente seria o pico de performance também. 

Como foi feito o estudo

Os pesquisadores selecionaram 78 estudos relevantes com um total de 1.193 participantes, avaliaram a qualidade, extraíram os dados, e fizeram análises. O padrão mais claro se destacou quando eles compararam o período folicular – a “fase ruim” do ciclo – com as outras. A avaliação de performance incluía muiras variáveis, como tempos, VO2 max e potência. 

Em resumo, as participantes do estudo tiveram melhor performance pouco antes, durante ou logo depois da fase folicular do que durante o restante do ciclo. 

Alguns dos estudos favoreceram outras fases, mas de forma geral, os estudos sugerem um leve efeito negativo do início da fase folicular. Mas o intervalo de incerteza sobrepõe zero. Mais ainda, as enormes variações entre os resultados dos estudos faz com que seja praticamente impossível tirar conclusões a partir destes dados. 

Há algumas ressalvas a considerar. A qualidade de alguns estudos foi avaliada como ruim, geralmente porque os métodos usados para identificar a fase do ciclo menstrual não eram confiáveis. A ampla gama de resultados também é um problema: por exemplo, talvez algumas fases dêem impulso para endurance mas reduzam a força, o que poderia contribuir para os resultados confusos. 

Da mesma maneira, os indivíduos nos vários estudos variaram de sedentários a atletas de elite, o que influencia muito nas respostas. Os resultados nulos não mudaram quando se considerou apenas os estudos de alta qualidade. 

Afinal, a menstruação afeta a performance no esporte?

No fim, os pesquisadores concluíram que faltam mais estudos de qualidade para melhores respostas. Por enquanto, contudo, “as implicações destas descobertas provavelmente são tão pequenas quando insignificantes para a maior parte da população”. 

Atletas deveriam levar em conta seus ciclos menstruais e estarem alertas sobre eventuais mudanças na performance, mas não deveriam presumir que os resultados dos estudos são aplicáveis a elas. 

Esta mensagem de individualização foi sublinhada no Twitter pelo fisiologista do Comitê Olímpico Canadense Trent Stellingwerff: “Não acredito que exista evidência suficiente para sugerir mudanças de nutrição ou treino durante o ciclo menstrual”, escreveu ele. “Fazer as atletas manterem seu próprio diário com sintomas e performance é tão eficiente quanto.”

A conclusão é insatisfatória, claro. Seres humanos são extremamente variáveis e nem sempre se encaixam em padrões de treino com insights práticos. E ficou evidente que não sabemos como a menstruação afeta a performance no esporte. Mas deixar tão claro que temos uma lacuna também é um ganho. Fundamenta e justifica o quanto é preciso estudar melhor e com mais qualidade como a performance muda durante o ciclo menstrual, para as atletas planejarem melhor seus treinos e seu calendário de provas. 

 







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