Dietas nem sempre são a pedida certa para melhorar o desempenho esportivo 

Por Sara Angle*

Você certamente já ouviu falar de dietas como paleo, cetogênica, jejum intermitente, Whole30, etc. Entretanto será que é possível manter um estilo de vida ativo seguindo as restrições delas?

Mudar a alimentação pode fazer muita diferença no desempenho. Mas, antes de experimentar uma nova moda, há pontos que você deve levar em consideração. A maioria das dietas especializadas não foram feitas para atletas, por isso seu cardápio provavelmente precisará de ajustes para atender as suas necessidades individuais.

“Ao começar qualquer dieta, sempre se pergunte: eu consigo mantê-la? Tenho recursos financeiros para fazer isso durante meses? Essa é a dieta certa para minhas metas de performance?”, diz a nutricionista Marisa Faibish, da Universidade Estadual Appalachian (EUA). Como uma pessoa ativa, veja a seguir o que você precisa saber sobre as dietas mais populares que estão circulando por aí.

PALEO

Em teoria, a dieta paleo nos estimula a consumir apenas alimentos que poderiam ter sido caçados ou colhidos assim como na era primitiva. Isso significa muita carne, peixe, folhas, vegetais locais, oleaginosas e sementes. Alimentos processados e açúcar refinado estão fora de cogitação. Vegetais amiláceos, grãos, frutas, laticínios, feijões e legumes são consumidos de forma esporádica ou evitados totalmente, dependendo do nutricionista que consultarmos. Na dieta paleo, também são eliminados o álcool e alimentos com adição de sal.

Prós

Você vai consumir mais alimentos integrais e menos produtos processados. Além disso, desenvolver uma percepção sobre como se sente com certos ingredientes, segundo Marisa. “A dieta também desestimula o consumo de bebida alcoólica, que, às vezes, pode ter um impacto negativo sobre o desempenho”, comenta ela.

Contras

Laticínios, grãos e legumes são eliminados da dieta. Porém, são ótimas fontes de proteína. São vitaminas e minerais que o corpo pode usar para o desempenho geral e para a recuperação, segundo a nutricionista. Além disso, sem os grãos pode ser quase impossível consumir carboidratos suficientes para se ter energia nos treinos pesados. Marisa também cita outro ingrediente importante que fica de fora: os alimentos com adição de sal que poderiam, na realidade, contribuir para a reposição dos eletrólitos perdidos no suor durante os exercícios.

WHOLE30

Essa dieta é vendida como sendo um método de curto prazo (30 dias) para “resetar”sua alimentação. Devem ser eliminados alimentos processados ou industrializados, açúcares naturais ou artificiais, álcool, grãos, feijões, legumes, soja e laticínios. Também é recomendado evitar carnes que, teoricamente, não fazem bem. Parece confuso e excessivo? Pois é. Mas, além de dar um descanso para o trato digestivo, a dieta Whole30 também atuaria ajudando a “reprogramar” o cérebro para desejar alimentos integrais.

Prós

Se você está procurando um começo rápido bem drástico, essa pode ser a dieta certa para você. Mas é preciso ter em mente que ela foi feita para ser seguida por apenas 30 dias, então, se você aguentar esse tempo todo, poderá diminuir as restrições e modificar a dieta para conseguir continuar segundo suas necessidades no longo prazo.

Contras

Como atleta, você tem que ter margens de erro, e essa dieta não dá nenhuma, segundo Leslie Bonci, nutricionista norte-americana. Além disso, ela é muito trabalhosa e difícil para pessoas que viajam ou comem fora com frequência, pois nem sempre conseguimos garantir que teremos acesso aos alimentos permitidos. “Essa dieta não é realista e possui pouquíssimas calorias”, afirma Leslie. Ela é feita para a perda de peso, não um plano montado para ajudar no desempenho.

CETOGÊNICA

A dieta cetogênica é basicamente um plano alimentar com 75% de gordura, 20% de proteína e 5% de carboidratos. Bastante restritiva, proíbe frutas, grãos, alimentos com amido, legumes, açúcar, álcool e processados. A redução de carboidrato pretende fazer o corpo entrar em cetose, estimulando o corpo a usar os estoques de gordura como fonte de energia, em vez de usar carboidratos, fonte habitual.

Prós

Um estudo publicado na revista científica Metabolism: Clinical and Experimental mostrou atletas de elite que seguiram uma dieta com 70 % de gordura, 19% de proteína e 10% de carboidratos por 6 a 20 meses, tiveram taxa máxima de queima de gordura. Os resultados foram duas vezes mais elevados que a de atletas de mesmo nível que seguiram uma dieta com mais carboidratos. O uso da gordura como fonte de energia durante os exercícios poupa os estoques de carboidrato muscular. Isto pode prolongar o desempenho na atividade física, ao evitar a exaustão quando a reserva intramuscular acaba, como explica Daniel Freidenreich, coautor do estudo.

Contras

Os estudos não provaram, de forma definitiva, que o aumento na queima de gordura melhora o desempenho, segundo Leslie. Além disso, ela lembra que nem todas as pessoas aceitam bem a alta carga de gordura no trato gastrointestinal. Outra desvantagem é a chamada “gripe cetogênica” e efeitos da adaptação à dieta nas primeiras semanas, que incluem fadiga, náusea, tontura e até confusão mental.

JEJUM INTERMITENTE

O jejum intermitente requer restrição da ingestão de alimentos por um período de tempo específico. Alguns incluem o método 16/8, em que se faz jejum por 16 horas e duas a três refeições saudáveis regulares durante o período de oito horas; a dieta 5:2, em que não se consome mais de 500 a 600 calorias em dois dias da semana; e o método comer-parar-comer, em que se faz jejum por 24 horas uma ou duas vezes por semana. A teoria é que, em jejum, é mais provável que o organismo tire energia das fontes de gordura, pois não haverá glicose prontamente disponível.

Prós

Alguns atletas afirmam que o jejum os deixa mais rápidos, mas os dados científicos são escassos. Há uma pesquisa que apoia o jejum intermitente como método para perda de peso. Se essa for a sua meta, poderia ser uma boa opção. Para atletas, é preciso planejar para não treinar em jejum. “Experimente treinar ou se exercitar nos períodos ou dias em que for se alimentar”, recomenda Marisa. “Por exemplo, na dieta 5:2, marque os treinos mais difíceis, longos e cansativos nos dias em que você poderá comer e faça treinos mais leves e curtos nos de jejum.”

Contras

“Usamos energia quando nos exercitamos, e, para ter energia, temos que comer”, afirma Marisa. “Se restringirmos nossa alimentação e fizermos uma sessão de treino intervalado de alta intensidade, você acha mesmo que será possível atingir o melhor desempenho?” Se você se exercita pela manhã, também pode ser difícil fazer jejum até o meio-dia.