4 trilhas para se conectar com a espiritualidade no mundo

Por Bruno Romano

4 trilhas para se conectar com a espiritualidade ao redor do mundo
Imagem: Germán Cigala/Unsplash

Algumas trilhas mundo afora reservam mais que desafios naturais: são caminhos sagrados de religiões que vão do cristianismo ao budismo, e que podem ser conhecidos em belos roteiros de bike e trekking para uma conexão com a espiritualidade.

Confira 4 trilhas que têm conexão com história e religiões ao redor do mundo:

1) História Inca na Argentina

Extremamente apegados aos seus costumes e a sua religiosidade, os incas foram dizimados pelos colonizadores europeus, mas deixaram ensinamentos e vestígios de uma civilização bastante avançada. Parte do que restou em ruínas pode ser visto em cidades peruanas, bolivianas, chilenas e argentinas. No norte da Argentina está Tilcara, considerado um dos mais importantes centros espirituais do império inca. Acredita-se que o local, rodeado por cadeias de montanhas, concentra muita energia, por isso era escolhido para os cultos em celebração a Pachamama, a “mãe terra”, responsável pela existência de todos.

Tilcara
Imagem:
Hector Ramon Perez/Unsplash

Com estradas em boas condições, a região pode ser percorrida em uma interessantíssima viagem de bicicleta. Tilcara, assim como sua cidade vizinha, Purmamarca, que também resgata a cultura andina, estão na Ruta 9, que corta a província de Jujuy, na chamada Quebrada de Humahuaca. Descendo para o sul, chega-se à capital de Jujuy, distante aproximadamente 100 quilômetros de Salta, onde fica o maior aeroporto da região. Deixando a Ruta 9, ainda no sentido sul, chega-se à província de Tucumán. A beleza dos vales Calchaquíes, já na Ruta 307, ajuda a encarar os grandes desníveis da região.

O esforço vale a pena para chegar a cidades como Amaicha del Valle, um povoado que respira a cultura andina. Lá fica o maior museu da região, o Pachamama, que explica os rituais e crenças dos antepassados, como a ideia de que somos encarnações de espíritos que podem se materializar em diferentes formas, como a serpente, a rã e o condor – a mais elevada delas.

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De Amaicha saem passeios guiados em trilhas para a cidade sagrada dos Quilmes e as ruínas representam toda a espiritualidade desse povo. Dados como extintos, os Quilmes foram os últimos a se render aos espanhóis, em uma batalha que durou três gerações. Em excursões guiadas, guias locais explicam a formação da região, a luta pela sobrevivência e os rituais locais.

2) Bike no Jardim do Éden entre Irã e Turquia

Cruzando as montanhas do Irã e da Turquia, bem perto da fronteira desses dois países, está a Blue Mosque, ou Mesquita Azul, ponto de parada obrigatório para quem encara este belo pedal de dez dias. Atribui-se ao lugar, onde está hoje a cidade iraniana de Tabriz, a localização do bíblico Jardim do Éden. O passeio de bike é organizado pela Tour d’Afrique, especializada em pedais exóticos.

Tabriz
Imagem: Morteza Kholghi/Unsplash

Neste roteiro que mistura Oriente e Ocidente, não faltam ícones religiosos, com direito a passagens por centenárias igrejas ortodoxas e sagrados templos islâmicos, além de belezas naturais como o monte Ararat, o maior da Turquia, com 5.137 metros.

O roteiro de bike Irã-Turquia, um dos mais recentes lançados pela operadora, faz parte da Rota da Seda, que corta a Ásia do Mediterrâneo ao Pacífico. O pedal é exigente, com média superior a 100 quilômetros por dia.

3) No coração do império Khmer, Camboja

Arqueólogos e estudiosos ainda tentam desvendar os mistérios de Angkor, enorme confluência de construções religiosas hinduístas e budistas que serviu de capital do Império Khmer, no século 9. Como outras grandes civilizações que desaparecem, a cultura khmer era extremamente evoluída, como atesta a elaborada rede de irrigação e esgoto e a arquitetura desse complexo de templos localizado no Camboja, vizinho à Tailândia.

Antes de chegar a Angkor, a pedida é um trekking de quatro dias por onde se estendia parte do território khmer.

Angkor
Imagem:
Julie Ricard/Unsplash

Como no Egito antigo, todas as construções “faraônicas” que resistem no Camboja foram feitas com o trabalho de milhares de pessoas, guiadas por reis da época, como Jayavarman e Suryavarman, que tinham status de deuses. Descobertas há pouco mais de 100 anos, as ruínas cambojanas estavam tomadas pela mata. Hoje se espalham por esse patrimônio da humanidade, onde templos semi-destruídos mesclam-se com a exuberante natureza local.

4) Caminho iluminado em São Paulo

Foi da cidade galega de Villa Franca del Bierzo que chegou a imagem de Sant’Iago (na grafia original). A escultura do apóstolo que dá nome ao famoso caminho de Compostela, pelas trilhas de espiritualidade da península Ibérica, também marca, desde 2002, o trecho final de uma peregrinação brasileira: o Caminho do Sol, trajeto de 240 km pelo interior de São Paulo.

Caminho do Sol - trilhas espiritualidade
Imagem: Reprodução/caminhodosol.org.br

São onze municípios, desde a largada em Santana de Parnaíba até a chegada em Águas de São Pedro, cruzando Pirapora do Bom Jesus, Cabreúva, Itu, Indaiatuba, Salto, Elias Fausto, Capivari, Mombuca, Saltinho e Piracicaba, entre outros. Setas sinalizam todo o caminho, que passa principalmente por áreas rurais.

O peregrino pode seguir a pé ou de bike, no ritmo que escolher. Há quatro opções de rota para essas trilhas de conexão com a espiritualidade: laranja, azul, verde ou vermelha, sendo que a última é a única recomendada apenas para o trekking.

A “versão brasileira” do Caminho de Santiago não almeja se igualar ao precursor, mas resgata o que há de mais típico em percursos que misturam esporte com a religiosidade de uma peregrinação. Prova disso é a proposta de hospedagem em pousadas peregrinas e coletivas, com hospitalidade típica do interior. Além disso, há palestras sobre o caminho, onde é possível conseguir mapas e informações mais detalhadas. O visitante deve pagar uma taxa de inscrição, usada para manter o percurso. Feito isso, chega-se à primeira pousada em Santana de Parnaíba para receber o passaporte do caminho com o carimbo inicial.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2012)







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