Para mulheres mais velhas, o isolamento social e a solidão são fatores que aumentam o risco de desenvolverem alguma doença cardiovascular, aponta estudo recém-publicado no período científico Journal of American Medical Association (JAMA). Durante quase dez anos, os pesquisadores acompanharam cerca de 58 mil mulheres na pós-menopausa, com idade média de 79 anos, e concluíram que o isolamento, por si só, aumentava o risco da doença cardíaca em 8%, e a solidão em 5%. Quando os dois sentimentos eram associados, o risco chegava a até 27%, quando comparado com mulheres da mesma idade sem esses sentimentos.
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Vale destacar que solidão e o isolamento social não são a mesma coisa:
- Solidão é sentir-se sozinho mesmo estando em contato regular com outras pessoas;
- Isolamento social é estar fisicamente longe das pessoas.
Assim, uma pessoa socialmente isolada nem sempre é solitária e quem diz sentir solidão não é necessariamente socialmente isolada. Segundo a médica cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, que atua na área de cardiologia da mulher, o grau de isolamento social de uma pessoa pode ser aferido por meio de questionários internacionais específicos. Já o grau de solidão é muito subjetivo, porque se trata da percepção do indivíduo sobre a própria situação.
“Quando os pesquisadores analisaram o grande conjunto de variáveis, eles concluíram que o isolamento social sozinho interfere na saúde cardiovascular da mulher, assim como a solidão sozinha também interfere. E quando a mulher relatava sentir as duas coisas, era um fator de risco maior ainda, independentemente de outros que a mulher possa ter. Esse é um número muito alto e é importante sabermos que eles, sozinhos, já podem ser considerados fatores de risco cardiovascular”, diz a médica.
É importante destacar que a pesquisa foi realizada entre 2011 e 2019, antes da pandemia de covid-19, que provocou o isolamento social forçado de milhões de pessoas, e pode ter aumentado a sensação de solidão ainda mais. Para chegar à conclusão, os autores da pesquisa corrigiram outros fatores de risco cardiovasculares por meio de programas estatísticos para realmente observarem o efeito da solidão e do isolamento nessas mulheres.
Por que solidão e isolamento impactam no coração?
De acordo com Soares, alguns comportamentos que não são benéficos à saúde estão mais associados ao isolamento social e à solidão, entre eles: o aumento do sedentarismo, tabagismo, consumo de bebida alcoólica, dietas menos balanceadas e mais voltadas ao consumo de doces e de produtos industrializados. Ainda segundo a especialista, o isolamento e a solidão também podem aumentar os casos de depressão e de ansiedade e provocar situações de estresse crônico, que acabam alterando níveis hormonais nas mulheres.
“Esses são hábitos que acabam levando a outros fatores de risco cardiovascular. Ademais, tem um substrato biológico envolvido. O estresse crônico, por exemplo, promove um desequilíbrio hormonal favorecendo o estresse oxidativo e, consequentemente, um processo inflamatório no organismo. Com os hormônios desbalanceados, com o cortisol aumentado, o processo de aterosclerose [formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos] fica mais intenso. Esse processo de alterações em cascata aumenta o risco de a mulher sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou de ter um quadro de infarto”, explicou a cardiologista.
Principal causa de morte
As doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte no mundo, e esta não é a primeira vez que um estudo aponta a associação de solidão e isolamento social com o aumento do risco desse tipo de evento. Uma pesquisa publicada em 2016 na revista científica Heart já apontava que a solidão e o isolamento estavam associados a um risco acrescido de 29% de ataque cardíaco e de 32% de sofrer um AVC. A explicação era justamente os comportamentos associados à solidão: tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e má alimentação.
“Essa era uma situação que nós médicos já observávamos e esse estudo, com uma população feminina dessa magnitude, veio corroborar. Esses resultados destacam a necessidade de reforçarmos ações de prevenção de doenças cardiovasculares nas mulheres. O ideal é que elas recebam suporte antes que cheguem nessa situação”, completou Juliana.