The Extra Mile: novo ciclo de aclimatação no Nepal e cume no Lobuche East

Por Redação

Bernardo Fonseca detalha escalada ao Lobuche East em novo relato da expedição The Extra Mile. Foto: Gabriel Tarso.

No projeto The Extra Mile: Every action counts (Um Passo a Mais: Cada ação conta), o brasileiro Bernardo Fonseca desembarcou no Nepal rumo ao topo do Everest (8.848 metros). Além da maior montanha do mundo, o esportista e empreendedor de 45 anos também pretende subir o Lhotse (8.516 metros), no mesmo país, em um intervalo de 24 horas para chamar a atenção sobre o lixo deixado nas montanhas. O feito, conhecido como “double-head”, seria uma conquista inédita para alpinistas brasileiros. Confira abaixo o relato de Bernardo sobre a segunda semana do projeto.

Os últimos dias foram muito intensos. Eu e Gabriel Tarso estamos nos aclimatando, dia após dia, para fazer o Double-Head daqui a algumas semanas. Durante todo esse ciclo, temos as chamadas rotações, processo fundamental para que o corpo se acostume com os efeitos da altitude e se adapte até que esteja pronto para atingir a altitude desejada – no nosso caso, os 8.848 metros do Everest e, depois, os 8.516 do Lhotse.

No último final de semana, realizamos a nossa primeira rotação. Mas, ao invés de passarmos pelo Khumbu Icefall, que é um dos pontos mais perigosos até os campos 1, 2, 3 e 4, optamos por escalar o Lobuche East, uma fantástica montanha com 6.119 metros de altitude.

Nossa primeira missão foi sair do EBC e ir para a vila de Lobuche. Logo no começo, o que parecia ser tranquilo mudou completamente com o mal tempo e enfrentamos neve forte do início ao fim, com trechos escorregadios e pouca visibilidade. Chegamos, literalmente, congelados! Dali, ainda partimos para o high camp, algo próximo de 5.200 metros de altitude, com uma subida interminável e cheia de pedras cobertas de neve! Na manhã seguinte, à 1h da manhã, saímos rumo ao cume da montanha.

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Nossa trajetória nesse primeiro grande desafio foi algo muito marcante. Gabriel pegou uma gripe forte e desde então está se medicando e fazendo um esforço extraordinário para, além do desafio em si, documentar tudo, carregando mais peso com seus equipamentos. Se juntaram ao nosso time Dawa Sherpa, um homem de 40 anos, extremamente forte e com inúmeros cumes conquistados, e Nga Thindu Sherpa, um rapaz nascido na região do Makalu, que, apesar de ter apenas 26 anos, já tem muita experiência.

Dawa, um trator na montanha, ficou sempre próximo do Tarso, que ainda estava muito resfriado, e o Thindu sempre comigo, com dicas valiosas. Passamos por três grupos e confesso que o primeiro aprendizado na montanha é ir devagar, mas também é encontrar seu ritmo, e seguir firme. Foi duríssima a subida. Frio, neve, vários trechos petrificados de gelo. Subir usando o Jumar exige ter que tirar a luva maior para abrir e fechar em cada enfiada. Meus dedos deram uma congelada logo na primeira hora. O time todo se preocupou em me ajudar e mudamos de luva para ajustar. Ao longo da subida, encontramos várias cordas enterradas no gelo e deu o maior trabalho abrir a rota. Méritos total dos nossos sherpas, eles são realmente muito fortes.

O dia foi amanhecendo e o Tarso ficou louco com as imagens! Paramos para tirar fotos e filmar. O visual era magnífico! Um pouco mais adiante, avistamos o cume. O Thindu viu que estávamos bem casados, afinal ainda estamos nos aclimatando. “Mais duas horas e chegaremos lá”, ele nos disse.

De repente, começaram as gretas, um momento de atenção total! Lembrei do nosso propósito de estar aqui e isso me deu energia para seguir. Confesso que fiz mais força do que esperava! Meu tendão do pé esquerdo está inflamado faz algum tempo e a qualquer momento vai romper, mas disse a mim mesmo: “Não vai ser hoje e nem será antes da nossa missão estar completa”.

Mais alguns passos e, finalmente, chegamos ao cume! 6.119 metros, mais alto que muitas montanhas desafiadoras, como Kilimanjaro e a maioria dos 7 cumes do planeta. Mas cume é apenas metade do caminho. Precisamos descer e chegar no nosso acampamento. Tínhamos inúmeras cordas pra rapelar. Seguimos no estilo nepalês, freando nossa descida com as próprias luvas!

De volta ao EBC, vejo que esses quatro dias foram especiais, pois solidificaram nosso time. O tempo todo, estivemos um olhando pelo outro, nos ajudando com uma empatia imediata. Estamos muito unidos e mentalmente fortes para superar juntos tudo que vier pela frente!

Estou orgulhoso e feliz de estar com o Tarso, Dawa e o Thindu. Sem esquecer o Arnold Coster, líder da nossa expedição, que nos direciona, traz segurança, liberdade e flexibilidade para adaptarmos tudo o que for necessário.

Seguimos fortes e na semana que vem tem mais!

A expedição ao Everest e o dia a dia no Nepal podem ser acompanhados diariamente no perfil do empresário no Instagram .