“Passei a vida entre uma dieta e outra para emagrecer. Tenho tendência a engordar, então já fiz dieta com nutricionista, endocrinologista, tudo o que você possa imaginar, e sempre linhas bastante restritivas. E, quando você começa uma dieta, é como se entrasse em uma bolha por alguns meses. Você fica naquela condição ideal, se privando. Nem sei quantas vezes fui dormir com fome”, conta a jornalista Ana Holanda.
Com a dieta, ela chegava a emagrecer e manter o peso por alguns meses. Mas, assim que a rotina voltava ao normal, engordava novamente.
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E a relação de Ana com dietas não é exceção. Isso porque diversas pesquisas vêm mostrando que, de certa forma, elas podem levar a um ganho de peso no longo prazo.
Dieta pode engordar e não emagrecer
De acordo com uma revisão de 31 estudos sobre dietas publicada em 2007, a maioria das pessoas que se submete a elas acaba ganhando os quilos que perderam. E ainda mais alguns dentro de quatro ou cinco anos.
Uma explicação é a de que as mudanças hormonais desencadeadas por dietas restritivas aumentam o nosso apetite.
Segundo um estudo australiano de 2011, os níveis hormonais dos participantes ainda não tinham se normalizado um ano após as dietas.
“A leptina, hormônio que regula o apetite, cai. E a grelina, que estimula o apetite, sobe depois da perda de peso”, afirma o autor da pesquisa, Joseph Proietto.
Além disso, o metabolismo também pode sentir efeitos da perda de peso. Uma pesquisa feita pelo Instituto Nacional da Saúde (NIH, na sigla em inglês) acompanhou 14 participantes do reality show de emagrecimento “The Biggest Loser”.
No programa, eles eliminaram, em média, 57 kg e 64% de gordura corporal. Mas 13 dos 14 competidores ganharam, 66% do peso que perderam. E, quatro deles ficaram com mais quilos do que tinham antes.
Por isso, a teoria de Kevin Hall, um dos autores do estudo, é a de que, quando você perde peso, seu metabolismo (energia gasta) em repouso desacelera. E esse mecanismo deve ser uma herança da época em que a escassez de comida era comum.
O mais alarmante para o pesquisador, porém, foi descobrir que, conforme os participantes ganhavam peso, a taxa metabólica não acelerava. Em vez disso, permanecia baixa, queimando cerca de 700 calorias a menos do que anteriormente.
Outro estudo, de 2012, acompanhou 4.000 gêmeos entre 16 e 25 anos. Os que realizaram dietas tiveram maior propensão a ganhar peso do que seus irmãos que não fizeram nada. Assim, a conclusão foi que a dieta é mesmo um fator de aumento de peso.
Outras consequências da dieta
Além dos níveis hormonais, existem outras questões que podem explicar essa relação, de acordo com pesquisas.
Fazer dieta pode ser estressante. A restrição de calorias produz hormônios do estresse, que agem nas células de gordura para aumentar a quantidade de gordura abdominal.
Pessoas que fazem dieta para emagrecer – e possuem ansiedade em relação ao peso – ainda têm maior predisposição a desenvolver o hábito de comer compulsivamente.
Outro problema é que as dietas podem reduzir a influência do sistema de regulação de peso do cérebro ao nos ensinar a confiar em regras, em vez de na fome, para controlar o que ingerimos.
Pessoas que seguem essas normas se tornam mais vulneráveis a fatores externos. Como pratos maiores, valores semelhantes para porções de diferentes tamanhos e restaurantes de “coma à vontade” por preço fixo – para decidir o que comer.
Alternativas à dieta
E é nessa tentativa de retomar a conexão com o corpo que algumas abordagens nutricionais focam.
“Na nossa sociedade, fomos perdendo contato com os nossos sinais internos de fome, vontade e saciedade. Mas sentir fome é como ter vontade de fazer xixi. É um sinal do corpo que você precisa atender”, explica Manoela Figueiredo, nutricionista clínica.
“A gente nasce sabendo o que e quando comer, mas vai perdendo a autonomia. Felizmente, isso é igual a andar de bicicleta. É rápido resgatar essa conexão com o corpo”, diz a nutricionista Márcia Daskal, da Recomendo Assessoria em Nutrição e Qualidade de Vida.
Nutrição amorosa
Por isso, Ana decidiu procurar Márcia no começo do ano depois de escrever o livro Minha Mãe Fazia (Rocco, 240 páginas, R$27,64). Nele, ela reúne receitas suas e de sua mãe. E na mesma época em que voltou a correr depois de anos de pausa após o nascimento de seus filhos.
“É um livro de gastronomia afetiva e de como a comida é um elo importante para a memória. Então não fazia mais sentido para mim seguir uma alimentação impessoal”, diz Ana.
Márcia segue o que chama de nutrição amorosa, baseada nas vontades do corpo e sem regras predefinidas.
“O objetivo é recuperar a autonomia sem ficar seguindo regras impostas, pois elas não servem para todos. Como vai ter uma regra para todos nós? Estamos caminhando para uma individualização genética. Porque o que é gostoso para mim não é para o outro. E o nosso corpo se comunica com a gente o tempo inteiro, precisamos escutá-lo.”
Nutrição comportamental
Essas abordagens acreditam em uma individualização do paciente e em uma preocupação que extrapola o fator biológico. Além disso, olha também para o lado social e psicológico da comida.
“A gente não acredita que as motivações venham do profissional. Ele inspira, dá caminhos, mostra alternativas. A vontade de se alimentar bem tem que vir muito do paciente. Só assim ele vai se tornar um comedor mais intuitivo. Alguém que respeite mais os sinais de fome e saciedade, que seja mais conectado com a comida. E que se livre desses sentimentos usuais da dieta: a culpa, os exageros, os preconceitos e mitos”, explica Cynthia Antonaccio, nutricionista esportiva da Equilibrium Consultoria e que segue a linha comportamental.
No caso da corrida, Cynthia acredita que às vezes os corredores focam muito no corpo, na alimentação e na hidratação. Isso por causa da busca pela performance. E aí, acabam se esquecendo de outros pontos.
“Eles não se lembram de outros momentos, do contato comportamental, da vida social e de como a comida faz parte disso”, diz Cynthia.
“Hoje, muitas vezes, o exercício virou desculpa para impor regras e padrões impossíveis de serem seguidos. Algumas pessoas que praticam esporte são mais forçadas ainda a se desconectarem do corpo por causa do ‘ah, você tem que comer isso, tomar aquilo’”, relata Márcia. E não é assim que as coisas devem funcionar.