Grupo usa fantasia de urso para “atacar” carros de luxo e fraudar seguradoras nos EUA

Por Frederick Dreier*

urso
Foto: Reprodução / California Department of Insurance.

Uma das minhas maiores diversões ao visitar pequenas cidades de montanha nos EUA é pedir aos locais que me contem os melhores delitos cometidos por ursos.

Durante uma viagem recente a Glenwood Springs, no Colorado, um homem me contou sobre um urso-negro travesso que entrou furtivamente em um Subaru estacionado para roubar uma caixa de Honey Nut Cheerios.

Infelizmente, o carro estava parado em uma garagem inclinada, e a porta se fechou assim que o urso entrou. O animal, surpreso, deu uma enorme cagada no banco do motorista antes de destruir o interior e quebrar uma janela.

Como um jurista de meia tigela, meu palpite é que isso constituiu roubo, danos à propriedade e, talvez, atentado ao pudor.

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Não satisfeito, outra pessoa me contou sobre um urso que abriu a porta de vidro de um condomínio e invadiu a geladeira. O dono do local estava se preparando para um churrasco, e o urso devorou todos os bifes, feijões assados e salada de batata antes de desaparecer na floresta. Isso provavelmente se qualifica como invasão de domicílio e furto qualificado.

Ursos invadem banheiras de hidromassagem, destroem decorações de jardim e roubam mais latas de lixo do que se pode contar. Nas cidades montanhosas, eles são criminosos do colarinho azul, que cometem contravenções sempre que surge a oportunidade.

Então, até eu fiquei surpreso ao ler sobre um urso na Califórnia acusado de um crime de colarinho branco. Sim, estou falando do Urso da Fraude de Seguro.

Na semana passada, o Departamento de Seguros da Califórnia publicou um glorioso comunicado de imprensa sobre quatro moradores de Lake Arrowhead que, em janeiro, alegaram que um urso havia invadido seu Rolls Royce e causado muitos danos. Buscando uma indenização, eles enviaram um grande pedido à seguradora, junto com um vídeo de vigilância do suposto ataque do bichano.

O vídeo, incluído no comunicado, é de dar risada, e recomendo que todos assistam várias vezes. O “urso” se atrapalha no banco do passageiro como um universitário bêbado depois de sete cervejas, e o “pelo” felpudo da fantasia cai nos braços e pernas como um moletom tamanho XXL cairia em um adolescente magricela.

Após cerca de dez segundos, fica óbvio que o invasor não é um urso, mas sim um humano fantasiado. Já vi crianças no jardim de infância imitarem animais de forma mais convincente.

Outro sinal de alerta: os danos supostamente causados pelo urso se resumiam a alguns arranhões leves no interior. Para mim, esses arranhões parecem feitos com uma escova de cabelo e não com garras afiadas de cinco centímetros.

A polícia obteve um mandado de busca e fez uma visita aos quatro, chamando a operação de “Bear Claw”. Claro, encontraram uma fantasia de urso de qualidade questionável no local. Os quatro foram presos e enfrentam acusações de fraude de seguro.

Ao que parece, este não foi o primeiro esquema que eles supostamente tentaram. Segundo o comunicado, eles já haviam apresentado dois pedidos de seguro anteriores alegando invasões de ursos, com mais de US$ 140 mil reivindicados (R$ 800 mil).

Comunicados de imprensa governamentais têm o dom de descrever cenas emocionantes, assustadoras ou até hilárias com a prosa mais insípida possível, e o comunicado do Departamento de Seguros da Califórnia segue esse padrão ao descrever o ataque de forma impecável.

Os supostos danos causados pelo “urso” apresentados às seguradoras. Foto: Reprodução / California Department of Insurance.

“Para garantir ainda mais que não era realmente um urso no vídeo, o Departamento pediu a um biólogo do Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia que analisasse os três vídeos e ele também opinou que era claramente um humano em uma fantasia de urso”, diz o texto. O que eu não daria para estar presente nessa exibição.

A saga do Urso da Fraude de Seguro circulou na mídia nacional por razões óbvias (é bizarra e engraçada). Palmas para os amigos do TMZ, que fizeram a reportagem mais perspicaz. Eles convidaram Glenn Ennis, dublê que fez as capturas de movimento do urso em O Regresso, para assistir ao vídeo e criticar a atuação.

“Eles claramente foram preguiçosos”, disse Ennis. “Se tivessem feito um pouco de pesquisa, como eu fiz, perceberiam que os ursos não andam de mãos e joelhos, mas sim sobre os pés — isso foi um erro gritante.”

O ciclo de notícias logo passará do Urso da Fraude de Seguro, e todo esse episódio desaparecerá de nossa memória coletiva, como muitas histórias bobas de ursos do passado. Mas, por mim, sempre lembrarei do Urso da Fraude de Seguro, pois ele mudou para sempre minha perspectiva sobre crimes cometidos por ursos em cidades de montanha.

Da próxima vez que eu ouvir uma história sobre um urso ousado invadindo a despensa de alguém, tomando banho em uma piscina de condomínio ou devorando um saco de lixo apetitoso, vou me perguntar: foi mesmo um urso?

*Outside USA