Apesar de a prova ter sido disputada no dia 26 de dezembro, a notícia só veio à tona agora, depois de uma matéria publicada nesta segunda-feira (29) pelo jornal Mundo Deportivo.
Um atleta trans venceu a categoria feminina da Cursa de Na’Dalt, uma tradicional prova de corrida de montanha que acontece anualmente em Sant Pere de Torelló, na província de Barcelona.
O corredor em questão, chamado Quim Durán, inscreveu-se desta vez com o nome de ‘Quima’ na categoria feminina.
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A Lei Trans catalã propõe que a participação em competições esportivas e acesso a vestiários aconteça de acordo com a identidade manifestada pelo atleta.
Apesar disso, a experiente trail runner Azara García de los Salmones foi das atletas que se manifestou contrariamente à participação de Quima: “Isso é uma piada. Diante desta situação, não participo mais da corrida.”
Nas redes sociais Quima aparece com nome de homem e não há nenhuma informação ou imagem que aluda à sua condição de trans. Isso também acontece em seu histórico esportivo.
Segundo o Mundo Deportivo, a organização do evento explicou que foi pega de surpresa, “porque nunca havia acontecido algo parecido”.
Quima foi parcialmente – e à espera de uma solução por parte da Federação de Entidades Excursionistas da Catalunha (FEEC) – premiada como vencedora da categoria feminina, levando a melhor sobre Laia Montoya, atleta que havia ganhado as duas edições anteriores.
“A chegada de ‘Quima’ nos gera um dilema que implica uma série de questionamentos éticos, morais e até filosóficos e científicos que vão muito além das capacidades de uma organização amadora de cidade pequena como a nossa”, indicou o comunicado emitido pelo evento.
A lei atual indica que são as federações que devem regular as competições neste sentido. Mas na corrida de montanha não há um regulamento sobre este assunto e, portanto, ainda existe um grande vazio sobre o assunto.
Tumulto nas redes sociais
Como não poderia ser diferente, nas redes sociais houve tumulto por causa da notícia. Irene Aguiar, especialista em direito desportivo, explicou que aplicar medidas com caráter retroativo neste assunto não será possível, já que “o anteprojeto de Lei Trans catalã propõe que a participação em competições desportivas e acesso a vestiários seja conforme a identidade manifestada pelo atleta. Portanto, qualquer homem poderá participar em competições femininas se assim o desejar”. E reivindica uma situação polêmica que se previa há muito tempo: “Aqueles de nós que avisaram que isso ia acontecer foram acusados de transfobia. Agora que é a enésima vez que acontece o que se supunha que ‘não iria acontecer’, há silêncio”.
Além de Azara García de los Salmones, outros corredores mostraram indignação diante de um evento que, previsivelmente, poderia se repetir no futuro. Na Itália, é bem conhecido o caso da corredora trans Valentina Petrillo, que bateu vários recordes femininos em diferentes disciplinas de velocidade e conseguiu uma vaga para os Jogos Paralímpicos.