Fomos conhecer a rara beleza subterrânea da Nova Zelândia
Por Bruno Romano*
Às vezes, grandes aventuras estão escondidas embaixo da terra. É o que acontece nesta jornada pela caverna Ruakuri, na ilha norte da Nova Zelândia, explorando o divertido conceito de black water rafting. Na prática, esse “rafting em águas negras” significa uma imersão de três horas por um complexo de cavernas e rios subterrâneos, descendo corredeiras geladas sob a luz de glowworms (ou titiwai, no idioma nativo maori). Estes pequenos insetos são responsáveis por transformar um cenário frio e intimidador em uma passagem mágica e surreal pelas profundezas da província neozelandesa de Waitomo.
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Estamos a uma hora de carro ao sul de Hamilton – ou duas horas e meia para baixo de Auckland – nos vestindo para a aventura, na sede da agência The Legendary Black Water Rafting Co. Munidos de roupas de borracha, galochas de plástico duro, capacetes e lanternas de cabeça, partimos para a entrada da trilha, em meio à floresta de Waitomo, onde encontramos o item final da nossa missão: câmaras de pneus de caminhão infladas. De posse do nosso meio de transporte, passamos por um pequeno batismo nas águas do gelado rio Waitomo. E, logo depois, entramos, um a um, em um buraco no meio do mato. Dali para frente, a brincadeira começa pra valer.
Sob o olhar e os cuidados de dois jovens guias, nosso grupo começa a deslizar rio abaixo. Muitas vezes é preciso caminhar sem ver o chão. Em outros trechos, o melhor jeito de ultrapassar uma cascata subterrânea é pular de costas, confiando no amortecimento do seu pneu de caminhão. Entre escorregadas e mergulhos pelas águas que cortam essa formação rochosa milenar – criada há cerca de 30 milhões de anos, quando tudo isso ainda estava no fundo do mar –, o roteiro chega ao auge. Sem nenhuma luz acesa, todo o teto de pedras calcárias se ilumina com a ação dos glowworms. Os gritos e brincadeiras que tomam conta do passeio são calados por um longo silêncio, em contemplação e respeito e aos titiwai.
Na verdade, não são os pequenos insetos que estão ali nos dando boas vindas. A luz vem de suas larvas, depositadas principalmente pelas fêmeas como armadilha para alimentos. O processo de iluminação natural é parecido com os vagalumes, animais que costumamos ver com mais frequência. Os glowworms, no entanto, usam essa bioluminescência para atrair e fisgar outros insetos menores. Nossa visão deste jogo de caça e caçador fica ainda mais especial sabendo que esta espécie de glowworm (o nome científico é Arachnocampa luminosa) é exclusiva da Nova Zelândia e da Austrália, e este tipo de larva é endêmico desta região.
“Tudo isso está acessível hoje graças a um grupo de amigos locais que começou a explorar a área na década de 1980”, nos conta o brasileiro Leo Medina, responsável por vendas e roteiros em grupo na The Legendary Black Water Rafting Co, que também embarcou na aventura conosco. “O que começou como brincadeira, virou um dos passeios turísticos mais procurados e inusitados da Nova Zelândia”, completa Leo. O black labyrinth, nome oficial do nosso roteiro e caminho pioneiro do turismo nas cavernas da região, é um meio termo entre as opções pela área. Também é possível ver os glowworms em um mix de caminhada leve com passeio tranquilo de barco. A outra possibilidade, bem mais hardcore, é encarar o black abyss, ou abismo negro, que inclui trechos de rapel e tirolesa pelas profundezas de Waitomo.
*O jornalista viajou a convite da Tourism New Zealand