Você é do tipo que sai de casa apressado, para trabalhar ou treinar, e simplesmente pula o café da manhã? Ou você é do tipo que faz jejum até a hora do almoço para ajudar a perder uns quilinhos?

Temos uma boa e uma má notícia. A má é que pular o desjejum aumenta suas chances de ter doenças cardíacas graves e inflamações – e faz pouquíssima diferença na dieta. A boa é que sempre dá tempo demudar seus hábitos.

Uma pesquisa publicada recentemente no periódico da Associação Americana de Cardiologia concluiu que pular o café da manhã aumenta em até 85% as chances de morte por doenças coronárias. Foram analisados 6.550 participantes por 23 anos. O estudo é considerado um dos mais conclusivos sobre o tema, mas outras pesquisas já apontavam para essa direção. A Faculdade de Saúde Pública de Harvard, nos EUA, publicou em 2013 um artigo no qual concluía que homens que não fazem a primeira refeição do dia têm até 27% mais chances de sofrer um ataque cardíaco.

Os cientistas analisaram os hábitos alimentares de 26.902 homens, entre 45 e 82 anos, por 16 anos. Destes, 1.572 tiveram algum tipo de problema cardíaco. Mesmo cruzando dados de outros maus hábitos, como tabagismo e vida sedentária, o jejum matinal persistiu em todos os casos.

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A refeição logo cedo, em especial aquela mais rica em carboidratos complexos e alimentos frescos, contribui para uma melhor disposição durante o dia e para equilibrar o metabolismo. “Temos um gasto energético que respeita o ciclo circadiano. A manhã é a hora em que precisamos de um maior aporte energético”, diz a nutricionista Andrea Zacccaro, presidente da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva. Nos últimos anos, popularizou-se entre atletas o treino em jejum. Segundo a nutricionista, a técnica não traz muitos ganhos para os atletas. Simula situações de estresse no organismo, como treinos de ultramaratona, em que a pessoa quer buscar o limite do corpo e aprender a funcionar naquela situação.

“Não há evidências de que funcione para melhorar a performance ou a saúde em geral,não há publicações densas que garantam os resultados de treinar em jejum. Nos casos de preparar o organismo para situações extremas, é preciso ser muito bem conduzido e orientado. O risco é maior do que o resultado quando não há acompanhamento adequado”, explica Andrea.

Evitar o café da manhã com a intenção de perder peso, segundo a ciência, não funciona. Pelo contrário, comer logo cedo é que ajuda. Cientistas da Universidade do Alabama em Birmingham, nos EUA, levantaram a hipótese após revisar 92 estudos sobre o tema e testar, por 16 semanas, 309 indivíduos. Eles não encontraram nenhuma diferença no ritmo de perda de peso entre o grupo que comia logo pela manhã e os que pularam a refeição.

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Em um outro estudo, da Universidade de Bath, na Inglaterra, foram analisados ciclistas que se alimentavam uma hora antes do pedal e se descobriu que houve um aumento na taxa de queima de carboidratos durante o exercício e na digestão e metabolização desse macronutriente na refeição pós-treino.

“Não é só o carboidrato ingerido na primeira refeição que é queimado. O carboidrato acumulado nos músculos na forma de glicogênio também teve a taxa de queima aumentada no exercício pós-desjejum”, diz Ron Edingburgh, um dos autores do estudo, ao periódico científico Science Daily.

Outra linha levantada por pesquisadores, mais simples, é a de que indivíduos em jejum tendem a comer mais na hora do almoço, o que pode ajudar no ganho de peso.

Para os cientistas, o melhor é você desfrutar de um tempo para si e tomar seu café da manhã com calma, priorizando alimentos frescos e evitando os ultraprocessados, sem se esquecer de uma fonte de carboidrato, como frutas e cereais integrais. Dê um bom dia para seu corpo.