No dia 12 de janeiro a HBO Max estreou ‘The Climb’ (‘A escalada’, em tradução literal), um reality show voltado à escalada que conta com a presença de dois brasileiros. A série tem repercutido super bem no Brasil e, inclusive, vem alcançando um público novo – que não costumava acompanhar e nem praticar o esporte.
Leia mais:
+ Veja o trailer de ‘The Climb’, o reality show de escalada estrelado por Jason Momoa
+ 10 picos clássicos de escalada indicados por escaladores brasileiros
+ Escalada indoor: três exercícios para fazer um treino completo
Produzido pela estrela de Hollywood, Jason Momoa (sim, o próprio Aquaman) e o ícone da escalada profissional Chris Sharma, o programa conta com oito episódios que envolvem 10 escaladores amadores disputando um prêmio de US$ 100 mil, além de um ano de patrocínio da fabricante prAna, também no valor de US$ 100 mil. Todos os episódios já estão no ar!
Sem dar spoilers, podemos mencionar que o reality propõe desafios de diversas modalidades de escalada, desde Deep Water Solo sobre os penhascos de Maiorca, na Espanha, até escalada tradicional no arenito de Wadi Rum, na Jordânia. Tudo isso envolto nos grandes e pequenos dramas pessoais dos participantes – como costuma-se fazer em programas desse gênero.
Em meio a uma maioria de escaladores estadunidenses e alguns do Reino Unido, os dois brasileiros que integraram o elenco de ‘The Climb’, foram motivos de muito orgulho para a bandeira verde e amarela. Foram eles, André Braga e Maiza Lima.
Com a representatividade brasileira em uma das maiores plataformas de streaming do mundo, a escalada nacional se beneficia como um todo – uma vez que é oportunidade de visibilidade, além de fomentar e incentivar mais brasileiros a adentrarem na comunidade dos paredões.
“Exatamente quanto The Climb vai impactar no engajamento de mais pessoas ao esporte, a gente não sabe, mas é certo que já está interferindo”, opina o escalador André Braga. “Eu recebo muitas mensagens de pessoas que estão pilhadas para começar a escalar e para mim isso é mais importante do que qualquer prêmio ou patrocínio”.
Abaixo, trouxemos um breve apresentação para que você conheça mais sobre os brasileiros que estão no ‘The Climb’.
André Braga
Alegre, pilhado e expansivo, André Braga é a verdadeira personificação do espírito brasileiro. Formado em Geologia pela Universidade do Paraná, o curitibano de 30 anos, começou a escalar com 14 anos a partir de um convite de um amigo. “Tive muito medo, mas achei maravilhoso”, conta ele para a Go Outside. “Mas como era um esporte caro, eu não conseguia ir muitas vezes”.
Para poder se divertir nas paredes com mais frequência, André esperou até o fim do ano – no seu aniversário – e pediu aos seus pais os itens fundamentais do esporte: uma cadeirinha, uma sapatilha e um saco de magnésio. “Foi ali que eu realmente comecei, porque estava em férias de verão e eu ia praticamente todos os dias para o ginásio”, relembra.
Realizado nos treinos de escalada, ele precisou se virar para pagar os altos custos do esporte. “Eu percebi que a escalada de competição poderia ser o meu portal para viabilizar a mensalidade do ginásio, porque era muito caro”, conta ele sobre a razão principal que o levou às competições.
Mas como sabemos, viver de qualquer prática esportiva no Brasil é um desafio muito grande e, em especial, na escalada – que é um nicho ainda pequeno no país – os obstáculos para se sustentar exclusivamente como atleta podem ser mais desafiadores do que qualquer boulder difícil. Ciente de que o dinheiro das competições seriam insuficientes, ele ampliou os horizontes e hoje encontra novas formas de somar na comunidade da escalada.
“O André Braga faz muitas coisas além de escalar”, revela ao ser questionado sobre o que fazia além do esporte. “Eu sou geólogo, sou técnico de escalada, trabalhei diretamente com a Camila Macedo [atleta tri Campeã Brasileira de Escalada em Boulder], por quatro ou cinco anos, eu sou Route Setter e monto linhas em ginásios comerciais e em competições de escalada”.
Além de desempenhar tantas outras funções, em 2019, André se uniu com outros dois sócios para abrir a Fábrica de Formas Design Ltda, a primeira empresa brasileira especializada em projetos de paredes de escalada, que tem o propósito de viabilizar projetos de escalada por todo o país. “No Brasil, os equipamentos de escalada e preço dos ginásios tornam tudo caro, mas nossa intenção é popularizar o esporte, levando paredes que cheguem a escolas e mais lugares”, conta André que acredita no triunfo de The Climb para atrair a atenção de mais pessoas à escalada, principalmente no Brasil.
“Para mim, ter conexão com a comunidade é tão importante quanto – se não mais – do que o próprio autoconhecimento que a escalada me proporciona”, explica. “Hoje em dia, o meu trabalho como atleta e o meu trabalho como empresa tem a missão de universalizar o acesso ao esporte”.
Instagram: @escaladeco_
Maiza Lima
Maiza Lima cresceu na pequena vila de Alacilândia, em Conceição do Araguaia, no Pará, mas seu português acabou por ficar enferrujado. Isso porque aos 17 anos, junto com sua mãe, Geralda, ela atravessou a fronteira do México com os Estados Unidos em busca do sonho americano na cidade de Seattle.
Por lá, as duas passaram os anos seguintes limpando casas, driblando a polícia e, finalmente, encontrando algum conforto e oportunidades para uma vida melhor. As dores e a dificuldade de esconder a condição ilegal até mesmo para amigos hoje dão lugar a um enorme sentimento de gratidão.
Entretanto, quando chegou à América do Norte, Maiza ainda sonhava com um diploma universitário, algo impensável no contexto familiar de Alacilândia, onde a escola ficava longe, a comida era pouca e a dependência do álcool e do jogo consumia o pai e os poucos recursos.
Com a correria do dia a dia, não sobrava tempo para os estudos, mas ainda sim, a graduação veio de outra forma.
Após um convite para fazer caminhadas nos arredores de Seattle ela se motivou para “sair mais cedo da cama” nos dias de folga. E assim ela foi se entregando mais e mais àquela atmosfera: primeiro caminhando, depois fazendo escalada alpina e, por fim, escalando em rochas.
De 2015 – quando fez sua inscrição em um curso de escalada sem ter muita ideia do que aquilo seria – de lá para cá, não apenas a vida dela, mas a realidade do esporte mudou bastante.
Atualmente, a escalada tem crescido, o que trouxe mais ginásios, empresas especializadas, academias e novas oportunidades de trabalho a um mercado ultra nichado até mesmo nos Estados Unidos.
Além disso, uma sucessão de aspectos positivos, levaram a própria Maiza para outra posição: guia de escalada, modelo de marcas especializadas em vida ao ar livre, atleta patrocinada e feliz companheira de Dallin Wilson, bombeiro das Forças Armadas norte-americanas e apaixonado pelas rochas, como ela. No topo de tudo isso, sua missão na escalada é trazer representatividade para mulheres e comunidades até há pouco tempo invisíveis na cena da escalada.
“Sair de debaixo do tapete e dizer ‘eu sou ilegal no país, mas também posso fazer coisas que os norte-americanos fazem’ foi muito difícil e desafiador. Além da barreira da língua, há outras. Todo mundo em Seattle trabalha para o Google, a Microsoft, então encher o peito e dizer ‘eu também posso’ foi duro”, avalia a brasileira que já chegou a estampar campanhas de gigantes como a REI, Eddie Bauer e Black Diamond e ajuda a diversificar o estereótipo do praticante de escalada: homem, branco, magro e alto.
Geralda teve sua documentação regularizada mais cedo e já visitou a família no Brasil muitas vezes, mas Maiza precisou se restringir ao território dos Estados Unidos até 2019, quando legalizou sua situação no país e passou a falar mais abertamente da sua condição de imigrante.
“Tinha muito medo de ser julgada e só hoje me sinto perdoada, de certa forma.” Em maio do ano passado ela passou na entrevista para ter a cidadania. No mês de junho Maiza se tornou, oficialmente, cidadã norte-americana e segue sendo uma das escaladoras brasileiras mais bem sucedidas da nossa história.
Instagram:@maizalimarock