Aventuras casca-grossa que valem o esforço físico

Por Redação

Desafio. Foi com essa palavra em mente que disparamos exploradores para vários cantos do Brasil atrás de roteiros de remo, trekking e mountain biking que pudessem ser feitos nas férias, feriados e até fins de semana. O resultado foram cinco aventuras casca-grossa – com graus de dificuldade variados – em picos de tirar o fôlego, não só fisicamente, mas visualmente também, o que era nossa principal intenção.

Todos os destinos são explicados minuciosamente, dia-a-dia. Mas o ideal é que antes de encarar essa aventuras, você retire a carta topográfica do local no site do IBGE para não se perder. Quem não tiver com disposição para enfrentar os perrengues normais para esse tipo de ação, pode recorrer ao nosso plano B, com operadoras e guias que te levarão do começo ao fim de cada jornada.

Trekking nos Lençóis Maranhenses (MA)

Nível: ***
Duração: 4 dias
Por Christian Fuchs

Vi umas fotos das dunas dos Lençóis Maranhenses, com lagos transparentes, mangues e uma paisagem do outro mundo – onde mais no mundo se encontra um deserto com lagoas entre as dunas? – e pensei: por que não atravessar esse deserto a pé? Foram três meses de planejamento, indo atrás de mapas, informações, equipamentos e lá fui eu com uns amigos para o Maranhão. Os Lençóis Maranhenses estão num parque nacional de mesmo nome e são aproximadamente 70 quilômetros de dunas de até 40 metros de altura, ao longo da praia, por 30 quilômetros de largura, sendo que entre quase todas as dunas existe uma lagoa, variando entre as cores azul, verde e transparente.

O melhor período de visitação é de junho a setembro, quando acaba o “inverno maranhense” (ou estação das chuvas) e começa o “verão” (estação seca). Antes disso, você corre o risco de pegar chuva todos os dias e depois de setembro, as lagoas secam, perdendo parte do encanto local. Como o lugar está praticamente sobre a linha do Equador, as temperaturas não saem muito dos 25 ºC a 35 °C (mesmo à noite), sempre com muito vento, o que torna a caminhada bem mais fresquinha.

1º dia

As areias ficam a uma hora de Toyota pelo mangue, saindo de Barreirinhas, que é para onde a maioria dos turistas vão: Lagoa Azul, Lagoa Bonita, etc. Dalí que nós começamos a caminhar, quando os turistas se foram e a paz total voltou a reinar. A caminhada deve ser feita sempre no sentido leste para oeste, pois as dunas ficam sempre viradas para a direção do vento, que vem sempre de nordeste. O lado leste é menos acentuado e de areia firme, enquanto o lado oeste da duna é bem abrupto e de areia solta, geralmente terminando numa lagoa. Dá até pra descer rolando. Acampamos na primeira noite um pouco pra dentro das dunas e o visual do pôr-do-sol no meio das dunas foi algo inesquecível.

2º dia

Aqui eu já estava até andando descalço nas dunas. Andamos até os “oáses” de Baixa Grande, Queimada dos Lira e Queimada dos Britos, que são três mini-vilarejos, às margens do rio Verde, onde vivem algumas famílias nômades, totalmente isoladas do mundo. Quando o rio Verde seca, eles se mudam pro litoral e depois retornam com as chuvas. Eles são muito simples, mas foram extremamente atenciosos conosco. Se for passar por lá, leve alguma roupa ou utensílio a mais, para deixar com eles, que a venda mais próxima fica a dois dias de caminhada.

3º dia

Caminhamos fugindo de pancadas de chuva de verão, que passavam ao nosso lado, mas nenhuma nos atingiu. Como não existe montanha nenhuma no raio de visão, é muito interessante a sensação de estar “navegando” no meio das dunas, com visual total do que acontece ao seu redor. Paramos para acampar um pouco antes do vilarejo de Santo Amaro, já na extremidade oeste dos Lençóis Maranhenses.

4º dia

De Santo Amaro pegamos um trator com uma caçamba enorme, que serve de ônibus local, já que as estradas são geralmente alagadas na época e passam por dentro de mangues. Esse trator nos levou até Alegre, outro povoadinho, de onde sai uma barca enorme, que depois de 14 horas de navegação, chega a São José do Ribamar, já na ilha de São Luiz, a uma hora de ônibus até a capital.

MIRAGEM: Só no Brasil pode existir uma lagoa de água doce entre quase todas as dunas de um deserto

Dica: Como não existe ponto de apoio nenhum no meio do deserto, você precisa estar com tudo o que necessite durante a caminhada (comida, fogareiro e combustível, barraca, etc.). A água das lagoas teoricamente é potável, mas é sempre bom levar um filtro ou esses purificadores de água químicos. Apesar de não ser frio e um moletom só já ser o suficiente, a areia carregada pelo vento cobre tudo o que se larga no chão, em alguns minutos.

Portanto, se você resolver passar a noite fora da barraca, corre o risco de virar uma duna. A exposição ao sol é constante e sem trégua, portanto não esqueça do chapéu, camiseta de mangas compridas, filtro solar e óculos de sol, que o reflexo na areia branca é muito forte. Para a navegação, só o mapa e a bússula não são suficientes, pois como não há referências no horizonte, fica difícil de manter o rumo. O GPS com a carta topográfica (e a habilidade pra tratar com eles) é essencial.

Vai nessa: Existem duas opções para se chegar ao deserto: por Atins ou Barreirinhas, que fica a umas oito horas de ônibus da capital São Luiz do Maranhão – hoje em dia a estrada já está asfaltada e a viagem é bem mais confortável. Atins é uma vilazinha, ao lado de Mandacaru e Caburé, que fica na margem esquerda da foz do rio Preguiças, beirando o deserto e o mar. Existem pousadinhas simples, passeio de barco, visitação ao farol de Mandacaru e até dá para encontrar guias para se fazer uma caminhada nos Lençóis. Atins fica uns 15 quilômetros rio abaixo de Barreirinhas. Chega-se lá por gaiolas (aqueles barcos de dois andares típicos do local) ou voadeiras (lanchas de alumínio, bem mais rápidas). Barreirinhas é uma cidade que já vive do turismo, tem pousadas até sofisticadas, supermercado e operadoras de turismo.

Plano B: A Maranhão Turismo oferece vários tipos de passeios, como vôos panorâmicos, passeios de jipe, apoio e logística pra sua caminhada.

Travessia de bike pela Serra da Capivara e Serra das Confusões (PI)

Nível: *****
Duração: 7 a 9 dias
Por Rodrigo Telles

O sul do Piauí abriga uma região que é um verdadeiro tesouro nacional. Além das ricas formações geológicas e da natureza intocada e exuberante, existem dois parques nacionais que possuem uma quantidade incrível de registros da nossa pré-história: a Serra da Capivara e a Serra das Confusões. Lá são encontrados pelos pesquisadores desde ossos de dinossauros, tigres dente de sabre, preguiças gigantes até pinturas rupestres dos povos primitivos, preservadas até hoje nos paredões de pedra.

A proximidade entre os dois parques dá margem para um excelente roteiro de pedalada. Mas não é uma viagem nem um pouco fácil. A caatinga é um ambiente cheio de adversidades, o sol é escaldante, a vegetação é hostil e existem os insetos. Mutucas, abelhas e vespas obrigam o aventureiro a estar sempre de calças e mangas compridas (os repelentes não servem). As estradas cheias de areão exigem muita experiência e preparo físico.

A Serra da Capivara possui uma boa estrutura para o visitante. Dentro do parque é obrigatório o acompanhamento de um guia, o que é fundamental, pois as tocas, onde se encontram as pinturas rupestres estão espalhadas por um emaranhado de trilhas. Antes de viajar entre em contato com a Fumdham que administra o parque em parceria com o Ibama e pegue o maior número de informações possível, inclusive a necessidade de autorizações. Procure também se informar sobre guias que possam lhe acompanhar de bicicleta. Já a Serra das Confusões, não possui praticamente nenhum apoio para turistas. A sua travessia é talvez uma das pedaladas mais difíceis do país.

1° dia

Chegando em São Raimundo Nonato, vale a pena uma visita ao Museu da Fundação do Homem Americano, que fica a cerca de 3 quilômetros da cidade. É um museu de primeiro mundo, há muito material arqueológico e muita informação. Também é interessante conversar com o pessoal da Fundação, do Ibama e da Central de Guias para pegar mais dicas sobre a região. Para ficar mais próximo da entrada do parque, ao invés de dormir na cidade, o melhor é já aquecer as pernas e fazer os 28 quilômetros até o Sítio do Mocó, pequeno povoado onde se encontra um camping.

2° dia: Deixe a carga no acampamento e leve somente o que for precisar para o dia. As pedaladas serão curtas, seguidas de caminhadas por trilhas estreitas que levam até os sítios arqueológicos. Dentre as atrações imperdíveis estão a Gruta, onde foram encontrados os ossos do Tigre Dentre de Sabre, o Caldeirão dos Rodrigues com uma vista incrível do alto e a Pedra Furada, imagem símbolo de toda a região.

3° dia:

Saindo do camping, agora com os alforjes na bicicleta, pegue a estradinha em direção a Coronel José Dias. No caminho para lá, dê uma parada no Barreirinho para conhecer a fábrica de cerâmicas artesanais com motivos arqueológicos. As caminhadas de hoje começam a partir da guarita de cima (a mais ao norte), de onde desce a estrada do desfiladeiro. Alguns sítios valem a visita como, a Toca do Pajaú, Toca do Neguinho Só, Toca do Baixão da Vaca, toca do Veadinho Azul e Toca do Paraguaio. A estrada sai novamente perto do Barreirinho onde você pode ficar no albergue ou então retornar para a guarita de cima e acampar por lá, se tiver conseguido uma autorização antecipada.

4° dia:

A travessia do parque de leste para oeste já é bem mais isolada. Prepare-se para pedalar bastante e pegar terreno mais difícil. De uma guarita a outra são cerca de 35 quilômetros provavelmente sem encontrar ninguém e nem água. A estrada conhecida como Estrada do Zabelê ainda dá acesso a mais dois sítios arqueológicos, que ficam na trilha chamada de Baixão da Perna. Já quase no final da travessia, chegando à outra guarita, existe o Baixão das Andorinhas, formação rochosa onde se entocam na hora do pôr-do-sol milhares de andorinhas. Menos de 25 quilômetros depois da guarita e você já está novamente em São Raimundo, onde pode se despedir do guia, porque daqui pra frente é por sua conta.

5° dia:

De São Raimundo até Caracol você vai rodar por estradas típicas do sertão nordestino. De vez em quando aparece um pequeno povoado para uma parada e para reabastecer os cantis. Aproveite para conversar e conhecer as pessoas. O povo é muito amistoso, cheio de histórias e também de curiosidades, uma ótima oportunidade para uma troca cultural. Em caracol há opções de hospedagem bem simples. Lá fica a sede do Parque da Serra das Confusões e é onde você deve procurar o máximo de informações para a próxima travessia.

6° dia:

Aqui começa uma aventura radical. A partir de agora se abasteça sempre de água para pelo menos dois dias, pois você nunca sabe quando conseguirá de novo. Um pouco depois de cruzar a guarita do parque você chegará ao topo da serra que oferece um visual maravilhoso de quase toda a região. Agora vem um longo trecho de estrada escavada por picaretas na rocha avermelhada. Um grande platô à esquerda indica o acesso para a gruta, um lugar paradisíaco. Para se chegar lá é necessário procurar um pouco. A dica é seguir o vale com árvores.

O Capim é o último povoado que possui um poço, por isso recarregue os cantis. O próximo povoado, o Barreiro, não é um ponto de apoio muito seguro, pois é um lugar extremamente pobre e não possui água boa. Logo seguem-se cerca de 20 quilômetros de um tremendo areão, onde é inevitável o famoso empurra-bike em grande parte dos trechos. Agora provavelmente já esteja na hora de procurar um lugar para acampar. Fique atento, pois é muito difícil, uma vez que a vegetação é muito densa.

7° dia:

Agora a estrada melhora um pouco, mas caso tenha chovido há pouco tempo você vai ter que atravessar longas piscinas. A mata se fecha sobre o caminho, por vezes formando um túnel de vegetação espinhosa. Não é raro se deparar com uma árvore tombada impedindo a passagem. O retorno à civilização acontece no povoado do Japecanga, onde há água, luz e telefone. Siga em frente e quando alcançar o asfalto tome a esquerda para Cristino Castro. Lá você vai ver tudo o que nunca imaginou no meio do sertão na caatinga: água jorrando do solo a mais de 20 metros de altura.

Dica: Não aconselho que ninguém vá para lá sem ter muita experiência com mecânica de bicicletas, sobrevivência, acampamento, orientação, além de muito preparo físico e psicológico. Não existem pontos de apoio, nem chance de resgate. Por isso o aventureiro deve levar tudo o que possa precisar e água, muita água (recipientes para pelo menos 10 litros). De resto, traga alimentos energéticos (castanhas, frutas secas, biscoitos e barras de cereais) para vários dias, barraca, isolante, saco de dormir, kit de primeiros socorros, protetor solar, papel higiênico, roupas resistentes (calças e camisas longas), capa de chuva, canivete, ferramentas, câmeras de ar, kit de remendo, farol, hidrosteril (cloro para água).

Vai nessa: Saindo de São Paulo pode-se pegar o ônibus convencional da Viação Itapemirim (carro para Floriano aos domingos, quintas, sábados), tel.: 0800 7232121. De Brasília, informe-se na Viação Transpiauí São Raimundense com antecedência sobre as condições para se levar a bicicleta no bagageiro do ônibus.

Plano B: Consulte o site Clube de Cicloturismo para ver mais detalhes do roteiro. Ligue para o IBAMA (89 3589 1208) que é quem faz a ligação com a Associação de Guias local nas Confusões. Certamente você arrumará um parceiro nativo para seu pedal. Não esqueça que a entrada no Parque da Capivara exige acompanhamento de guia, consulte a Fundham (89 3582 1294).

Trekking no Marumbi (PR)

Nível: ****
Duração: 2 dias
Por Alexandre Cappi

O estado do Paraná, berço do montanhismo nacional, abriga o Parque Estadual do Pico do Marumbi, um complexo de rochas acima dos mil metros de altitude, cercado por uma das áreas de mata atlântica mais preservadas do Brasil. O Parque está localizado no município de Morretes, a 65 quilômetros ao leste de Curitiba, e o percurso de duas horas até lá é feito por trem.

Encarar qualquer uma das trilhas do Marumbi é na verdade uma escalada. A subida íngreme passa por uma grande variedade de terrenos, seguindo por paredões expostos e cobertos por uma densa vegetação. Na maior parte do tempo ficávamos suspensos pelas mãos, agarrados a troncos e raízes escorregadias. Alguns trechos verticais estão equipados com correntes e degraus de aço que exigem atenção redobrada, principalmente de quem estiver escalando pela primeira vez. Outro fato que me causou surpresa é a minuciosa demarcação das trilhas com fitas plásticas amarradas nas árvores e setas de aço fixadas na rocha, indicando a direção exata nas bifurcações

1º dia

Após duas horas equilibrando-se sobre os abismos chegamos ao cume do Abrolhos (1.200 metros). A elevada altitude não permitiu enxergar nada além das nuvens. Depois de um almoço de primeira e de um chimarrão que queimava a boca de tão quente, assinei o livro de cume e liguei para a redação da Go Outside. Salve galera do windows…

2º dia

Acompanhei meu guia numa incursão à montanha do Facãozinho (1.100 metros), trilha fechada há 9 anos devido às péssimas condições de sustentação das encostas. Seguimos pela mata estreita e fechada por samambaias e bambuzais. As suspeitas de Kiko se confirmaram ao constatar que determinadas áreas degradadas não haviam se recuperado. Para reabrir novamente o percurso aos visitantes será necessário um longo trabalho de contensão das erosões e reflorestamento dessas áreas.

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Dicas: Leve mochila de ataque, barras de cereais, protetor solar, roupas leves e de frio, capa de chuva, meias, canivete, sacos de lixo, lanterna, tensores para joelhos e cammel back ou cantil. O parque oferece camping gratuito. Não adianta chegar à base do Pico do Marumbi sem ter contratado um guia de montanha, pois não existem serviços comerciais instalados no Parque.

Vai nessa: Para quem vem de outros estados, o acesso mais simples é seguir de ônibus até a rodoviária de Curitiba, de onde sai o trem da América Latina Logística, sentido Paranaguá. É melhor programar a viagem para chegar à capital antes da saída do trem, às 8 da manhã. Avise o maquinista ou o monitor que você irá descer no Parque. Ao descer do trem preencha o cadastro de visitação na administração do Parque. Aproveite para se informar a respeito das condições das trilhas, escaladas e de áreas interditadas para recuperação ambiental.

Plano B: As operadoras Pisa Trekking e Calango Expedições realizam operações conjuntas na região.

Remo na Península do Maraú (BA)

Nível: ****
Duração: 3 dias
Por Christian Fuchs

Na última viagem que fiz, me chamou a atenção quanta gente me perguntou sobre a Bahia, quando falavam sobre o Brasil. E também, não é pra menos, não? O que a maioria dos europeus procura avidamente é o sol, principalmente depois de um ano com inverno tão rigoroso. E na Bahia, o que não falta é sol e praia. Aí pensei que também sou filho de Deus e fui pra lá. Só o meu meio de locomoção é que foi diferente da maioria dos turistas: fomos fazer o passeio de caiaque oceânico. Sem ficar se espremendo em shows de axé, fila de gente no elevador Lacerda, garotos tentando te vender fitinhas do Senhor do Bonfim, pegamos o caiaque e fomos para a Península de Maraú, próximo a Itacaré, ao sul de Salvador.

1º dia

Começamos a remar já à tarde, de Camamu, e fomos até a ilha Grande, que na verdade não era tão grande assim, e pernoitamos acampados no terreno de uma senhora muito simpática, que até nos convidou, na outra manhã, pra tomar um típico café da manhã baiano, com banana terra frita no óleo de dendê, farinha de tapioca temperada, mingau de tapioca e suco de manga. Inigualável. Não tem preço.

2º dia

Passamos na ilha da Pedra Furada, uma formação rochosa interessante e remamos sentido à cidadezinha de Maraú. No meio do caminho ainda resolvemos visitar o farol de Maraú. Encostamos o caiaque num barzinho e fomos a pé até o farol. Acabou dando uma hora de caminhada ao farol e já aproveitamos a maré enchendo na volta, pra nos empurrar pra Maraú. Lá pernoitamos numa pousadinha e mandamos ver no bobó de camarão! A cidade tem um formato interessante, com um longo porto ao longo do canal, que fica muito raso na maré baixa. Tinha até alguns veleiros estrangeiros atracados, com quem fomos trocar umas figurinhas de histórias do mundo todo.

3º dia

Aproveitando sempre a maré, remamos mais umas 3 horas até a cachoeira de Tremembé, no fundo da baía de Maraú, já próximo de Itacaré, mas infelizmente sem ligação fluvial. Já imaginou remar durante horas por canais em mangue e de repente ouvir um barulho de cachoeira, virar a última esquina e dar de cara com uma cachoeira de uns 6 metros, caindo na proa do seu caiaque? Se eu não tivesse visto, não teria acreditado!

Depois de uma hora curtindo a cachoeira e seus poços, começaram a chegar os primeiros turistas de lancha. Existe também o acesso por terra, mas com a estrada em péssimo estado. Voltamos a Maraú para pernoitar e no outro dia seguimos de volta para Camamu, para mandar mais uma moqueca de badejo, que me dá água na boca, só de pensar!

aventuras

Dica: Além da beleza natural do lugar, a receptividade do povo baiano, as comidas típicas e o clima do lugar fazem dessa região, algo muito especial. Principalmente quando se tem tempo pra desfrutar a paisagem sem pressa, remando calmamente a bordo de um caiaque oceânico. Como as águas lá geralmente são abrigadas (por uma barreira de corais e pela própria pensínsula), ventos amenos no verão, tornam a remada ainda mais prazerosa e tranqüila.

Vai nessa: Existem duas maneiras de se chegar a Barra Grande: ou de carro, por uma estradinha arenosa horrível, ou de barco, a partir da cidade de Camamu (pouco mais 60 quilômetros da BR-101, a partir de Ubaitaba), que foi de onde lançamos o caiaque ao mar, mais precisamente da Marina São Jorge, onde deixamos o carro estacionado e até comemos um belo catado de siri, antes de embarcar. A marina possui também uma estrutura boa de apoio ao navegador.

Plano B: Na Ativa Rafting você pode contratar um guia especializado e a logística de hospedagem necessária. Porém, não há caiaques oceânicos para serem alugados na região. Leve os seus!

Trekking na Joatinga (RJ)

Nível: **
Duração: 3 dias
Por Christian Fuchs

No meu conceito, uma praia perfeita é aquela de areias limpinhas e fofas, rodeada por montanhas verdes de mata atlântica, mar claro com aquelas ondas convidativas, um riachinho cristalino numa das pontas e uma cachoeira seguindo aquela trilhinha no canto da praia. Se você concorda, a Ponta da Joatinga, no litoral norte do Rio de Janeiro, está bem perto do seu paraíso. Mas se o seu conceito de perfeição prevê um botequinho com um pagodinho e cerveja, não passe nem perto de lá. Três dias é o tempo ideal que se gasta pra fazer essa caminhada, num ritmo tranqüilo, aproveitando as praias e cachoeiras, mas sem deixar de suar a camisa.

1º dia

Prefiro começar essa caminhada de Parati, que na verdade começa com uma navegada. Do cais de Parati, não é difícil encontrar um barco que esteja indo pro Pouso da Cajaíba. Depois de duas horas e meia de viagem, com um belo visual, chega-se à praia do Pouso, de onde sai a trilha bem marcada pra Martins de Sá, que é uma das praias mais especiais desse circuito. Basta pedir informação pra qualquer caiçara e eles te indicarão como pegar a trilha, que é um subidão e depois um decidão no meio da mata, que geralmente dura uma hora e meia.

Do lado do mar aberto da Ponta da Joatinga, Martins de Sá tem boas ondas pro surf e é resguardada por um dos caiçaras mais legais e conscientes que eu conheço, o “seu” Maneco. Com sua família, ele mantém esse lugar preservado há anos, resistindo até a poderosos empreendimentos imobiliários, que queriam transformar o local em um megacondomínio de luxo. Ele mantém uma área de camping com banheiros sempre limpinhos, serve refeições e cuida para que sempre se tenha um clima de paz.

2º dia

É o dia mais puxado. Saindo de Martins de Sá, passa-se pela mini-praia de Cairuçú, onde começa uma bela subida no meio da mata, vencendo a serrinha da ponta Negra, para chegar à praia de mesmo nome, também muito bonita. Esse trecho até a praia de Ponta Negra leva geralmente umas sete horas. Abasteça o seu cantil antes da subida, hein? A praia de Ponta Negra é de tombo e fica recuada, entre costões de pedra. Hoje em dia existem campings e pequenos restaurantes que servem refeição, já que não é mais permitido acampar em nenhuma das praias.

3º dia

Passando o riozinho no canto da praia, pegue a trilha e siga até as praias de Antigos e Antiguinhos, que também são bem bonitas. Caminhando bem tranqüilo, não deve levar mais de duas horas. Achar a trilha geralmente não é difícil, mas, na dúvida, pergunte. Fique atento: existe um pocinho maravilhoso, seguindo o riozinho que corta a praia de Antigos, um pouco pra dentro do mato, com vista pra praia e tudo. Vale a pena a parada.

Após mais um morrinho de no máximo vinte minutos, avista-se a praia do Sono, já com bem mais gente, campings e surfistas, pois o acesso já começa a ficar mais fácil. No final da praia do Sono, continuando por uma trilha bem batida e larga, chega-se finalmente ao povoado de Laranjeiras, vizinha de Trindade, de onde sai um ônibus, que volta para Parati. Não deixe pra voltar à noite, pra não correr o risco de perder o último ônibus.

aventuras
PONTA NEGRA: A praia

Dica: não se esqueça de levar o repelente, pois como em todo lugar isolado, os borrachudos imperam. Apesar de dar pra contar com as refeições nos feriados, leve também guloseimas e coisas pra comer ao longo da trilha. Em geral, os campings do percurso cobram em torno de R$ 10 por pessoa para acampar.

E o mais importante: respeite sempre a cultura local e não poupe esforços pra preservar esse lugar como ele é. Não se esqueça de levar sempre o seu lixo embora. Apesar da falta de apoio da prefeitura, seu Maneco leva todo o lixo de volta pra Parati, no seu barco, auxiliado pela contribuição financeira dos freqüentadores da praia. E olha que tem feriados, que são várias viagens.

Vai nessa: Quem tem como ponto de partida São Paulo há duas opções de caminho. Uma delas é seguir pela SP-055 (Rio-Santos) direto até Parati. Outra opção é seguir até Taubaté pela BR-116 (Rodovia Presidente Dutra) e de lá pegar a SP-125 até Ubatuba. Em Ubatuba segue-se pela SP-055 (Rio-Santos) até Parati. Para quem vem do Rio de Janeiro a melhor alternativa é pegar a BR-101 até Parati. De São Paulo a Parati são 306 quilômetros. Do Rio de Janeiro até lá são 263 quilômetros.

Plano B: A Pisa Trekking tem saídas frequentes para a travessia da Joatinga. Leve apenas seu saco de dormir. Guias, barracas, transporte e alimentação é por conta deles.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2006 e atualizada em março de 2019)