Horários de sono tardios e maior variabilidade do sono são fatores de risco para certos problemas acadêmicos entre adolescentes. Esse foi o resultado de um estudo publicado na revista científica Sleep, que avaliou quase 800 estudantes de ensino médio nos EUA.
O estudo constatou que adolescentes que dormem e acordam tarde ou que não têm um horário fixo de sono apresentam notas mais baixas e têm maior probabilidade de serem suspensos ou expulsos da escola.
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Um outro estudo publicado na Nature Human Behavior em 2023 já havia constatado que os adolescentes estão enfrentando uma queda na qualidade do sono. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos é uma das principais causas. Segundo o estudo, 93,5% dos jovens dormem menos de sete horas por noite, o que pode afetar o desenvolvimento físico e mental.
No Brasil, mais de 70% dos adolescentes passam mais de quatro horas diárias em frente a telas, resultando em problemas como insônia. Essas atividades prolongadas podem alterar o ritmo circadiano, confundindo o cérebro sobre os horários de acordar e repousar.
Atividades noturnas sob luz intensa fazem o cérebro acreditar que ainda não é hora de dormir, resultando em mais tempo acordado até altas horas e sonolência no dia seguinte. Noites mal dormidas podem causar alterações de humor, aumento do risco de depressão e ansiedade, problemas de memória e queda de atenção e aprendizado. O déficit de sono repetido pode afetar o desenvolvimento cerebral.
Como reverter esse cenário?
Para enfrentar o problema da baixa qualidade do sono entre adolescentes, é fundamental estabelecer uma rotina de sono consistente e saudável. Uma das principais medidas é limitar o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir. Pais e responsáveis devem encorajar a criação de um ambiente livre de eletrônicos pelo menos uma hora antes de dormir, promovendo atividades relaxantes como leitura ou meditação.
Além de limitar o uso de dispositivos eletrônicos, é importante criar um ambiente propício ao sono. O quarto deve ser um local calmo, escuro e silencioso. Investir em cortinas blackout para bloquear a luz externa, usar protetores auriculares ou máquinas de ruído branco para abafar sons perturbadores, e garantir uma temperatura confortável pode fazer uma grande diferença na qualidade do sono. Estabelecer uma rotina de sono consistente, indo para a cama e acordando no mesmo horário todos os dias, incluindo fins de semana, ajuda a regular o relógio biológico.
A educação sobre a importância do sono é outro aspecto crucial, trazendo informações sobre os benefícios de uma boa noite de sono e os riscos associados à privação de sono, como problemas de humor, maior risco de depressão e ansiedade, dificuldades de concentração e aprendizado, além do impacto no desenvolvimento cerebral. Escolas e comunidades podem organizar palestras e workshops sobre higiene do sono para sensibilizar os jovens e suas famílias.
Os pais desempenham um papel vital na modelagem de comportamentos saudáveis. Eles devem não apenas estabelecer regras claras sobre o uso de dispositivos eletrônicos, mas também ser um exemplo positivo, aderindo a essas regras. Demonstrar a importância de desconectar-se dos eletrônicos antes de dormir e adotar uma rotina de sono regular pode influenciar significativamente os hábitos dos adolescentes. A comunicação aberta sobre os desafios e benefícios de um bom sono também pode fortalecer o compromisso familiar com uma rotina saudável.
E claro, deve-se considerar a saúde mental como parte integrante da solução. Se os adolescentes estão enfrentando estresse, ansiedade ou depressão, esses fatores podem exacerbar problemas de sono. Oferecer apoio emocional, promover atividades físicas regulares e, se necessário, buscar ajuda profissional de psicólogos ou psiquiatras podem ser passos essenciais para melhorar a qualidade do sono.
Um estilo de vida equilibrado, que inclua atividades relaxantes e um suporte adequado para a saúde mental, contribui significativamente para um sono reparador e, consequentemente, para o bem-estar geral dos adolescentes.
BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20 anos. Na Go Outside fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Instagram: @biancavilelaoficial e dúvidas para o e-mail bianca@biancavilela.com.br.