5 sinais de que você está conseguindo viver no presente

Por Lindsey Laughlin, do Yoga Journal/Outside USA

viver no presente
Foto: Dingzeyu Li/Unsplash

Conhecer os sinais de que você está conseguindo viver no presente pode te ajudar a entrar no flow com mais frequência.

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A maioria de nós sente que a vida avança em alta velocidade, nos deixando distraídos e apressados enquanto tentamos dar conta de listas de afazeres intermináveis. Para combater essa sensação de que o tempo está correndo, buscamos maneiras de desacelerar e estar mais presentes. Isso inclui qualquer coisa que aumente nossa capacidade de “entrar no flow” — o que acontece quando estamos totalmente absorvidos em uma tarefa ou atividade.

Cultivar estados regulares de flow, ou estar presente, é uma forma de ampliar nossa consciência do momento presente e nossa sensação de conexão com o mundo ao nosso redor. Quando um ciclista de montanha avança por terrenos irregulares, mas permanece totalmente focado em cada salto e curva, ou quando um escritor está tão absorto que horas se passam sem que ele perceba, eles estão vivenciando o estado de flow. Nesse estado, nossos pensamentos não vagam para o passado ou para o futuro — estamos totalmente imersos no momento presente.

O que é um estado de flow?

“Estar no flow” refere-se a um estado elevado de consciência, caracterizado por percepções sensoriais amplificadas e foco total no que se está fazendo, explica Christof Koch, PhD, neurocientista e ex-presidente do Allen Institute of Brain Science, nos Estados Unidos. “Você não se distrai quando está no flow — você está completamente imerso no momento presente. Todo o resto desaparece, às vezes por horas a fio.”

Uma das características mais marcantes do flow, acrescenta Koch, é a “perda do senso de eu”. Isso não é apenas um indicador de que você chegou ao presente, ele explica, mas um componente essencial para se chegar lá. “Quando você perde a noção de si mesmo, o mundo se torna incrivelmente belo e transcendental”, diz Koch. “Depois de experimentar esse estado, você pode usá-lo como meta. Pode dizer: ‘Vou correr mais para alcançar esse estado de perda do eu.’”

5 sinais de que você está conseguindo viver no presente

Há várias formas de acessar o estado de flow, seja por meio de exercícios físicos, meditação ou absorção total em uma tarefa. Não importa qual caminho você escolha, aprender a reconhecer os sinais típicos de estar plenamente presente pode te ajudar a acessar esse estado com mais frequência.

A seguir, cinco sinais comuns de que você está vivendo o presente:

1. A percepção do tempo muda

A sensação de que o tempo está passando de maneira atípica — mais rápido, mais devagar ou até parando — é uma característica clássica de estar presente. O esquiador extremo Julian Carr, conhecido por fazer manobras invertidas de penhascos de mais de 60 metros, relata regularmente essa sensação de atemporalidade. “No céu aberto, inacreditavelmente alto acima do chão, estou completamente relaxado e presente. É uma experiência rica que dura tanto uma eternidade quanto um instante”, diz ele.

Você não precisa praticar esportes extremos para acessar um estado de flow. A sensação de que o tempo está se expandindo, se contraindo ou parando também é comum em atividades mais serenas, como desenhar, fazer artesanato ou ouvir música. Até mesmo se concentrar em números pode desencadear uma imersão completa no presente. “Quando eu era mais jovem, conseguia focar em matemática ou programação, e tudo ao redor desaparecia por horas”, lembra Koch.

Prestar atenção em quais experiências alteram sua percepção do tempo — e como elas mudam ao longo dos anos — pode te ajudar a identificar várias formas de estar mais presente no dia a dia.

2. Sensação de calma e paz

Entrar em estado de flow geralmente produz uma sensação de bem-estar e paz interior — como se você tivesse chegado ao seu destino e não houvesse mais nada com que se preocupar, planejar ou fazer. Essa sensação de calma e contentamento é, em grande parte, o que leva as pessoas a buscar esse estado repetidamente.

Ironicamente, essa paz que alguns atletas sentem em meio ao flow contrasta com o perigo da atividade. “Ao me lançar de grandes penhascos, estou fazendo algo que pode facilmente me matar”, diz Carr. “Mas minha respiração e meus batimentos cardíacos são mais baixos do que agora, sentado e conversando. Tenho uma mente calma guiando meu corpo.”

Outras pessoas experimentam a mesma sensação com os pés no chão. “Quando saio do tapete de yoga, estou presente, e há uma qualidade de paz”, diz Liza Toft, professora de yoga há 26 anos, incluindo no Iyengar Yoga Institute de Nova York. “Minha percepção do mundo ao redor mudou.”

Toft descreve a experiência de estar no flow como maravilhosa, porém difícil de alcançar. “Por isso a prática consistente é tão importante. Esses momentos [de presença] se tornam mais fáceis de encontrar”, ela explica.

Artistas cênicos — como dançarinos, atores e cantores — muitas vezes relatam uma sensação de imersão total no presente enquanto estão em cena, mesmo diante de uma plateia. O contentamento que vem de estar completamente absorvido pela performance é uma das razões pelas quais eles continuam voltando ao palco.

Identificar as situações que provocam uma sensação de profunda calma e paz pode te ajudar a entender quais ambientes e atividades facilitam sua presença.

3. O padrão da respiração muda

Estar no flow pode modificar a forma como você respira. Essas mudanças incluem respirações mais profundas e completas, diminuição do ritmo de inspiração e expiração, e redução da tensão e constrição no peito.

Curiosamente, a relação entre respiração e presença é uma via de mão dupla. Estar no presente faz com que a respiração desacelere — e desacelerar a respiração aumenta sua consciência do momento. Praticantes de yoga conhecem bem essa dualidade.

Segundo Daniel Parecki, MD, médico de família em Tualatin, Oregon (EUA), uma maneira de influenciar o ritmo respiratório é usar a respiração diafragmática. “Muita gente ignora o diafragma, o abdômen, as laterais, o pescoço e as costas e respira só com a parte anterior do tórax”, diz Parecki. Essa respiração restrita limita a entrada de ar nos pulmões. Já ao engajar o diafragma — nosso principal músculo respiratório — aumenta-se o fluxo de ar e a troca de oxigênio e gás carbônico, o que pode diminuir a pressão arterial e os batimentos cardíacos.

Por causa da importância da respiração para o corpo e a mente, Parecki frequentemente recomenda que pacientes ansiosos “soltem o ar com certa força… como se estivessem apagando uma vela de aniversário.” Ele observa que esse simples exercício tem um efeito calmante perceptível.

Uma forma eficaz de acalmar a mente e incentivar a presença é praticar a respiração diafragmática ou qualquer tipo de exercício respiratório que desacelere o ritmo da respiração.

4. Sensação de conexão com… tudo

A imersão sensorial total no ambiente ao redor pode ampliar a sensação de conexão com o mundo externo. “Diante de um salto enorme, me torno algo primal com a natureza”, diz Carr. “O medo se transforma em… conexão.”

Claro que, para quem acessa o flow em esportes extremos, “é preciso manter uma conexão intensa e foco no mundo externo”, alerta Koch. Sustentar a atenção e evitar distrações é essencial para a segurança.

Outros sentem essa mesma conexão por meio de atividades bem mais tranquilas, como cozinhar, tricotar ou montar um quebra-cabeça. Todas essas são formas acessíveis de entrar no flow. O segredo é descobrir o que funciona para você.

Se o movimento físico fortalece sua experiência do momento presente, tente incorporar exercícios regulares — seja correr, nadar, dançar ou qualquer outra atividade. Se tarefas mais calmas e estacionárias ajudam na sua conexão com o mundo, reserve tempo e espaço para projetos artísticos ou manuais. Isso aumentará suas chances de entrar no estado de flow.

5. Ausência total de pensamentos

Aquele diálogo mental constante — planejando o futuro ou remoendo o passado — silencia quando você está no presente. Segundo Koch, silenciar a mente e reduzir a enxurrada de pensamentos aleatórios é “o maior desafio para alcançar o flow”.

Quanto mais confortável você estiver com a mente em silêncio, maiores as chances de entrar no flow. Koch recomenda a prática da atenção plena (mindfulness) para desenvolver essa habilidade. “Inspire e depois expire”, sugere. Observar o vai e vem da respiração é uma forma poderosa de acessar o presente.

Para quem não acha calmante ficar parado, a quietude não é a única maneira de silenciar a mente. Praticar atenção plena durante uma atividade física, como escalar ou pedalar — prestando atenção à respiração e ao que está fazendo — também fortalece a capacidade de estar presente.

“A consequência de longo prazo de praticar mindfulness de forma consistente é estar presente com mais frequência”, afirma Koch.

O que significa viver no presente na sua vida cotidiana

Estar consciente desses sinais típicos de flow — mudanças na percepção do tempo e da respiração, maior calma e conexão, e ausência de pensamentos — pode melhorar sua capacidade de acessar esse estado. E isso, por sua vez, aumenta seu bem-estar e sua conexão com o mundo ao redor.

“Claro”, acrescenta Koch, “depois de alcançar esse estado, você ainda precisa lavar roupa, pagar impostos e tirar o lixo.” Mas talvez você tire o lixo com menos frustração — ou descubra um novo apreço por dobrar e guardar as roupas limpas.

A beleza do estado de flow é que, depois que você se familiariza com a sensação, cada momento se torna uma oportunidade de presença. E a vida, como um todo, ganha mais clareza e significado… até mesmo na hora de declarar o imposto de renda.