A GENTE SABE que algo deixou de ser exótico no momento em que códigos incompreensíveis para a maioria se tornam conhecidos. Uma década atrás, a sigla UTMB era estranha para nove de cada dez pessoas com as quais o minúsculo círculo de corredores de montanha de então conversava. Não mais: o que já foi uma ultramaratona encarada por poucos e loucos, evoluiu para um evento capaz de reunir mais de 10 mil atletas em 2021, consolidando-se como a joia da coroa do circuito mundial das ultras.
Nascida do empenho de um pequeno grupo, que há 18 anos atrás começou a organizar o percurso de 168 km com 11 mil metros de desnível, a Ultra-Trail du Mont- Blanc já não é apenas uma prova familiar há bastante tempo. Ela ganhou outras distâncias além do percurso clássico – 50 km (OCC) e 100 km (CCC) –, além da admiração de um público bem mais amplo, que se desenvolveu junto com o evento mítico. Quando deu por si, a UTMB era de amadores, profissionais, veteranos e iniciantes sonhadores, ávidos por completar algum dos percursos que largam da simpática Chamonix, na França, meca do montanhismo e sede do evento desde 2003.
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O próprio desenvolvimento do trail run tem conexão direta com o crescimento da UTMB. Ao longo dos últimos anos, a marca tem feito um movimento de expansão para além dos Alpes, experimentando parcerias com competições de trail locais, capazes de espelhar os mesmos valores e ingredientes que fizeram daquele o evento mais importante do calendário da elite mundial de corredores de montanha: percursos desafiadores, belas paisagens e organizadores comprometidos em combinar a excelência e o clima familiar que dão charme e legitimidade à competição.
“Desde 2003, quando a prova foi criada, o desejo já era o de crescer e prosperar”, relembra Frédéric Lenart, CEO do grupo UTMB, que está encabeçando o projeto de expansão da marca. A meta? Chegar em 2023 com 40 eventos ao redor do mundo.
Junto com as primeiras experiências em outros países da Europa e de outros continentes, entre 2017 e 2018 teve início a conversa com um gigante das competições esportivas, o grupo Ironman, responsável por realizar centenas de eventos por ano – só o meio Ironman 70.3 acontece em mais de 150 localidades. A união se formalizou nos últimos meses de 2021 e trouxe o fôlego que a UTMB precisava para buscar implementar um crescimento gigante em um curto espaço de tempo.
“Nós teríamos feito essa expansão de qualquer jeito e com o nosso próprio conceito, mas a experiência deles sem dúvida vai ser fundamental”, declara Frédéric.
A pandemia, segundo o CEO, impactou profundamente as decisões do grupo, inclusive na hora de escolher as cidades-sede que deverão compor esse novo circuito: para 2022 não será possível, por exemplo, a realização de um evento UTMB na América do Sul, onde a contaminação do vírus da covid-19 se alastrava rapidamente no momento em que os destinos e eventos estavam sendo definidos.
“Temos a ambição de estar na América do Sul em 2023, principalmente por duas razões: existe uma comunidade muito forte para ser incorporada, e nossos valores de diversidade cultural buscam marcar nossa presença em outras culturas”, explica Frédéric. Outros fatores são decisivos na escolha das provas, como questões logísticas, paisagens cênicas e percursos que desafiam não apenas os atletas recreativos do trail run, mas também as maiores estrelas da modalidade.
Western States (EUA), Tarawera (Nova Zelândia) e Lavaredo Ultra Trail (Itália) são alguns exemplos de provas já consagradas que agora passam a integrar a UTMB World Series. Com o novo circuito, corredores amadores ao redor do globo terão mais chances de pontuar para tentar uma vaga na mais prestigiosa de todas as provas, a UTMB clássica, em Chamonix, que seguirá sendo realizada no mês de agosto e encerrará o calendário oficial dos atletas de elite em grande estilo.
A estratégia é interessante porque preserva a aura mítica da prova original, enquanto fomenta o desenvolvimento da modalidade. “Dessa forma, atendemos as necessidades dos atletas profissionais – essenciais para inspirar novos adeptos – e ajudamos o corredor recreativo a coletar pontos oferecendo mais opções de provas”, conta Frédéric.
O CEO também quer naturalizar cada vez mais a presença das mulheres nos percursos e acabar de vez com qualquer estereótipo que iniba o público feminino de se aventurar nas ultras de montanha. O que estão pretendendo a partir de 2022 não é, segundo ele, uma revolução, mas, sim, uma evolução. É bem provável que o universo do trail run nunca mais seja o mesmo.
Caminho das pedras: confira abaixo os eventos que vão compor a UTMB World Series 2022
1. TaraweraTM Ultramarathon by UTMB® (Nova Zelândia), 12 de fevereiro*
2. Ultra-Trail 2. AustraliaTM by UTMB® (Austrália), de 12 a 15 de maio
3. Trail du Saint-Jacques by UTMB® (França), 11 de junho
4. Mozart 100TM by UTMB® (Áustria), 18 de junho
5. La Sportiva® Lavaredo Ultra Trail® by UTMB® (Itália), de 23 a 26 de junho
6. Trail 100 AndorraTM by UTMB® (Andorra), de 24 a 26 de junho
7. Western States® 100-Mile Endurance Run (EUA), de 25 a 26 de junho
8. Ultra-Trail Snowdonia by UTMB®, (País de Gales), de 1 a 3 de julho
9. Restonica Trail by UTMB® (França) de 7 a 9 de julho
10. Val d’Aran by UTMB® (Espanha), de 7 a 10 de julho
11. Trail Verbier Saint-Bernard by UTMB® (Suíça), de 8 a 10 de julho
12. Eiger Ultra Trail by UTMB® (Suíça), de 15 a 17 de julho
13. Wildstrubel by UTMB® (Suíça), de 8 a 11 de setembro
14. Nice Côte d’Azur by UTMB® (França), de 22 a 25 de setembro
15. Puerto Vallarta México by UTMB® (México), outubro
16. Thailand by UTMB® (Tailândia), de 10 a 13 de novembro
17. TransLantauTM by UTMB® (Hong-Kong), novembro
18. Panda Trail by UTMB® (China), a ser definida
19. Gaoligong by UTMB® (China), a ser definida
20. UTMB® World Series Finals – UTMB® Mont-Blanc (França, Itália, Suíça), de 22 a 28 agosto
*Prova cancelada por causa da Covid-19.
Matéria originalmente publicada na revista Go Outside 172.