Uma nova teoria explica por que o exercício nos deixa cansados

Por Alex Hutchinson

fadiga
Foto: Ground Picture / Shutterstock.

Cientistas investigam o que acontece em nosso cérebro durante esforços prolongados

Em 2011, participei de uma conferência internacional na cidade australiana de Bathurst chamada “O Futuro da Fadiga: Definindo o Problema”. A sensação que você experimenta, por exemplo, após 32 quilômetros de uma maratona pode parecer óbvia demais para exigir uma explicação profunda — mas, na verdade, é surpreendentemente difícil de ser definida.

Na psicologia, há uma crença amplamente difundida de que nomear seus sentimentos pode ajudar a lidar melhor com eles. Eu me interessei por essa conferência sobre fadiga porque imaginei que o mesmo poderia se aplicar aos atletas: se eu conseguisse entender e nomear o que me impedia de ir adiante nas provas, talvez estivesse mais preparado para superar isso.

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Spoiler: a conferência não trouxe respostas definitivas. Na verdade, definir e explicar a fadiga continua sendo um tema de debate entre os cientistas do esporte — como mostra um novo artigo publicado na revista Sports Medicine. Um grupo de pesquisadores liderado por Jeanne Dekerle, da Universidade de Brighton, se baseia em avanços recentes da ciência cognitiva para propor uma nova forma de entender o que chamam de “fadiga percebida induzida pelo exercício”.

A nova teoria

A estrutura proposta por Dekerle é baseada em uma ideia chamada “processamento preditivo”, que surgiu na última década como uma teoria abrangente de como o cérebro funciona. A ideia central é que, em vez de simplesmente perceber o mundo com base nas informações sensoriais que recebe, o papel fundamental do cérebro é prever o que vai acontecer, usando os sentidos para checar e corrigir suas previsões. No ano passado, escrevi uma introdução ao processamento preditivo e especulei que logo veríamos essa teoria aplicada aos esportes de resistência… e aqui estamos.

O foco de Dekerle é a fadiga percebida induzida pelo exercício, e ela começa tentando especificar exatamente o que quer dizer com isso. Não se trata de sonolência, nem de falta de motivação ou energia. Também não se refere à sensação de que o esforço é grande demais para continuar (uma distinção importante, como veremos mais adiante). Em vez disso, com base em uma definição anterior do pesquisador Dominic Micklewright, ela define a fadiga percebida como “uma sensação de capacidade reduzida para lidar com estressores físicos ou mentais, sejam eles reais ou imaginários”.

O que dá origem a essa sensação? Não existe exame de sangue, biópsia ou raio-X que possa medi-la. Em vez disso, Dekerle propõe que a sensação de fadiga surge quando uma das previsões mais importantes do cérebro — a de que o corpo permanecerá em homeostase, mantendo parâmetros como frequência cardíaca, temperatura corporal e acidez sanguínea dentro de uma faixa controlada é violada.

Não é que a frequência cardíaca elevada ou o aumento da acidez no sangue causem diretamente a sensação de fadiga. A questão são as previsões. O cérebro tem várias maneiras de antecipar e se ajustar às exigências do exercício — formas de garantir que sua previsão de homeostase continue válida. Por exemplo, a frequência cardíaca aumenta e a respiração se acelera antes mesmo de você começar a se exercitar. Mas chega um momento em que o cérebro esgota seus recursos, e suas previsões começam a divergir da realidade. “A fadiga, portanto, representa um estado de incerteza”, escrevem Dekerle e seus colegas, “indicativo da crescente falta de confiança do cérebro em sua própria capacidade de controlar o corpo”.

Existe alguma evidência de que a fadiga seja a sensação do cérebro de que suas previsões estão erradas? Em um estudo, participantes moviam os dedos para frente e para trás enquanto viam suas mãos em uma tela de computador. Quando os pesquisadores introduziram um leve atraso no vídeo, bagunçando as previsões dos voluntários sobre onde suas mãos deveriam estar, a percepção de fadiga muscular aumentou. Em outro estudo, ao injetar metabólitos nos polegares dos voluntários para perturbar a homeostase química, os cientistas também geraram sensações de fadiga.

Por que isso importa

É uma hipótese elegante — embora ainda especulativa. Mas será que essa percepção de fadiga é realmente o que mais importa durante o exercício? Teorias anteriores, especialmente o Modelo do Governador Central desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Cidade do Cabo e o Modelo Psicobiológico de Samuele Marcora, tendem a focar mais no esforço: “a sensação consciente de quão difícil, pesado e extenuante está sendo o exercício”, nas palavras de Marcora. (Outra definição mais poética que ele já usou: “a luta para continuar diante de um desejo crescente de parar.”)

Uma maneira de entender a diferença entre fadiga e esforço é pensar no que acontece quando você para. O esforço desaparece quase completamente se você parar de correr e se deitar no chão — mas a fadiga ainda está lá. Para Marcora, professor na Universidade de Bolonha, é o esforço que atua como um interruptor principal, determinando se você decide acelerar, desacelerar ou parar. Em um de seus estudos, ele comparou esforço e dor durante um teste de ciclismo até a exaustão: foi o esforço que atingiu o nível máximo no momento em que os participantes desistiram, enquanto a dor ainda estava, em média, em cinco numa escala de dez.

Ainda há poucas pesquisas sobre o papel exato que a fadiga desempenha durante o exercício. Em um e-mail, Dekerle afirmou que provavelmente existem várias percepções diferentes que ajudam a regular o ritmo durante uma prova de resistência — incluindo esforço, fadiga e dor. Especialmente para iniciantes, até mesmo a “valência afetiva” — ou seja, se a pessoa está ou não gostando da atividade — pode influenciar. A percepção dominante pode variar de pessoa para pessoa, disse Dekerle, e também mudar de acordo com o contexto ou ao longo da própria prova. Na minha primeira maratona, por exemplo, eu regulei o ritmo com base no esforço nos primeiros 32 quilômetros, e fui limitado pela dor nos quadríceps gritando nos últimos dez.

Para complicar ainda mais, todas essas percepções interagem entre si. A dor torna o exercício menos agradável. E o esforço crescente pode contribuir para a sensação de fadiga. A principal crítica de Marcora à nova teoria é que a definição de fadiga — “uma sensação de capacidade reduzida para lidar com estressores físicos ou mentais” é, na verdade, uma variação de outro conceito psicológico chamado *autoeficácia*, que é sua percepção sobre quão capaz você se sente de realizar uma determinada tarefa. Sua autoeficácia durante uma maratona certamente depende da sua sensação de esforço, observa Marcora, além de outros fatores como motivação, quanto você já correu, quanto ainda falta, e suas experiências anteriores sobre o quão difícil foi correr determinadas distâncias.

Sei que estou entrando em um terreno complicado aqui (e acredite, há muito mais complexidade que estou deixando de lado). O que sentimos durante uma maratona é uma daquelas questões que só parecem óbvias quando não se pensa muito a respeito. Parte de mim acredita que esse é um buraco de coelho útil de se explorar. Para corredores iniciantes, acho que a enxurrada de estímulos sensoriais pode ser esmagadora — e eles muitas vezes diminuem o ritmo antes de realmente precisarem fazê-lo. Compreender a diferença entre, por exemplo, esforço (“está difícil”) e desconforto (“está doendo”) — entre luzes de alerta e sinais de parada — pode libertar você para ir mais longe por mais tempo.

Por outro lado, também tenho consciência dos riscos de pensar demais sobre isso tudo. Afinal, a ideia de que nomear seus sentimentos ajuda a lidar com eles não é unanimemente aceita. Em um estudo feito em Harvard há alguns anos, nomear emoções enquanto se visualizavam imagens desagradáveis, na verdade, tornava mais difícil se livrar dessas emoções. Sou fascinado pelas pesquisas de Dekerle e de outros que estão tentando desvendar os mistérios da fadiga, e espero que a área continue avançando. Mas, por ora, enquanto estou correndo, vou tentar deixar toda essa terminologia de lado e focar em aumentar minha autoeficácia — abraçando minha “torcida interior”.

*Alex Hutchinson escreve sobre treinamento na Outside USA.